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Vinexpo/Bordeaux

Brasil busca reconhecimento como produtor de bons vinhos

Ainda pouco conhecidas no mercado internacional, vinícolas brasileiras aproveitam salões internacionais como a Vinexpo, inaugurada neste domingo em Bordeaux, no sul da França, para conquistar novos paladares e divulgar a imagem de que o país também sabe produzir vinhos e espumantes de qualidade e competitivos. A descoberta da produção brasileira tem surpreendido muitos profissionais do setor.

Franceses descobrem o vinho brasileiro em salão europeu
Franceses descobrem o vinho brasileiro em salão europeu Elcio Ramalho/RFI
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Conseguir um bom espaço na Vinexpo já é tarefa difícil. A maior vitrine mundial de vinhos, espumantes, entre outras bebidas alcoólicas, se espalha por 3 pavilhões que somados ocupam 96 mil metros quadrados destinados a acomodar os 2.400 expositores vindos de 47 países. A França, país anfitrião, ocupa a maior parte deste terreno dedicado a oferecer aos profissionais do setor a imensa variedade de vinhos produzidos em todo o planeta. É preciso atravessar corredores imensos e lotados, por onde desfilam garrafas dos melhores vinhos e champagnes não apenas franceses mas também dos vizinhos Argentina e Chile para se chegar ao estande Wines of Brasil.

A decoração com uma foto de um casal com taças na mão resume a intenção de divulgar uma imagem ainda muito pouco associada ao gigante quente e tropical da América do Sul: a de um país que consome e também produz vinho.

"A gente ainda está criando uma imagem do vinho brasileiro. A gente ainda é pouco conhecida a nível internacional”, explica Andreia Gentilini Milan, gerente de exportação da Wines of Brasil. "O nosso grande desafio é fazer com que o consumidor conheça e tenha acesso ao vinho brasileiro. Como a gente vai fazer isso? A gente sabe que tem que sensibilizar o ‘trade’, o comprador de vinhos. E onde eles estão? Em eventos como esse", afirma.

Das 36 vinícolas que participam do projeto Wines of Brasil, desenvolvido em conjunto pela Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil) e o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), apenas 7 decidiram participar da Vinexpo. Elas dão sequência a um trabalho iniciado em 2002 que visa divulgar a produção da viticultura brasileira em ações conjuntas como a participação em salões de referência internacional.

Entre as empresas que decidiram participar da Vinexpo está a Lídio Carraro, que apesar de ter criado sua marca apenas em 2004 já exporta para 17 países. A empresa familiar gaúcha já colhe os resultados de investimentos feitos em pesquisa e novas tecnologias como a da TPC (Thermal Pest Control) que utiliza um sistema de ar quente para eliminar o uso de agrotóxicos e pesticidas para se chegar a uma uva que a empresa gaúcha considera perfeita.

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Vinhos brasileiros conquistam paladares na Vinexpo em Bordeaux

"Temos uma filosofia purista, que é algo inédito e exclusivo do mercado. Não buscamos apenas dar a máxima sustentabilidade ao vinhedo, mas fazer todo um processo diferenciado”, diz Patrícia Carraro, gerente de exportação da empresa. «A gente já parte buscando uma excelência, uma uva perfeita.

Então na vinificação, a gente não usa correções que possam de alguma forma padronizar o vinho e fazer ele perder sua identidade e autenticidade", explica.

Segundo Patrícia, o vinho brasileiro ainda precisa conquistar o mercado externo para agradar também ao consumidor brasileiro. "O reconhecimento vem de fora. Aqui na Vinexpo, nosso vinho está exposto à crítica internacional. Então é bom para a imagem do Brasil como um todo", diz. “Uma das nossas contribuições é fazer um histórico de excelência no mercado internacional mas que reflita também no mercado interno", afirma.

"Os brasileiros já têm orgulho do vinho produzido no país, não por patriotismo mas pela qualidade. A gente já tem nossos vinhos em ranking, lado a lado com vinhos internacionais, então esta é a hora de se posicionar como vinho brasileiro no mercado”, acredita.

Desafio

Para este longo e paciente trabalho de posicionar os produtos brasileiros no competitivo mercado internacional, os vinhos e espumantes made in Brazil têm contado com dezenas de premiações em concursos internacionais e divulgação na crítica especializada que contribuem para dar mais visibilidade à produção brasileira. No primeiro dia da Vinexpo, diversos importadores, sommeliers e jornalistas especializados foram atraídos pela curiosidade em descobrir vinhos de um país com pouca tradição na bebida.

"Acabei de degustar dois vinhos brancos e dois tintos e estou agradavelmente surpreso. Primeiro porque não conhecia o vinho brasileiro de marcas que não conhecidas na França. O Chardonnay e o Sauvigon são finos assim como os encontramos aqui na região de Bordeaux", diz o importador francês Laurent Benoît. “Merece ser conhecido porque realmente é muito bom”, concluiu.

