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França/Jihadistas

O depoimento de um jihadista francês arrependido

Na edição desta segunda-feira (27), o jornal Aujourd'hui en France traz uma entrevista exclusiva com um jovem francês que se entregou à polícia depois de retornar da Síria, onde foi membro o grupo Estado Islâmico. Apesar de a polícia desconfiar do depoimento, o rapaz afirma que não lutou ao lado dos jihadistas.

Captura de tela de um vídeo em que um jihadista anuncia em francês a execução de um árabe israelense
Captura de tela de um vídeo em que um jihadista anuncia em francês a execução de um árabe israelense
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O jovem, identificado simplesmente como Ali, recebeu um curso e, depois de se recusar a virar um kamikaze, foi integrado à polícia islâmica em Raqqa, capital autodeclarada do também autodeclarado califado. Sua missão era fazer o policiamento ostensivo, controlar a população, aplicar multas e resolver pequenas brigas. "Eu disse a eles que eu não sabia rezar. Eles me responderam que me ensinariam", revelou ao Aujourd'hui en France.

Patrulhas e execuções

A rotina era de um trabalhador normal: ele começava a patrulha às 9h da manhã, em um dos três veículos de sua unidade, armado de uma pistola Glock e um fuzil AK-47. No fim do dia voltava para casa, por um salário mensal equivalente a 80 euros, além de 270 mil euros que ele havia recebido ao se alistar para comprar um carro e uma casa. Os investigadores também desconfiaram desta parte do depoimento, suspeitando de que o ex-jihadista teria "melhorado" as cifras.

Essa rotina prosaica era intermediada por cenas de violência extrema: ele viu a execução e o apodrecimento ao ar livre do corpo de um garoto de 14 anos que não completou uma reza. Viu também um homossexual ser atirado do alto de um prédio. E a gota d'água, que o fez partir, foi a decapitação de um senhor idoso, acusado de bruxaria.

"Os vendedores de haxixe ou cigarros são espancados e presos. Os que comercializam heroína, ou pessoas que são consideradas feiticeiras, que cometeram adultério ou rebeldes são executados e o cadáver delas fica nas ruas durante vários dias, com uma etiqueta que indica o motivo da morte", relatou.

De volta para casa

Quando ele resolveu deixar a organização, os jihadistas não impuseram obstáculos. Ele conta que tinha certeza de que seria executado, mas foi levado à fronteira com a Turquia - por onde ele, como a maioria dos jihadistas europeus, chegou à Síria -, onde recebeu de volta seu passaporte, que havia sido confiscado quando ele se juntou ao grupo.

Ali também recebeu 450 euros, que usou para comprar sua passagem de volta à França. Agora, ele está preso, aguarda seu julgamento e diz querer viver uma vida normal. A França é o país europeu que mais "exporta" militantes para a organização jihadista.

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