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O Mundo Agora

Política tradicional é atropelada pela revolução digital

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Depois dos “indignados” italianos e gregos, chegou a vez dos espanhóis. Os movimentos anti-austeridade e anti-partidos tradicionais estão ganhando fôlego na Europa. Claro, a Espanha não é a Grécia, e essas organizações heteróclitas ainda estão longe de conquistar o poder nacional. Mas já vão governar Madri e Barcelona.

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A política tradicional está sendo atropelada por mobilizações de populações fora dos quadros partidários ou do controle de qualquer autoridade. Como se os políticos tivessem perdido a sua função de representação e canalização dos interesses coletivos. Até a aprovação do “casamento gay” na ultra-católica Irlanda – e ainda por cima por referendo popular – demonstra essa perda de capacidade de comandar.

Aliás o fenômeno não é só europeu e tem a ver diretamente com a revolução tecnológica da comunicação e informação. Hoje, massas humanas e militantes avulsos, concentrados em grandes centros urbanos, estão conectados 24 horas por dia. As redes sociais e a mídia globalizada inauguraram a era da informação permanente e em tempo real.

Manifestações no Brasil

O monopólio dos governos sobre a difusão das informações acabou. Hoje, dirigentes políticos, religiosos, partidários ou sindicais estão correndo atrás dos seus “representados” que não precisam mais dessa mediação. No Brasil, as manifestações contra o governo – e Brasília em geral – vêm se organizando via internet, sem bandeiras e sem dirigentes visíveis. E isso está acontecendo no mundo inteiro, com as oposições na Rússia, na Ucrânia, na Venezuela e até na China ou no Burundi.

A chamada “primavera árabe”, no seu início, saiu das redes sociais. E até o terrorismo selvagem do dito “Estado Islâmico”, com seus milhares de jovens recrutas vindos dos bairros periféricos das grandes cidades ocidentais, é filho da revolução digital. Não há autoridade islâmica, por mais ancestral que seja, que tenha condições de manter uma influência sobre um movimento que mistura arcaísmo com modernidade numa sofisticada rede informática.

Malásia e Indonésia

Nos últimos dias, a Malásia e a Indonésia se sentiram obrigadas a começar a salvar milhares de emigrantes apinhados em barcos sem rumo nos mares da Ásia. Depois de terem recusado terminantemente, não aguentaram a pressão da internet globalizada. Mas a idéia de que as tecnologias da comunicação e da informação vão empoderar os cidadãos e os indivíduos de tal forma que os dirigentes governamentais e políticos não controlarão mais nada é uma ilusão.

Pouco a pouco, os poderes também aprenderam a dominar as redes. Muitos ainda reagem como brucutus. A China estabeleceu uma grande “muralha digital” para impedir que a população possa ter acesso a informações que não passaram pela censura. É também o caso do Irã ou da Coréia do Norte. Mas esse tipo de reação é um tiro no pé. Nunca faltarão novos meios para contornar a censura e, nos dias de hoje, uma sociedade sem liberdade de comunicação e de troca de idéias e inovações está condenada ao atraso e à miséria econômica.

Política grosseira de Putin

Bastante grosseira ainda é a política de Vladimir Putin, que conseguiu passar uma lei para acabar com as ONGs que não são chapa branca. O objetivo é impedir a mobilização física dos usuários das redes sociais. Mas Putin também inaugurou uma nova forma de manipular a própria liberdade da internet. O Kremlin virou mestre em montar campanhas de mentiras e desinformação “on-line” e promover uma confusão de informações contraditórias e inverificáveis, neutralizando as possibilidades de mobilizações coerentes.

O problema é que hoje todos os governos e dirigentes políticos, inclusive nas democracias ocidentais, estabeleceram estratégias, com meios poderosíssimos, para influenciar as redes. E a tecnologia digital também permite um monitoramento e controle cada vez mais “personalizado” das populações. A própria liberdade de expressão também contribui para neutralizar a circulação de idéias: hoje qualquer opinião, qualquer pesquisa científica publicada na internet, é invariavelmente seguida por uma publicação contrária.

A própria imprensa, que deveria garantir a liberdade de pensamento, não sabe mais o que pensar ela própria e anda correndo atrás das redes que nem barata tonta. É como se não existisse mais verdade. E, quando não há verdade, não há também mentira. Se tudo dá igual, não há movimento social que possa se sustentar por muito tempo. O poder como gestão tecnológica do tumulto.

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