Partidários de Trump querem manter bloqueio econômico a Cuba
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A morte do maior ícone da Revolução Cubana, Fidel Castro, aumentou a incerteza em relação aos rumos da aproximação entre Washington e Havana, iniciada há dois anos pelos governos de Barack Obama e Raúl Castro.
Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York
Enquanto centenas de cubano-americanos festejavam o falecimento do homem que governou Cuba com mão de ferro por 49 anos, de 1959 a 2008, o presidente-eleito Donald Trump classificou Fidel como “ditador brutal”.
Líderes republicanos afinados com a imensa comunidade de exilados cubanos nos EUA, como os senadores Marco Rúbio e Ted Cruz, pressionam pela continuação do bloqueio econômico americano a Cuba até que o país se transforme em uma democracia liberal. Nos dois lados do espectro político aqui nos EUA, no mundo acadêmico, na imprensa e nas ruas da Grande Miami, onde 30% da população é de origem cubana, o impacto da morte de Fidel Castro foi enorme, percebida como o fim de uma era.
Também é clara a noção de que a maior mudança, no que diz respeito ao futuro da ilha e das relações de Washington com Havana e com a América Latina, se deu mesmo no início do mês, com a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA.
O comandante da Revolução Cubana já estava de fato afastado do governo desde 2006 e nunca é demais lembrar que em sua visita histórica a Havana em março deste ano, a primeira de um presidente americano a Cuba em quase nove décadas, Barack Obama nem se encontrou com Fidel. Mas com Trump, a histórica aproximação dos dois países, realizada com mediação do papa Francisco, e que repercutiu positivamente na América Latina, está sim ameaçada.
A chefe da campanha de Trump, Kellyanne Conway, afirmou no domingo que o presidente dos EUA ainda é Obama e que Trump só anunciará medidas relacionadas à nova política externa dos EUA após sua posse, no dia 20 de janeiro. Mas Reince Priebus, que assume com Trump posto equivalente ao de ministro-chefe da Casa Civil no Brasil, já adiantou que “para manter o diálogo iniciado por Obama com Cuba será preciso abertura democrática, libertação dos presos políticos, fim da repressão e ampla liberdade de expressão”, postura similar à de quase todos os governos anteriores ao de Obama nos EUA.
Trump diz que fechará embaixada americana em Havana
Durante a campanha, Trump prometeu à comunidade cubana da Flórida o fechamento da embaixada americana em Havana, reaberta depois que os dois países restabeleceram relações diplomáticas, em janeiro de 2015.
Os cubano-americanos são apenas 1,3 milhões de cidadãos, mas sua importância é enorme pelo fato de estarem concentrados na Flórida, um estado que Trump venceu apertado e foi fundamental para a conquista da maioria dos delegados no Colégio Eleitoral.
Ao contrário dos demais eleitores de origem latino-americana, que votaram em peso em Hillary Clinton, 58% dos cubano-americanos escolheram Trump para presidente e já estavam, neste fim de semana, nas ruas de Little Havana, em Miami, celebrando a morte de Fidel e cobrando a conta de 8 de novembro: já que foram fundamentais para eleger Trump, eles agora querem ver a Casa Branca pressionando o governo de Raúl Castro, econômica e politicamente, trabalhando dia e noite para sua queda.
A reação de Havana não deverá ser das mais amistosas. Uma das primeiras consequências, se Trump de fato interromper a política de aproximação com Cuba, deverá ser a interrupção dos primeiros voos comerciais regulares entre os dois países e o fim da possibilidade de investimento americano na ilha, o que não vai agradar a setores importantes da economia americana.
A cobertura da imprensa americana foi de fôlego, com programas especiais, artigos, entrevistas, reinterpretações de capítulos importantes da Guerra Fria, como a fracassada invasão americana da Baía dos Porcos, as tentativas de assassinato de Fidel pela CIA, a possível participação de Cuba no assassinato do presidente John Kennedy, o papel decisivo dos cubano-americanos na vitória de George W. Bush sobre Al Gore em 2000, as muitas histórias dramáticas de refugiados e perseguidos pelo regime comunista de Havana e até primeiras páginas históricas, como a edição especial de domingo do “Miami Herald” toda tomada por duas palavras, “Fidel Morreu”, em letras garrafais.
Líder morre no feriado de Ação de Graças
A morte do “Comandante” se deu justamente no fim de semana do mais importante feriado americano, o Dia de Ação de Graças. Pois até em seu último ato Fidel pode ter influenciado, quase sem querer, o destino de sua nêmeses política, os EUA. É que neste momento há uma queda-de-braço entre conservadores e moderados do Partido Republicano pelo posto de Secretário de Estado do governo Trump.
Os mais direitistas querem emplacar o ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, e os moderados apostam todas as fichas no ex-governador de Massachusetts Mitt Romney. Giuliani segue a linha do senador Marco Rubio, que considerou a reação oficial de Barack Obama à morte de Castro, “patética”, por não citar os “crimes cometidos por um ditador sangrento”.
Rubio e Cruz lideram o grupo que pressionam para que Obama não envie um representante oficial para o funeral de Fidel Castro, no próximo domingo. Já Romney, um homem do mundo dos negócios, quer posicionar melhor os EUA para a realidade inevitável de uma Cuba gradativamente mais aberta ao capitalismo, e, claro, com um manancial de possibilidades econômicas para Washington.
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