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"Não há nenhum médico aqui", diz morador de zona afetada por terremoto e furacão no Haiti

Cinco dias depois do terremoto que abalou o sudoeste do Haiti e deixou mais de 2.000 mortos, as autoridades enfrentam o desafio de entregar ajuda humanitária de maneira segura a centenas de milhares de desabrigados, incluindo muitos que vivem em áreas isoladas. A reportagem da RFI no sul da ilha caribenha constata o desânimo da população de Maniche.

Muitas pessoas passaram a noite ao relente perto de Les Cayes, depois da passagem do furacão Grace poucos dias depois de um forte terremoto. (17/08/2021).
Muitas pessoas passaram a noite ao relente perto de Les Cayes, depois da passagem do furacão Grace poucos dias depois de um forte terremoto. (17/08/2021). Reginald LOUISSAINT JR AFP
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Com informaçoes da correspondente da RFI no Haiti, Amélie Baron, e da AFP

O serviço de Proteção Civil do Haiti atualizou o balanço do terremoto na quarta-feira (18) à noite: 2.189 mortos, 332 desaparecidos e mais de 12.000 feridos. "As operações de resgate continuam", afirmou o organismo pelo Twitter.

O caos impera na região sudoeste do país e os desabrigados também precisam enfrentar as chuvas provocadas pela passagem do furacão Grace.

Maniche fica a apenas 20km do litoral, onde fica a capital da província de Les Cayes, no sul do Haiti, mas o trajeto a carro leva uma hora para ser feito, por causa das estradas ruins. Situado em um vale entre montanhas, poucos edifícios resistiram ao terremoto de domingo.

“Estamos desanimados porque ainda nem havíamos nos recuperado de Matthew”, lamenta Rose Hurguelle Point du Jour, de 35 anos, referindo-se ao furacão de 2016, que provocou a morte de até mil pessoas. “Todas os prédios que tínhamos no município estão no chão. Não temos mais a igreja, o salão paroquial, o dispensário está totalmente destruído”, acrescenta.

Rose publicou fotos dos estragos ao seu redor nas redes sociais já no sábado para alertar as pessoas sobre a situação. Passado o interesse inicial, a mulher de 35 anos espera que sua cidade e os habitantes das montanhas vizinhas não sejam esquecidos.

“Todas as casas foram destruídas e nas pequenas comunidades é ainda pior”, diz outro morador. “Ainda não podemos saber quantas pessoas morreram ali porque não temos mais rede telefônica. Nós, no centro de Maniche, ainda estamos mais ou menos bem, mas ha areas que estão separadas de nós por causa dos rios que transbordam. Tenho certeza que de que tem gente que precisa de ajuda médica. Na verdade, também não há nenhum médico aqui no centro da cidade. Vemos pessoas indo e vindo, mas nada funcionou para nós ainda. "

Violência de gangues preocupa

O governo dos Estados Unidos fretou oito helicópteros do exército a partir de Honduras para ajudar nas retiradas por razões médicas. Além disso, o navio USS Arlington deve chegar com uma equipe médica.

"Temos ao redor de 600.000 pessoas diretamente afetadas e que precisam de ajuda humanitária imediata", disse Jerry Chandler, diretor do setor proteção civil do Haiti, no Centro de Operações de Emergência Nacional, em Porto Príncipe.

A segurança nas cidades também é outra preocupação, explica Chandler.

Desde o começo de junho, o trânsito seguro era impossível em dois quilômetros da estrada que atravessa Martissant, bairro pobre da capital haitiana, assolado por confronto entre quadrilhas.

Após o terremoto, os disparos esporádicos e os ataques aleatórios contra veículos cessaram, sem que tenha sido realizada nenhuma operação policial para recuperar o controle do bairro, segundo as autoridades.

Embora essa trégua informal imposta pelos grupos armados seja um alívio para os serviços humanitários, a distribuição de ajuda aos desabrigados não deixa de ser complicada.

"Pessoas frustradas e cansadas chegam a bloquear os envios de ajuda", relata Chandler. “Precisamos circular o mais rapidamente possível e atender a maior quantidade de pessoas possível", acrescentou.

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