“Estou também surpresa Trata-se de um vinho com um bom aroma”, resumiu Elodie Molina, importadora francesa também se mostrou impressionada após ter testado vinho tinto brasileiro pela primeira vez.

Outra francesa, a jornalista Sophie Senty, prometeu dedicar um artigo aos vinhos brasileiros após uma visita ao estande Wines of Brazil.

"Eu provei o vinho brasileiro pela primeira vez e gostei. Eu degustei um vinho da região sul, e achei um vinho muito elegante. Provei também outro vinho da região norte, com uma característica diferente”, comentou. “Muitos vinhos são feitos a partir de castas francesas,portuguesas e italianas, e percebi também que são vinhos muito jovens e que têm ainda muito coisa para ser desenvolvida e isso é interessante”, afirmou.

As reações positivas não surpreendem mais o sommelier Vinícius Santiago da vinícola gaúcha Salton. “Primeiro é de choque porque não sabiam que o Brasil produzia vinho e depois vem a grande curiosidade de querer saber o que o Brasil produz, onde e como é produzido”, explica. "Tudo isso bem explicado gera bons resultados. A maioria das pessoas gosta e pelo menos com um vinho eles saem satisfeitos”, afirma.

Autenticidade

Importadores suecos degustam vinho brasileiro
Importadores suecos degustam vinho brasileiro Elcio Ramalho/RFI

Depois de viver oito anos no Brasil, o sommelier americano Krunch Kretchmar virou um grande divulgador dos vinhos brasileiros nos Estados Unidos e fez questão de levar importadores para conhecer as vinícolas brasileiras presentes na Vinexpo. "Nos Estados Unidos, quando se fala em vinho da América do Sul, só lembram do Chile e Argentina", conta ele, que diz adorar o vinho brasileiro. "É um vinho muito bom. Quando ofereço vinho brasileiro para meus amigos, eles bebem, gostam mas não tem onde comprar depois”, lamenta.

Ao lado, um grupo de importadores suecos também veio experimentar a produção brasileira. Desde que o governo sueco abriu o controlado mercado de bebidas alcoólicas até pela internet , os compradores querem ampliar a variedade de opções aos clientes e colocaram no alvo os produtos brasileiros.

"O vinho brasileiro é completamente desconhecido na Suécia. Talvez depois dessa visita na Vinexpo, possamos mudar as coisas e depois de prová-los talvez possamos levar alguns e vendê-los até pela internet", disse o jornalista Larne Wallisson que levou ao estande uma das maiores especialistas de vinho do país.

My Nilsson que passa seu tempo entre a França e a Suécia, mostrou-se reservada ao opinar sobre o vinho brasileiro tendo apenas degustado uma marca. "Eu não conhecia mas ouvi dizer que se faz um bom vinho e bem interessante no Brasil. Por enquanto não há uma imagem definida e ainda precisa ser formada", disse.

"Provei apenas um vinho e esperava mais uma característica brasileira. Se eu vou buscar trazer um vinho de longe, como do Brasil, não quero trazer um vinho que tenha o mesmo sabor que temos aqui an Europa. Eu gostei muito e achei o aroma agradável, mas é um vinho que precisa buscar sua autenticidade", sugeriu.

Estilo brasileiro

O crescente interesse pelos vinhos brasileiros tem se traduzido em negócios já que o país tem a perspectiva de aumentar em 90 % as exportações este ano em comparação com o ano passado. Se os mercados europeus e americano continuam sendo os alvos principais, a expectativa é de ampliar os horizontes com uma estratégia baseada em uma imagem diversificada e associada à qualidade.

"Muitos países têm como estratégia um produto só. O Brasil nunca vai conseguir fazer isso porque é um país muito grande e diverso. A gente quer mostrar que existe uma diversidade, mas o que queremos mostrar também é que temos um estilo. O estilo do vinho brasileiro é fresco, leve, bem equilibrado ; um vinho que a pessoa tenha prazer em beber muito mais que uma taça", diz a gerente de exportações da Wines of Brasil, Andreia Gentilini Milan.

“O Brasil tem ganhado muito destaque nos espumantes da Serra Gaúcha, o Merlot, o Cabernet…a gente tem projetos como o das castas portuguesas e tem variedades diferentes, como as italianas. A gente tenta mostrar algo diferente", explica.

"A gente não está brigando por grandes exportações em massa e sim buscando o nosso lugar, o nosso posicionamento. Queremos ter o vinho reconhecido pelo mundo dentro de algumas categorias, com valor agregado, com custo benefício interessante, e que as pessoas tenham essa imagem do Brasil. O crescimento vai ser, com certeza, uma consequência disso tudo”, concluiu.

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