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Fato em Foco

Por que Brasil, Alemanha e França têm pouco poder de reação à espionagem americana

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A França é a bola da vez nas espionagens da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) sobre governos. O WikiLeaks vazou o conteúdo das escutas americanas sobre os últimos três presidentes franceses, que teriam sido grampeados entre 2006 e 2012. O episódio causou indignação na opinião pública e o governo convocou a embaixadora dos EUA em Paris a prestar esclarecimentos. Mas a reação francesa deve parar por aí, assim como pararam Dilma Rousseff e a alemã Angela Merkel, também grampeadas no passado recente. Há fortes indícios, por exemplo, de que a NSA continua espionando o governo brasileiro.

Julian Assange falou ao vivo na televisão francesa na quarta-feira.
Julian Assange falou ao vivo na televisão francesa na quarta-feira. Reprodução
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O jornal Le Monde desta sexta-feira (26) pergunta, na manchete: “Por que a resposta francesa é apenas simbólica?”. Ele mesmo responde: a cooperação permanente entre os serviços de inteligência dos países do Ocidente impede os governos de irem além em suas represálias. Ou seja, por trás das cortinas, as “NSAs” de cada país trabalham em conjunto. Em abril deste ano, o jornal alemão Bild denunciou que Angela Merkel sabia desde 2008 que os Estados Unidos espionavam empresas europeias. A NSA trabalharia em parceria com a própria BND alemã, utilizando instalações na Bavária, em pleno solo alemão.

François Géré, Diretor do Instituto Francês de Análise Estratégica, diz que, quando este tipo de espionagem ocorre entre aliados, chega-se a um impasse. Apesar disso, acredita que a quantidade de escutas praticadas por diferentes estados chegou a um ponto tão extremo, que a situação pode começar a mudar. “Os meios que os Estados Unidos dispõem para espionar são poderosíssimos e eles os utilizam ao máximo. Por sua vez, a França tem suas próprias atividades e os britânicos também têm um sistema que monitora todos. Estamos em uma espécie de selva em que cada um usa o meio técnico que tem, sabendo que em um momento ou outro, vai ser preciso sair dessa situação e adotar regras de bom comportamento”, diz Géré.

Outro especialista ouvido pela RFI francesa, Éric Denécé, diretor do Centro de Pesquisa sobre a Inteligência, acha que, mais uma vez, os governos espionados jogarão para a torcida: “Os políticos franceses sabem perfeitamente o que acontece. Será um jogo de cena, vão convocar o embaixador para prestar explicações, mas isso não vai mudar nada.”

Dilma continuaria sendo grampeada

O jornal New York Times publicou, em fevereiro, um artigo afirmando que, ao que tudo indica, o governo americano não parou de espionar e interceptar comunicações do Brasil e do México, embora tenha cessado as escutas em mais de 10 países, entre eles a Alemanha. O jornal não apresenta provas, mas, segundo o professor de relações internacionais da USP Rafael Duarte Villa, a informação faz bastante sentido: “O entendimento do governo americano é de que a guerra ao terror passa por espionagem e monitoramento. O  Brasil não é um caso pontual e não acho que os Estados Unidos estejam dispostos a mudar essa estratégia.”

Na época em que as escutas ao governo brasileiro vieram à tona, em 2013, Dilma cancelou uma visita oficial a Washington e, pouco depois, Obama chegou a garantir que a situação não se repetiria. Para Villa, estes gestos foram apenas a dimensão política do caso. “Há uma diferença entre o resultado prático e o resultado político. No resultado político, o Brasil conseguiu mandar um recado forte aos EUA. Mas precisaria haver uma mudança geral por parte de Washington.”

WikiLeaks quer reação francesa

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, incentivou o governo francês a adotar medidas judiciais durante uma entrevista ao canal de televisão TF1, na noite de quarta-feira. Na França, o WikiLeaks agora aposta todas suas fichas nestas novas escutas, na esperança de que Hollande reaja da maneira mais efetiva, exigindo que os Estados Unidos pare de monitorar não só governos, mas também cidadãos.

Kristinn Hrafnsson, porta-voz da organização liderada por Julian Assange, declarou ao serviço inglês da RFI que, desta vez, a NSA teria ido longe demais: “Em geral, existe uma racionalidade por trás da interceptação de comunicação de altos dirigentes. Mas, neste caso, precisamos perguntar: por que o presidente francês é classificado como uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos?”.

Questionado pela RFI como o WikiLeaks obteve os relatórios das escutas, Kristinn disse que não pode revelar. Até agora, não se sabe se há novamente participação de Edward Snowden, que segue vivendo exilado na Rússia. Mas o representante do WikiLeaks garante que este é apenas o começo de uma série de vazamentos fruto da espionagem sobre os franceses.
 

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