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Estados Unidos/Islã

Pastor desiste de queimar o Alcorão mas protestos continuam intensos

Depois de muita hesitação, o pastor evangélico americano Terry Jones disse, nesta sexta-feira, que desistiu de queimar exemplares do livro sagrado dos muçulmanos no sábado 11 de setembro. Mas o pastor conseguiu irritar milhares de muçulmanos em vários países. Uma base militar da OTAN no Afeganistão foi apedrejada por afegãos indignados com o projeto. No Paquistão, bonecos do pastor foram queimados nas ruas.

O pastor Terry Jones fala à imprensa em Gainesville, na Flórida.
O pastor Terry Jones fala à imprensa em Gainesville, na Flórida. Reuters
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Cleide Klock, correspondente da RFI em Nova York

O pastor de uma Igreja Baitsta da Flórida que teve a ideia de queimar o Alcorão para prestar uma homenagem às vítimas do 11 de setembro, celebrado neste sábado, teria desistido da ideia, segundo ele mesmo informou em entrevista à tevê americana ABC. Mas depois das hesitações do pastor nos últimos dias, a tensão ainda é grande nos países com uma grande comunidade muçulmana.

Nesta sexta-feira, data que marca o fim do Ramadã, o jejum sagrado dos seguidores do Islã, Susilo Bambang Yudhoyono, presidente da Indonésia, o país com a maior população muçulmana no mundo, disse que o projeto do pastor americano era uma ameaça à paz mundial. Em entrevista à televisão do país, o presidente indonésio falou do perigo que o ato representa para a harmonia entre as religiões.

No Afeganistão, o presidente Hamid Karzai disse que o pastor americano nem deveria pensar em lançar livros às chamas. A declaração foi feita após as orações que marcam o início de uma festividade religiosa para celebrar o fim do Ramadã. Perto de Khunduz, na região nordeste do Afeganistão, moradores indignados com o projeto do pastor jogaram pedras contra uma base da OTAN.

Ontem, nos Estados Unidos, o pastor Terry Jones deu declarações contraditórias sobre seu projeto. Pouco depois de anunciar o cancelamento, o pastor disse que iria reavaliá-lo. Ele falou também em "suspensão provisória". Quando declarou que tinha desistido do ato, deu como razão um acordo que havia fechado com líderes muçulmanos americanos que tinham renunciado à construção de um centro islâmico perto do Marco Zero em Nova York. O acordo foi negado pelos responsáveis do projeto.

Na quinta-feira, um carro circulando nos arredores do antigo World Trade Center, em Nova York, trazia a frase "Islamismo é uma falsa religião – vamos parar com a insanidade".
Na quinta-feira, um carro circulando nos arredores do antigo World Trade Center, em Nova York, trazia a frase "Islamismo é uma falsa religião – vamos parar com a insanidade". C. Klock

As declarações por parte dos assessores do centro, que diziam que não existia acordo nenhum, irritaram o pastor, que falou: "somos obrigados a reconsiderar nossa decisão, porque ela era baseada na palavra do imã Feisal Abdul Rauf. Entendo que agora estão recuando e dizendo que não é nada disto". Terry Jones afirmou ainda que marcou um encontro com o imã no próximo sábado, em Nova York, para discutir a questão.

O Pentágono divulgou que o secretário de Defesa Robert Gates telefonou para Jones alertando dos riscos de levar a empreitada adiante. O reverendo já havia sinalizado que poderia voltar atrás caso o presidente Barack Obama fizesse um pedido nesse sentido. A Interpol chegou a emitir uma alerta a 188 países, anunciando que se houver a queima do Alcorão há uma grande possibilidade de atentados terroristas.

Em Nova York, a quinta-feira foi de protestos nas ruas próximas do local onde será construído o centro islâmico. Grupos pró e contra o projeto fizeram diversas manifestações – muitas delas islamofóbicas. A liberdade de expressão tão conclamada no país e que está descrita na Constituição, em muitos casos atravessa a barreira do bom senso.

Atualmente, muitos americanos julgam o Islã pelos atos dos terroristas. A esperança é que outras tragédias não aconteçam, por ações provocadas por outros fanáticos – nesse caso o pastor evangélico, que inconsequentemente usa a liberdade de expressão para atrair holofotes sem medir consequências.

Celebrações do 11 de setembro nos Estados Unidos

No local onde existiam as torres gêmeas, vai acontecer neste sábado a tradicional leitura dos nomes das vítimas do atentado, homenagem repetida a cada ano. A zona vai ficar fechada à circulação e o policiamento foi reforçado para impedir a entrada de manifestantes. O vice-presidente americano Joe Biden vai participar da homenagem. Michelle Obama na companhia da ex-primeira-dama Laura Bush irá à Pensilvânia, onde assistiráà inauguração de um monumento em memória das vítimas do voo 93, que se acidentou em Shanksville. O presidente Barack Obama passará o nono aniversário dos atentados de 11 de setembro no Pentágono, em uma cerimônia em homenagem às 184 pessoas mortas na queda do quarto avião desviado naquele dia.

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