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O Mundo Agora

Somente uma Europa unida poderá combater o grupo Estado Islâmico

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Os ataques foram efetuados e planificados como uma ofensiva militar. Mas o objetivo não era um alvo preciso. Os terroristas islâmicos queriam simplesmente matar. Na rua, num bar, numa sala de concertos... No centro de Paris, uma das cidades mais emblemáticas do planeta, símbolo de liberdade: liberdade política, de pensamento, da alegria de viver da maneira que cada escolhe.

Em Antalya na Turquia, onde acontece a Cúpula do G20, sete líderes europeus (Mariano Rajoy, Angela Merkel, Donald Tusk, Laurent Fabius, Jean-Claude Juncker, David Cameron et Matteo Renzi) fizeram uma homenagem as vítimas dos atentados em Paris.e silence.
Em Antalya na Turquia, onde acontece a Cúpula do G20, sete líderes europeus (Mariano Rajoy, Angela Merkel, Donald Tusk, Laurent Fabius, Jean-Claude Juncker, David Cameron et Matteo Renzi) fizeram uma homenagem as vítimas dos atentados em Paris.e silence. REUTERS/Fatih Aktas/Pool
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O objetivo dos terroristas é acabar com essa civilização que cultua a liberdade. E que no último meio século encontrou na França, e na Europa ocidental em geral, um dos poucos e frágeis espaços para se desabrochar. Os terroristas querem aterrorizar esta maneira de viver para que ela seja destruída pelo medo.
Na França, nada será como antes. As autoridades francesas já declararam oficialmente: trata-se de uma “guerra”. Um conflito que ameaça diretamente todos os valores e o modo de ser dos franceses e dos europeus.

Durante mais de cinquenta anos – e quarenta de Guerra Fria – a Europa, protegida pelo poderio americano, construiu pacientemente um modelo de integração política, econômica e humana. A ideia era impedir a volta ao passado de confrontos entre as potências europeias que haviam desembocado em regimes totalitários – o nazismo e o comunismo – e provocado duas guerras mundiais. Logo depois da queda do muro de Berlim, a guerra na antiga Iugoslávia lembrou que essa paz continental era muito frágil. Os governos europeus não tinham a mesma visão do conflito e não conseguiam atuar em conjunto. A intervenção americana salvou a situação e a Europa não só manteve a sua unidade mas conseguiu aprofundá-la com a criação do euro e a abertura das fronteiras internas com a livre circulação das pessoas. Só que agora a ameaça de guerra voltou.

O que aconteceu em Paris pode acontecer em qualquer outra capital europeia. É todo o Velho Continente que está na linha de mira. E os europeus sabem que não há resposta eficaz sem uma profunda união de todos os governos e uma estreita cooperação entre todos os serviços e forças de segurança, civis e militares. A Europa está diante de um salto decisivo para uma nova e profunda partilha de soberanias. Sem uma estratégia comum e uma integração dos instrumentos de segurança não haverá chance de enfrentar o terrorismo islâmico, dentro do espaço europeu e na raiz do problema, no Oriente Médio.

Mas a Europa está ameaçada de se deslocar. A crise econômica mundial não ajudou e a Grécia mostrou que o euro ainda é um projeto que pode dar para trás. No Leste, os europeus estão confrontados às ambições da Rússia de Vladimir Putin, que já engoliu a Crimeia e mais um pedaço de um país soberano europeu. E continua tentando amedrontar os vizinhos europeus para criar uma nova “zona de influência” russa no Velho Continente. Um retorno à velha geopolítica do equilíbrio das grandes potências e Estados-tampões que a Europa tenta evitar há décadas. No Sul, o tsunami migratório dos últimos meses está acirrando as tensões entre Estados europeus e provocando divisões políticas e culturais dentro dos países. Todo dia políticos extremistas pedem o fechamento das fronteiras, o fim da integração europeia e o restabelecimento completo das soberanias nacionais. A ameaça direta e concreta do terrorismo islâmico vem também alimentar essa tentação de volta ao passado.

O problema é que sem o euro e sem a liberdade de circulação, a União Europeia não existe mais. E sem a União, as velhas tensões reapareceram rapidamente. Só que a Europa é o principal pilar, junto com os Estados Unidos, de uma ordem mundial baseada em regras de direito universais, onde apesar dos pesares e do cinismo da real-política ainda existe espaço para as liberdades fundamentais. Uma Europa em guerra e dividida é a volta para um mundo onde só imperará a força bruta. E isso é um problema central para o planeta inteiro, até para aqueles que vivem muito longe desse velho drama europeu.

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