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Crise/Nicarágua

Nicarágua: o sofrimento das famílias de refugiados na Costa Rica

Durante os últimos três meses, a Nicarágua vem sendo fustigada por uma violenta crise política e social. A repressão do governo Ortega já custou mais de 350 vidas. O presidente, que se recusa a deixar o poder, também reconheceu pela primeira vez a responsabilidade pela morte de 195 manifestantes, em entrevista à CNN em espanhol. Mas a situação está longe de se acalmar e afeta com uma intensidade sem precedentes a América Central, especialmente a vizinha Costa Rica.

Refugiados nicaraguenses na cidade de Penas Blancas, na Costa Rica, em 26 de julho de 2018.
Refugiados nicaraguenses na cidade de Penas Blancas, na Costa Rica, em 26 de julho de 2018. 2018.REUTERS/Oswaldo Rivas
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Léa Morillon, enviada especial da RFI aSan José

Todos os dias, muitos nicaraguenses se vêem obrigados a fugir da repressão. Por causa de sua estabilidade política e pela proximidade geográfica, a Costa Rica vê afluir milhares de imigrantes em seu território, em busca de asilo, durante os últimos três meses.

Recém-chegada em San José, uma família de Masaya concordou em conversar com a RFI, mas preferiu permanecer anônima por medo de represálias. O filho participou dos protestos no dia 19 de abril. "Os aliados do regime estão tentando destruir, matar todos aqueles que são contra o governo de Ortega. E é difícil ver seus amigos caírem, quando eles os matam ... Vê-los morrer, matar uns aos outros, pedir ajuda, gritar ... É horrível!", afirmou a mãe.

"Então tivemos que sair", continua ela. “Eu pedi ajuda do meu irmão que mora na Costa Rica. Eu disse a ele: 'por favor, ajude-nos'! É por isso que estamos aqui, estamos pedindo asilo, porque na Nicarágua é impossível viver", denunciou.

Três mil atravessam a fronteira todas as semanas

A família teve que fugir durante a operação de Masaya, deixando para trás três crianças. Para essa mãe e seu filho de 20 anos, é difícil conter as lágrimas. O pai tenta controlar suas emoções. "Nós nunca saímos da Nicarágua. Nunca! Portanto, não temos nem passaporte nem nada. Nós partimos com o que nós tínhamos em nossos bolsos. Nós deixamos tudo para trás", desabafa. Como milhares de nicaraguenses, a família teve que deixar o país ilegalmente.

Além da ajuda financeira da Costa Rica, a família encontrou apoio da associação Cenderos, que ajuda os requerentes de asilo há mais de vinte anos. Para a coordenadora da ONG, Marisela Hinkelammert, o Estado tem demorado para implantar estruturas para a recepção dos migrantes. Ela reconhece hoje que, na fronteira, a situação está melhorando.

"As coisas melhoraram porque as horas de abertura foram muito limitadas. As pessoas tinham que passar a noite na fronteira, antes de serem cuidadas, com crianças. Mas não mais. Hoje, os agentes os recebem das 8h da manhã até a meia-noite, em condições adequadas. A entrevista é agora feita em um escritório fechado. Então, há melhorias. E o Departamento de Imigração da Costa Rica abriu dois abrigos para abrigar os migrantes, para que eles não fiquem mais desalojados", diz Hinkelammert.

Repercussões econômicas da crise na Nicarágua

Além da abertura de dois albergues, a Costa Rica implementou um mecanismo para a gestão dos fluxos migratórios, a fim de fornecer os serviços necessários aos requerentes de asilo. Mas para o governo, a crise migratória não é a única preocupação.

A situação na Nicarágua tem um impacto sem precedentes na economia do país e da região, particularmente por causa da impossibilidade de usar as estradas da Nicarágua, explica Epsy Campbell, vice-presidente e ministro das Relações Exteriores.

"A Nicarágua é um dos parceiros comerciais mais importantes da Costa Rica. Como resultado, a crise da Nicarágua leva a uma diminuição do comércio entre os dois países. Em segundo lugar, 40% da produção industrial da Costa Rica é exportada para o norte da América Central, incluindo a Nicarágua. Então, muitas exportações estancaram. Além disso, há cada vez menos empregos na Nicarágua. E isso também gera pressão econômica aqui", declarou.

Para compensar as perdas econômicas da região, da ordem de mais de US$ 21 milhões, os Estados da América Central estabeleceram uma nova rota marítima entre a Costa Rica e El Salvador, mas esperam, acima de tudo, poder sair da crise rapidamente.

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