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Inflação de abril na Argentina segue acima de 7% ao mês e mantém incertezas sobre ajuda do FMI

O Instituto de Censos e Estatísticas (Indec) da Argentina anuncia, nesta sexta-feira (12), o índice de inflação do mês de abril que aproxima o país dos dois dígitos mensais, a cinco meses das eleições gerais de outubro. Para evitar um colapso, a economia argentina volta a depender de um novo e salvador empréstimo do FMI, que exige uma desvalorização da moeda.

Uma foto do Papa Francisco está pendurada ao lado de uma placa que diz em espanhol "Com cartão de débito 7%, com crédito 12% de aumento", em um mercado de vegetais e frutas em Buenos Aires, Argentina, quinta-feira, 11 de maio de 2023.
Uma foto do Papa Francisco está pendurada ao lado de uma placa que diz em espanhol "Com cartão de débito 7%, com crédito 12% de aumento", em um mercado de vegetais e frutas em Buenos Aires, Argentina, quinta-feira, 11 de maio de 2023. AP - Natacha Pisarenko
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A estimativa média do mercado para a taxa de inflação de abril é de 7,5%, segundo a pesquisa mensal do Banco Central argentino. A cifra é semelhante à de março, com 7,7% cuja reação do mercado desatou uma corrida cambial durante abril.

A base do aumento mensal de preços na Argentina já é 7%, com tendência de crescimento aos dois dígitos mensais.

“O prazo para que a inflação atinja a casa dos dois dígitos mensais está associado à evolução ou não de uma negociação com o Fundo Monetário Internacional. Um acordo evitaria esse cenário. Do contrário, entre agosto e outubro, isto é, entre as eleições primárias e o primeiro turno, poderemos estar nesse cenário”, explica à RFI Gustavo Marangoni, diretor da consultora M&R.

Presidentes Lula e Alberto Fernández em Brasília no dia 2 de maio, quando o argentino esperava o anúncio de um crédito do BNDES.
Presidentes Lula e Alberto Fernández em Brasília no dia 2 de maio, quando o argentino esperava o anúncio de um crédito do BNDES. © Maria Eugenia Cerutti/ Presidência Argentina

"Sem dúvida, o acordo com o FMI é crucial para a Argentina. Disso depende em grande parte que a crise econômica e cambial que nosso país vive não se acelere”, afirma Marangoni, cientista político e ex-presidente do segundo maior banco do país, o Banco Provincia, e considerado um dos analistas que melhor conjuga a economia com a política argentina.

Pressão por desvalorização

Não há mais dólares no caixa argentino. As reservas disponíveis do Banco Central já são negativas em cerca de US$ 1 bilhão.

A única saída para tentar estabilizar a economia é um novo socorro financeiro do Fundo Monetário Internacional, mas, para concordar com a ajuda, o FMI exige uma desvalorização de 30% da moeda nacional, o que geraria um efeito inflacionário.

“A situação econômica é precária e o governo está diante de um dilema: se o FMI emprestar, será com uma desvalorização que implicará mais inflação; se não emprestar, a desvalorização da moeda pode vir por parte do mercado”, descreve Marangoni.

A essa encruzilhada de “se fugir o bicho pega, se ficar o bicho come”, soma-se uma corrida eleitoral até outubro, período durante o qual os argentinos correm ao dólar para proteger o valor do seu dinheiro.

Dinheiro acabou

Eis então que paira no horizonte o bicho mais temido: uma corrida bancária. Os argentinos, pessoas físicas e jurídicas, podem correm para retirar os seus depósitos em dólar, especialmente se entenderem que os números negativos do Banco Central podem indicar que o governo está usando os depósitos compulsórios, pertencentes aos correntistas.

“As reservas líquidas já são negativas em mais de US$ 1 bilhão, num dos piores registros desde dezembro de 2015. Os depósitos em dólares dos privados terminaram abril em US$ 15,290 bilhões, o que significa US$ 1 bilhão a menos do que março”, detalha o relatório “Monitor Cambial e Financeiro” da consultora M & R.

Para aumentar a incerteza, o candidato a presidente que mais sobe nas pesquisas para as eleições de novembro, Javier Milei, com chances de chegar ao segundo turno, tem como bandeira anti-inflacionária 'dolarizar' a economia, adotando a moeda norte-americana como a corrente.

“Se Javier Milei tiver um bom desempenho nas primárias de agosto, isso poderia induzir muita gente a ‘dolarizar’ a sua carteira de investimentos antes que isso se torne uma política pública”, adverte Gustavo Marangoni.

Lula expôs o drama argentino

Cada dólar conta. Por isso, a Argentina ainda espera do Brasil um crédito do BNDES para financiar as exportações brasileiras. A iniciativa beneficia as empresas brasileiras, mas é crucial para a Argentina continuar a importar os componentes necessários para que a sua economia funcione, mesmo que minimamente.

Na visita do presidente Alberto Fernández a Brasília no dia 2 de maio, o presidente Lula expôs a gravidade da economia argentina ao revelar que o colega chegou a Brasília “muito apreensivo”, mas que “voltaria um pouco mais tranquilo”.

“É verdade, sem dinheiro”, arrematou Lula, revelando que a Argentina não tem como garantir o crédito, isto é, não tem um fiador em caso de calote.

“Lula expôs a situação de fraqueza na qual o governo argentino, em particular, e a economia argentina, em geral, estão”, aponta Maragoni, esclarecendo que “a ajuda brasileira poderia aliviar uma parte muito pequena dos problemas argentinos”.

Projeções de até 150% em 2023

Segundo o relatório mensal do Banco Central, os principais agentes econômicos da Argentina preveem uma inflação de 126,4% em 2023. O número é 16,4 pontos maior do que a previsão do mês anterior, evidenciando o ritmo galopante da inflação.

Em sintonia com o mercado, a consultora M & R de Gustavo Marangoni prevê uma inflação neste ano de 130% – isso se não houver uma brusca desvalorização que torne o cenário imprevisível.

Outras consultoras projetam inflação ainda maior: Analytica, com 133%; FIEL, 140% e EcoGo, 150%.

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