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Violência / Ex-Birmânia

Sob estado de emergência, confrontos inter-religiosos continuam em Mianmar

Desde sexta-feira confrontos violentos entre budistas e muçulmanos já deixaram ao menos sete mortos e 17 feridos no Estado Rakhine, no oeste de Mianmar, ex-Birmânia. A situação cada vez mais tensa levou as Nações Unidas a retirar seu pessoal da área.

Membros da minoria Rohingya esperam por ajuda humanitária do lado de fora de uma mesquita em Sittwe, na região oeste do país.
Membros da minoria Rohingya esperam por ajuda humanitária do lado de fora de uma mesquita em Sittwe, na região oeste do país. Reuters
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Perto de Sittwe, capital do estado controlado pela minoria Rakhine que faz fronteira com o Bangladesh, um jornalista da Agência France Presse viu residentes incendiarem prédios. Em um vilarejo de etnia rakhine majoritariamente budista, inúmeros habitantes patrulham armados de facões longos e bastões. Nas ruas do centro, onde os restos casas queimadas são um testemunho da violência dos dias precedentes, quase nenhum homem se desloca sem uma arma branca. Os caminhões militares estão posicionados no aeroporto e as forças da ordem podem ser vistas em torno de mesquitas e pagodes.

Segundo a mídia oficial, as violências fizeram sete mortos e 17 feridos desde sexta-feira. Cerca de 500 casas foram destruídas. Várias outras fontes afirmam que o balanço de mortos seria muito maior, mas não puderam ser verificadas.

Esses confrontos com motivação religiosa foram uma consequência do linchamento de dez muçulmanos, há uma semana, por uma multidão de budistas enfurecidos que queriam vingar o estupro de uma mulher.

Desde domingo, cerca de 40 funcionários da ONU e suas famílias, que correspondem à maior parte do pessoal internacional, começaram a sair de Maungdaw, onde aconteceram as sete mortes, segundo informações do representante das Nações Unidas, Ashok Nigam.

Minoria

O nome do Estado Rakhine vem de sua população, uma etnia budista. Mas ele abriga também uma grande comunidade muçulmana, de origem indiana ou bengalesa, assim como os Rohingyas, uma minoria apátrida considerada pela ONU como uma das mais perseguidas do mundo.

Todos esses muçulmanos são frequentemente assimilados, no discurso dominante, em um mesmo grupo estigmatizado como estrangeiro e perigoso.

Chris Lewa, da organização "Arakan project", que milita pelos direitos dos Rohingyas, afirmou que essa comunidade teve inúmeras vítimas. "As autoridades, e não somente a mídia birmã, parecem ignorar os muçulmanos mortos", analisou ela, evocando "dezenas" de mortos. Se as primeiras violências na sexta-feira foram causadas por Rohingyas, explicou Lewa, a situação mudou completamente desde então.

O presidente Thein Sein, que enfrenta uma das crises mais graves desde sua chegada ao poder em março de 2011, decretou no domingo à noite o estado de emergência. Os 800 mil Rohingyas confinadas no norte do Estado Rakhine não fazem parte das minorias étnicas reconhecidas pelo regime.

Os muçulmanos representam oficialmente 4% da população e os budistas 89%. A tensão entre os dois grupos levou a séries de revoltas antimuçulmanos no país nesses últimos 15 anos, principalmente nesse Estado.

Fronteira

Agentes de seguranças da fronteira de Bangladesh informaram ter impedido a entrada no país nesta segunda-feira de oito embarcações transportando mais de 300 muçulmanos da minoria Rohingya, em sua maioria mulheres e crianças, que tentavam fugir das violências religiosas em Mianmar.

A segurança foi reforçada ao longo da fronteira terrestre entre o Bangladesh e Mianmar, que tem 200 quilômetros, assim como no rio Naf, para limitar o fluxo de refugiados. Autoridades bengalesas estimam que 300 mil Rohingyas vivem em Bangladesh, sobretudo em dois campos oficiais de refugiados no sul do país.

 

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