Ex-cardeal dos EUA excomungado teria repassado US$ 600.000 a líderes da Igreja Católica
O ex-cardeal americano Theodore McCarrick repassou mais de US$ 600.000 durante 20 anos a líderes religiosos, incluindo dois papas, quando enfrentou acusações de abuso sexual na década de 1970, informou o Washington Post nesta sexta-feira (27). O religioso foi excomungado por seus crimes em fevereiro.
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McCarrick foi arcebispo honorário de Washington e foi o primeiro cardeal excomungado no contexto do escândalo de pedofilia que abala a Igreja Católica. O ex-cardeal foi durante muito tempo uma peça-chave para arrecadar fundos para o Vaticano nos Estados Unidos.
De acordo com o Washington Post, que cita religiosos e consultou arquivos dessas transações financeiras, McCarrick entregou desde 2001 mais de US$ 600.000 a clérigos, funcionários do Vaticano, conselheiros papais e aos papas João Paulo II e Bento XVI.
Vários desses beneficiários, que somam mais de cem, eram diretamente encarregados de investigar as acusações de agressão sexual contra McCarrick, que hoje tem 89 anos, segundo o jornal americano.
Em Washington, o prelado tinha um fundo especial por meio do qual recebia dinheiro e redistribuía os recursos com pouca supervisão.
De acordo com o jornal americano, João Paulo II teria recebido US$ 90.000 entre 2001 e 2005, e Bento XVI, US$ 291.000, em 2005. O dinheiro pode ter sido alocado para instituições de caridade, diz o Washington Post.
Porta-vozes dos papas e do Vaticano ainda não comentaram as informações.
Esses presentes "nunca influenciaram as decisões do cardeal como membro da Santa Sé", disse um porta-voz do cardeal Leonardo Sandri, que recebeu US$ 6.500 de McCarrick nos anos 2000.
Em agosto de 2018, o arcebispo italiano Carlo Maria Vigano acusou o papa Francisco de ter ficado em silêncio por um longo tempo sobre os comportamentos predatórios do cardeal McCarrick, excomungado algumas semanas antes depois das revelações de agressões sexuais.
O papa não aparece na lista de destinatários dos fundos de McCarrick revisada pelo Post.
Francisco então anunciou o início de uma investigação nos arquivos do Vaticano. O líder da Igreja prometeu "tolerância zero" e, em maio, aprovou uma medida histórica para forçar aqueles cientes dos abusos na Igreja a denunciá-los a seus superiores.
(Com informações da AFP)
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