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Reportagem

Diálogo de PT e PSDB contra impeachment seria produtivo, mas limitado

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Diante da crise política no Brasil, o Palácio do Planalto demonstrou abertura para estreitar a aproximação com o PSDB, na tentativa de enfraquecer a ideia de um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O contato seria feito entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e a conversa poderia contar com a presença da própria Dilma. Segundo analistas ouvidos pela RFI Brasil, as divisões que existem na oposição sobre esse delicado tema prejudicam o diálogo entre os rivais.

Luiz Inácio Lula da Silva teria autorizado a amigos procurarem Fernando Henrique Cardoso para marcar um encontro.
Luiz Inácio Lula da Silva teria autorizado a amigos procurarem Fernando Henrique Cardoso para marcar um encontro. REUTERS/Paulo Whitaker
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A cientista política Sônia Fleury, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que os dois partidos são ligados por uma trajetória comum: a luta contra o autoritarismo e a defesa da democracia. Ela avalia o contato como proveitoso, em um momento em que o PMDB questiona a sua aliança com o governo.

“Há uma afinidade natural, apesar das diferenças entre o PT e o PSDB, que pode levar a um compromisso com a democracia e as instituições brasileiras. Um impeachment sem bases sólidas, jurídicas e baseado no ódio - seja pela perda da eleição ou pela crise econômica - pode representar uma grande aventura, com sérios riscos para toda a democracia brasileira”, afirma. “Até o momento, não há motivos para um impeachment.”

O cientista político Anthony Pereira, do King’s College de Londres, compara o momento político atual com a fase conturbada da transição democrática, marcada pelas incertezas, antes de Fernando Henrique Cardoso assumir o poder.

“Nas quatro administrações de Fernando Henrique e Lula, houve um consenso sobre as regras do jogo e as políticas públicas centrais. E agora é um período excepcional, porque Dilma não tem esse luxo. Não sei se, mesmo que aconteça esse tipo de acordo entre os dois partidos, ou pelo menos um diálogo, vai ser suficiente”, observa. “Alguns dos atores mais importantes e influentes, como o Eduardo Cunha na Câmara, o Renan Calheiros no Senado e o Michel Temer na vice-presidência, não são membros desse eixo PT-PSDB, que era dominante da época do Fernando Henrique e de Lula, mas talvez não seja mais agora.”

Os analistas ressaltam que o próprio PSDB está dividido sobre a possibilidade de impeachment – um fator que dificulta o diálogo entre os caciques petistas e tucanos. Pereira constata que Fernando Henrique, José Serra e Geraldo Alckmin estão mais cautelosos. “Já o Aécio tenta juntar as forças para pedir a saída da presidente. É um partido com divisões, e o projeto fica mais complicado por causa disso.“

Briga de egos

Nesse contexto, uma barreira subjetiva também trava o diálogo com o PT: os egos inflados de Lula e FHC. “São duas pessoas que estiveram juntas em outros momentos e depois se separaram, cada um com uma posição personalista muito grande. Acho que se eles conseguirem conversar, isso será ima grande vantagem para a democracia”, destaca a cientista política da FGV.

Em um período de ajuste fiscal delicado, aumento do desemprego e da instabilidade, a ideia de derrubar a presidente pode não ser boa para ninguém, na avaliação de Fleury. Assumir o governo nessas condições seria “um abacaxi difícil de descascar”. “Não há na oposição, inclusive no PMDB, uma unidade de que essa seria a melhor para a saída para o país, nem para os partidos, afinal, quem vai querer ser o gestor da crise? Uma crise que envolve todos os partidos políticos e uma crise econômica séria, que pede medidas desgastantes diante da população”, comenta. “Tenho a impressão de que esse não é o melhor momento para tirar a Dilma e entrar no lugar dela.”
 

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