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Noruega/Mediação

Oslo é palco de negociações entre representantes do governo venezuelano e opositores

Representantes do governo da Venezuela e a chamada "parte democrática" da oposição – não apoiada pelos Estados Unidos e sem a participação de Juan Guaidó e seus partidários – teriam se reunido esta semana na cidade de Oslo, na Noruega. O encontro pode ser considerado um avanço nas negociações, ainda que visto com prudência pelos especialistas, após os atos de violência ocorridos nos últimos meses na Venezuela.

O ministro da Comunicação venezuelano, Jorge Rodríguez, é apontado como um dos negociadores de Nicoláas Maduro na mediação com parte da oposição, na Noruega.
O ministro da Comunicação venezuelano, Jorge Rodríguez, é apontado como um dos negociadores de Nicoláas Maduro na mediação com parte da oposição, na Noruega. Fuente: AFP.
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"Sim, estão acontecendo discussões entre o governo bolivariano e os democráticos da oposição", declarou à imprensa o embaixador Jorge Valero, confirmando a informação divulgada por diversas fontes da oposição. "Há uma oposição que pode ser classificada como democrática, mas há uma outra que não passa de uma marionete do império americano", acrescenta Valero. "Eu posso confirmar que existe um diálogo, mas não posso entrar em detalhes", concluiu o diplomata, que considera Donald Trump um "criminoso de guerra".

A crise política na Venezuela é motivada pelo embate entre Nicolás Maduro, que assumiu a presidência desde a morte de seu mentor Hugo Chávez, em 2013, e pelo deputado de centro-direita Juan Guaidó, à frente do Parlamento, e que em janeiro se autodeclarou presidente interino, sendo assim reconhecido por cerca de 50 países, inclusive os Estados Unidos.

O líder opositor classifica Maduro como "usurpador" desde as eleições presidenciais "fraudulentas" de maio de 2018, boicotadas pela oposição, e que permitiu ao chefe de Estado socialista se manter no poder.

De acordo com a empresa pública de comunicação NRK, as negociações de Oslo, em local não revelado, ocorreram ao longo de "diversos dias" e as duas delegações devem retornar à Caracas nesta quinta-feira.

Diversas mídias sul-americanas, como o jornal ALnavío, destacam que essas discussões seriam as primeiras desde o levante de 30 de abril, liderado por Guaidó.

De acordo com diferentes veículos de imprensa, teriam participado, por parte do governo, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, e o governador da província de Miranda, Hector Rodríguez. A oposição teria sido representada pelo ex-deputado Gerardo Blyde, pelo ex-ministro Fernando Martinez Mottola, além do vice-presidente do Parlamento Stalin González.

Otimismo prudente

Muitas declarações confirmam que as negociações realmente teriam ocorrido. Jorge Rodríguez está "no exterior para uma missão muito importante", afirmou Maduro na última quarta-feira. "As partes envolvidas, o Reino Unido, a Noruega e o Grupo de Lima, assim como outras iniciativas, nos ajudam a encontrar uma solução para a crise", publicou Guaidó em seu perfil no Twitter. O chamado Grupo de Lima é formado, entre outros, por Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Peru.

País que acolhe o Prêmio Nobel da Paz e onde foram negociados os acordos israelo-palestinos nos anos 1990, a Noruega tem uma longa tradição como mediadora em processos de paz ao redor do mundo, a exemplo do sucesso nas discussões entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), em 2016.

Enquanto muitos Estados europeus reconhecem Guaidó, o país escandinavo se contenta com a convocação de novas eleições livres, uma posição percebida como a intenção de atuar como intermediário entre os dois campos. A chefe da diplomacia norueguesa, Ine Marie Eriksen Soreide, afirmou que seu país estaria "pronto para contribuir se e quando as partes quisessem".

As informações sobre as negociações foram bem-recebidas, embora com cautela, por especialistas noruegueses em questões sul-americanas.

"É arriscado atribuir muita importância", afirmou Benedicte Bull, professora da Universidade de Oslo. "É muito positivo que as duas partes conversem, mas é importante não criar muitas esperanças […]: houve discussões formais três vezes no passado, mas elas fracassaram rapidamente". "A situação é realmente crítica hoje e é importante que alguma coisa seja feita", ela declarou à AFP.

O mesmo sentimento de precaução é manifestado por Leiv Marsteintredet, professor na Univesidade de Bergen. "Ainda se está em um estado precoce, então eu acho que é fora da realidade ter expectativa de resultados rápidos", explicou à AFP. "Mas que as duas partes desejem dialogar é uma mudança recente, que pode justificar um otimismo prudente."

À crise política, cercada de violência e que já fez dezenas de mortos, se soma a pior crise econômica da história recente deste país onde, de acordo com a ONU, 7 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população, precisam urgentemente de ajuda humanitária.

Embaixada da Venezuela em Washington

Também nesta quinta-feira, o representante do líder da oposição venezuelana nos Estados Unidos anunciou que a embaixada venezuelana em Washington, que havia sido tomada por ativistas pró-Maduro por semanas, foi "liberada".

"A liberação de nossa embaixada aconteceu graças à luta da diáspora venezuelana que, com sacrifício, permaneceu do lado de fora contra todas as adversidades", disse no Twitter Carlos Vecchio, reconhecido pelo governo dos Estados Unidos como embaixador da Venezuela.

Com agências internacionais

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