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Miami: "Vi rachadura e saí correndo", conta sobrevivente de edifício que desabou

“Eu vi a rachadura e uma voz interior me disse: 'Corra, isso vai cair' ". Leia o relato chocante de Iliana Monteagudo à RFI. A sobrevivente é uma cubana de 64 anos que conseguiu escapar de seu apartamento em Champlain Torres, em Surfside, segundos antes do prédio desabar.

Equipes de resgate procuram possíveis sobreviventes nos escombros do complexo Champlain Towers South, que desabou parcialmente, em 29 de junho de 2021, em Surfside, Flórida.
Equipes de resgate procuram possíveis sobreviventes nos escombros do complexo Champlain Towers South, que desabou parcialmente, em 29 de junho de 2021, em Surfside, Flórida. CHANDAN KHANNA AFP
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A prefeitura de Miami confirmou nesta quarta-feira (30) o novo número de mortos no colapso do complexo Champlain Towers, em Surfside. Doze pessoas morreram, mas 149 ainda estão desaparecidas. E enquanto as equipes de resgate continuam a delicada tarefa de revistar os escombros, os depoimentos daqueles que conseguiram sair do prédio a tempo começam a vir à tona.

É o caso de Illiana Monteagudo, uma cubana de 64 anos que conseguiu escapar do colapso por segundos. "Vi uma linha descendo do teto que não era nada mais nada menos do que uma rachadura na parede", disse ela à RFI, em um relato chocante. “E a linha, quanto mais para baixo ela ia, espalhava mais ou menos dois dedos de largura. Minha voz interior me disse: 'Corra, isso vai cair'", conta.

"Corri para o quarto, coloquei um vestido, tirei a camisola, coloquei qualquer vestido e nem mesmo coloquei o sutiã porque algo me dizia que no segundo que eu demoraria para colocá-lo, morreria. E comecei a descer as escadas como uma louca a partir do sexto andar. Quando cheguei ao quarto, ouvi um estrondo tão grande que acordou a todos. Aquele que ele não esmagou, ele acordou. E eu disse a mim mesmo: 'Meu Deus, o prédio caiu'", lembra.

"O meu terror era que acontecesse um efeito dominó. Como não havia mais apoio daquele lado, este lado ia ser esmagado também, e eu consegui descer, abri a porta e depois me vi em um lugar onde a água chegava mais alto que meu tornozelo e onde não vi mais nada nem ninguém, porque, como o prédio já havia desabado, a poeira estava imensa. Havia uma nuvem de poeira e a escuridão era total ”, diz.

A queda

Moradores da parte do prédio que permaneceu de pé relataram que acordaram por volta da 1h30 da madrugada, horário local, em 24 de junho, com um barulho semelhante ao de um trovão que sacudiu seus quartos. Equipes de resgate, que chegaram logo após a queda da torre de 55 apartamentos, ajudaram a evacuar dezenas de residentes e retiraram um adolescente vivo dos escombros.

Desde então, as autoridades têm enfrentado a crescente frustração de familiares e amigos de residentes, que temem que eles ainda estejam presos sob uma enorme montanha de concreto e ferro retorcido. Entre esses parentes está a jornalista chilena Pascale Bonnefoy, que se encontra no local esperando notícias de seu pai, um parente da ex-presidente Michelle Bachelet, e de sua esposa, que ainda não foram encontrados. "Temos reuniões de briefing duas vezes por dia com equipes de resgate, bombeiros, polícia e até médicos forenses", contou Bonnefoy à RFI.

"Igualzinho quando vim de Cuba"

Após aquele momento de máxima angústia, a história de Illiana Monteagudo centra-se na incerteza total sobre sua nova situação, sem casa. “Aquelas imagens que deram a volta ao mundo, aquela massa de entulho e até os restos mortais das pessoas, infelizmente, aquilo era meu apartamento", diz a cubana.

“O prédio tinha 12 andares. Meu apartamento ficava bem no meio, era o 6º andar, então toda a minha área desabou. Pelo que lá se vê, não identifico qual poderia ser o meu apartamento, porque é uma zona de guerra. Não tinha mais nada, estou igual a quando cheguei de Cuba. Zero. Todo o dinheiro que eu tinha colocado naquele apartamento porque queria pagar à vista para não ficar com uma dívida mensal", relata.

"Então fiquei sem dinheiro, porque agora, para recuperar esse dinheiro por meio de um processo judicial, levará anos. Fiquei sem carro, sem casa, sem roupa e o pior de tudo, fiquei sem as lembranças, todo o meu passado estava ali, como a fotografia do casamento dos meus pais, o meu, tudo, tudo. Fiquei com a vida, pela qual sou infinitamente grata a Deus, e nada mais", suspira.

Busca exaustiva por sobreviventes

Dois guindastes grandes estão sendo usados para remover os escombros com cuidado. Os bombeiros, trabalhando incansavelmente no calor e na umidade, estão usando tecnologia de busca por imagem e som para localizar bolsões de ar onde as pessoas ainda podem estar vivas, embora a esperança de vida esteja diminuindo com o passar dos dias. Mais de 1.300 toneladas de concreto já foram escavadas, segundo autoridades.

Dois venezuelanos foram identificados entre os falecidos e há outros 29 latino-americanos vinculados à propriedade da qual ainda não há notícias: nove da Argentina, seis da Colômbia, seis do Paraguai, quatro da Venezuela, três do Uruguai e um do Chile.

Investigação "completa"

As autoridades locais prometeram uma investigação "completa" sobre as causas do ocorrido. De acordo com uma carta divulgada terça-feira pela mídia norte-americana, o presidente da associação dos coproprietários do complexo Champlain Towers South, Jean Wodnicki, alertou os moradores há dois meses que seu prédio estava sofrendo uma crescente "deterioração".

Na carta, de 9 de abril, ele estimou que seria necessário investir cerca de US$ 15 milhões nas avaliações necessárias para resolver problemas estruturais. Desde 2018, “a deterioração do concreto se acelerou, a condição do telhado piorou consideravelmente”, alertou Wodnicki. Naquele ano, um relatório sobre a luxuosa construção já havia indicado "danos estruturais significativos", bem como "rachaduras" no porão do edifício, de acordo com documentos divulgados pelo governo de Surfside.

“A impermeabilização sob as bordas da piscina e da calçada de veículos (...) já ultrapassou sua vida útil e, portanto, deve ser removida e totalmente substituída”, escreveu o especialista Frank Morabito no documento, pedindo reparos “dentro de um prazo razoável ", embora sem indicar abertamente um risco de colapso.

"Não vi nada que me dissesse que seria melhor sair daqui se eu estivesse no prédio", disse a engenheira Allyn Kilsheimer, que foi enviada pela cidade de Surfside para esclarecer as condições da tragédia.

“Nada é perfeito no desenho de um edifício”, julgou o especialista, que já trabalhou após o ataque ao Pentágono durante os ataques de 11 de setembro ou o terremoto mortal na Cidade do México em 1985. “É possível que tenha entrado em jogo uma combinação de fatores. "

A investigação da causa exata da tragédia provavelmente levará meses.

Com entrevista com Andreína Flores e informações da AFP

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