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EUA

Uma década depois do Katrina, Nova Orleans renasce, mas sofre com a desigualdade

No dia 29 de agosto de 2005, o furacão Katrina atingiu o sudeste dos Estados Unidos, principalmente o estado da Luisiana, provocando estragos de uma proporção jamais vista. Construída abaixo do nível do mar, Nova Orleans teve 80% de seu território atingido. Uma década depois, a cidade conseguiu recuperar parte de seu brilho.

Vista aérea do centro de de Nova Orleans com seu estádio Superdome.
Vista aérea do centro de de Nova Orleans com seu estádio Superdome. REUTERS/Carlos Barria
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por Christophe Carmarans, repórter da RFI francesa.

O Katrina foi um furacão em todos os sentidos da palavra. Primeiro, foi um furacão meteorológico, um ciclone de nível 5, um dos seis mais fortes já registrados, com ventos que sopraram a 280km/h, ondas de mais de 10 metros e um dilúvio interminável. Alguns bairros da cidade quase tricentenária foram submersos em até seis metros depois que os diques que deveriam proteger a cidade acabaram cedendo.

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Nova Orleans, 10 anos depois

Em seguida, o furacão meteorológico se tornou um furacão logístico: 15 milhões de pessoas evacuadas às pressas em direção aos estados vizinhos, outras empoleiradas nos tetos de suas casas esperando por ajuda, além da infra-estrutura completamente comprometida pela catástrofe natural, considerada a mais cara da história do Estados Unidos, com seus US$ 150 bilhões de prejuízo.

Por fim, o furacão político, com o governo sendo considerado lento demais em sua reação, e a imagem de George W. Bush sobrevoando as áreas atingidas se tornando um símbolo de uma administração desconectada da população americana. O balanço final ficou em 1836 mortos, sendo 1577 na Luisiana, além de 705 pessoas desaparecidas.

Reconstrução

Uma década depois, as cicatrizes deixadas pelo Katrina ainda são visíveis nos locais por onde passou, já que a reconstrução de prédios, linha elétricas e diques ainda não está totalmente finalizada. Mas foi uma cidade que está renascendo que o presidente Barack Obama encontrou na última quinta-feira (27), em sua nona visita desde que assumiu a Casa Branca, em 2009.  Alguns classificam a economia local de “florescente”, graças à reconstrução do centro da cidade, que recebeu novos hotéis e restaurantes, com o turismo se tornando um dos principais mercados.

“Estamos mais fortes hoje, mas ainda não terminou. Ainda temos muito trabalho”, afirma o prefeito democrata Mitch Ladrieu, que teve a dura missão de suceder Ray Nagin, que administrava a cidade à época da catástrofe e que hoje cumpre pena de 10 anos de prisão por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro.  Depois de passar um tempo quase deserta, Nova Orleans agora tem praticamente a mesma população de antes do furacão, cerca de 1,25 milhão. Mas os US$ 135 bilhões injetados na economia local para recuperar a região não beneficiou a todos.

A economia se recuperou, com uma das mais baixas taxas de desemprego dos Estados Unidos, mas os trabalhos bem remunerados são raros, e a classe média tem dificuldade de se reerguer. Muitos membros da comunidade negra da cidade não retornaram, depois de perderem tudo, já que a maioria não possuía qualquer tipo de seguro. Os que ficaram na cidade não conseguem aproveitar a alta da economia porque ficaram com os piores empregos.

Ainda muito desigual

Barack Obama condenou, em seu discurso da quinta-feira, as desigualdades estruturais que “deixaram as pessoas negras e pobres sem emrpego, proteção social e habitação decentes”. Alguns números ilustram bem: Nova Orleans era, em 2014, a segunda cidade mais desigual do país, atrás apenas de Atlanta, com taxa de pobreza de 28,7% da população. A expectativa de vida varia de 54 a 79 anos, dependendo do bairro em que vive a pessoa – uma impressionante diferença de 25 anos.

Por causa de suas características, sua história e seu multiculturalismo, a “pérola da Luisiana” atraiu a simpatia do mundo todo, gerando iniciativas coletivas ou individuais, como a do ator Brad Pitt, que perfmitiram à cidade se reerguer. “Uma década depois, a cena musical está de volta e, em muitos aspectos, está até melhor do que antes”, disse o saxofonista Brandford Marsalis à TV CNN. Com ajuda de outros músicos de jazz, entre eles Harry Conick Jr, ele criou uma escola de música na 9th Ward Disctrict, o bairro mais afetado pela catástrofe. Uma iniciativa entre muitas outras que estão ajudando a capital do jazz voltar a cantar.

 

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