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Linha Direta

Partidários de Trump querem manter bloqueio econômico a Cuba

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A morte do maior ícone da Revolução Cubana, Fidel Castro, aumentou a incerteza em relação aos rumos da aproximação entre Washington e Havana, iniciada há dois anos pelos governos de Barack Obama e Raúl Castro.  

Anúncio da morte do líder revolucionário cubano Fidel Castro em Times Square, Manhattan em Nova York, nos EUA, em 26 de novembro de 2016.
Anúncio da morte do líder revolucionário cubano Fidel Castro em Times Square, Manhattan em Nova York, nos EUA, em 26 de novembro de 2016. REUTERS/Darren Ornitz
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

Enquanto centenas de cubano-americanos festejavam o falecimento do homem que governou Cuba com mão de ferro por 49 anos, de 1959 a 2008, o presidente-eleito Donald Trump classificou Fidel como “ditador brutal”.

Líderes republicanos afinados com a imensa comunidade de exilados cubanos nos EUA, como os senadores Marco Rúbio e Ted Cruz, pressionam pela continuação do bloqueio econômico americano a Cuba até que o país se transforme em uma democracia liberal. Nos dois lados do espectro político aqui nos EUA, no mundo acadêmico, na imprensa e nas ruas da Grande Miami, onde 30% da população é de origem cubana, o impacto da morte de Fidel Castro foi enorme, percebida como o fim de uma era.

Também é clara a noção de que a maior mudança, no que diz respeito ao futuro da ilha e das relações de Washington com Havana e com a América Latina, se deu mesmo no início do mês, com a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA.

O comandante da Revolução Cubana já estava de fato afastado do governo desde 2006 e nunca é demais lembrar que em sua visita histórica a Havana em março deste ano, a primeira de um presidente americano a Cuba em quase nove décadas, Barack Obama nem se encontrou com Fidel. Mas com Trump, a histórica aproximação dos dois países, realizada com mediação do papa Francisco, e que repercutiu positivamente na América Latina, está sim ameaçada.

A chefe da campanha de Trump, Kellyanne Conway, afirmou no domingo que o presidente dos EUA ainda é Obama e que Trump só anunciará medidas relacionadas à nova política externa dos EUA após sua posse, no dia 20 de janeiro. Mas Reince Priebus, que assume com Trump posto equivalente ao de ministro-chefe da Casa Civil no Brasil, já adiantou que “para manter o diálogo iniciado por Obama com Cuba será preciso abertura democrática, libertação dos presos políticos, fim da repressão e ampla liberdade de expressão”, postura similar à de quase todos os governos anteriores ao de Obama nos EUA.

Trump diz que fechará embaixada americana em Havana

Durante a campanha, Trump prometeu à comunidade cubana da Flórida o fechamento da embaixada americana em Havana, reaberta depois que os dois países restabeleceram relações diplomáticas, em janeiro de 2015.
Os cubano-americanos são apenas 1,3 milhões de cidadãos, mas sua importância é enorme pelo fato de estarem concentrados na Flórida, um estado que Trump venceu apertado e foi fundamental para a conquista da maioria dos delegados no Colégio Eleitoral.

Ao contrário dos demais eleitores de origem latino-americana, que votaram em peso em Hillary Clinton, 58% dos cubano-americanos escolheram Trump para presidente e já estavam, neste fim de semana, nas ruas de Little Havana, em Miami, celebrando a morte de Fidel e cobrando a conta de 8 de novembro: já que foram fundamentais para eleger Trump, eles agora querem ver a Casa Branca pressionando o governo de Raúl Castro, econômica e politicamente, trabalhando dia e noite para sua queda.

A reação de Havana não deverá ser das mais amistosas. Uma das primeiras consequências, se Trump de fato interromper a política de aproximação com Cuba, deverá ser a interrupção dos primeiros voos comerciais regulares entre os dois países e o fim da possibilidade de investimento americano na ilha, o que não vai agradar a setores importantes da economia americana.

A cobertura da imprensa americana foi de fôlego, com programas especiais, artigos, entrevistas, reinterpretações de capítulos importantes da Guerra Fria, como a fracassada invasão americana da Baía dos Porcos, as tentativas de assassinato de Fidel pela CIA, a possível participação de Cuba no assassinato do presidente John Kennedy, o papel decisivo dos cubano-americanos na vitória de George W. Bush sobre Al Gore em 2000, as muitas histórias dramáticas de refugiados e perseguidos pelo regime comunista de Havana e até primeiras páginas históricas, como a edição especial de domingo do “Miami Herald” toda tomada por duas palavras, “Fidel Morreu”, em letras garrafais. 

Líder morre no feriado de Ação de Graças

A morte do “Comandante” se deu justamente no fim de semana do mais importante feriado americano, o Dia de Ação de Graças. Pois até em seu último ato Fidel pode ter influenciado, quase sem querer, o destino de sua nêmeses política, os EUA. É que neste momento há uma queda-de-braço entre conservadores e moderados do Partido Republicano pelo posto de Secretário de Estado do governo Trump.

Os mais direitistas querem emplacar o ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, e os moderados apostam todas as fichas no ex-governador de Massachusetts Mitt Romney. Giuliani segue a linha do senador Marco Rubio, que considerou a reação oficial de Barack Obama à morte de Castro, “patética”, por não citar os “crimes cometidos por um ditador sangrento”.

Rubio e Cruz lideram o grupo que pressionam para que Obama não envie um representante oficial para o funeral de Fidel Castro, no próximo domingo. Já Romney, um homem do mundo dos negócios, quer posicionar melhor os EUA para a realidade inevitável de uma Cuba gradativamente mais aberta ao capitalismo, e, claro, com um manancial de possibilidades econômicas para Washington.
 

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