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Linha Direta

Brasil ainda não reconhece massacre contra armênios como genocídio

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A comunidade armênia relembra esta semana os 100 anos do massacre cometido pelo antigo império turco- otomano que matou pelo menos 1,5 milhão de armênios. Autoridades políticas e a população local aproveitam a data para exigir que muitos países, entre eles o Brasil, se refiram à tragédia como um genocídio.

O presidente russo Vladimir Putin (centro), e seus homólogos sérvio,Tomislav Nikolic, e francês, François Hollande, durante a celebração do centenário do genocídio armênio em Erevan, nesta sexta-feira, 24 de abril de 2015.
O presidente russo Vladimir Putin (centro), e seus homólogos sérvio,Tomislav Nikolic, e francês, François Hollande, durante a celebração do centenário do genocídio armênio em Erevan, nesta sexta-feira, 24 de abril de 2015. REUTERS/Alexei Nikolsky/RIA Novosti/Kremlin
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Sandro Fernandes, de Yerevan, para a Rádio França Internacional,

Mais do que um dia de luto, esta sexta-feira (24) é um dia para relembrar e homenagear os mortos do genocídio armênio e também para exigir que os países reconheçam oficialmente o massacre como um genocídio.

Atualmente, apenas 24 países do mundo inteiro usam a palavra genocídio oficialmente para se referir ao assassinato de armênios em 1915 pelo governo otomano. Entre os países que reconhecem, estão Bélgica, Canadá, França, Líbano, Rússia, Argentina, Chile, Uruguai, entre outros. O Parlamento Europeu, o Mercosul e o Conselho Mundial de Igrejas também reconhecem o genocídio armênio.

O Brasil não está entre os países que usa a palavra genocídio para descrever o massacre. Mas três estados brasileiros reconhecem o genocídio – São Paulo, Paraná e Ceará. Estima-se em 40 mil o número de brasileiros de origem armênia morando no Brasil.

Denúncias e críticas

A lembrança do genocídio está em todos os lugares em Yerevan. Já no hall de saída do aeroporto, há alguns pôsteres de cunho político, reflexivo. Um deles insinua a imagem do líder otomano Talaat Pasha, acusado de ser o principal mandante do genocídio, bem ao lado de uma imagem que insinua ser Hitler. Abaixo, vem escrito: “Condenando o primeiro, poderíamos ter evitado o segundo”. Ou seja, se o mundo tivesse condenado o genocídio armênio em 1915, talvez não tivesse acontecido o holocausto a partir de 1939.

Um outro pôster que chama a atenção logo no aeroporto é um mapa mundi onde os países que reconhecem o genocídio estão pintados de uma cor mais forte.

Nas ruas da cidade, também há muitos outdoors, cartazes nos pontos de ônibus e adesivos nos carros. Durante toda esta semana, vários eventos foram realizados para lembrar as vítimas do genocídio.

Canonização e show de rock

A Igreja Armênia apostólica canonizou na quinta-feira (23) todas as vítimas do genocídio, numa missa que durou pouco mais de três horas. Às 19h e 15 minutos, pontualmente, todas as igrejas armênias no país e em outras regiões no mundo, tocaram seus sinos. Foram 100 badaladas para marcar o centenário do genocídio e homenagear as vítimas.

Um dos eventos mais esperados foi o show da banda de rock americana, de origem armênia, System of a Down. Eles fizeram um show gratuito na Praça da República, a principal de Yerevan. Apesar da chuva, que caiu de repente aqui em Yerevan, milhares de pessoas participaram do show.

O vocalista da banda disse que não foi um show de rock. Foi uma apresentação bastante politizada, com referências o tempo todo ao centenário do genocídio.

O System of a Down está fazendo uma turnê mundial que se chama “Wake up the souls”, (“Acordem as almas”, em tradução livre). O objetivo seria o de fazer com que as pessoas conheçam este fato histórico tão pouco falado e tão pouco estudado nas escolas.

Reação da Turquia

O governo turco é irredutível e disse que “nunca se curvará”, ou seja, não reconhecerá o genocídio armênio, já que autoridades dizem que a morte dos armênios foi causada pela guerra e pela fome. Segundo Ancara, não foi algo premeditado e orquestrado contra a população armênia.

Todos os anos, a Turquia comemora nos dias 18 e 25 de abril a vitória da Batalha dos Dardanelos, na Primeira Guerra Mundial. Este ano, o governo turco resolveu fazer o evento oficial no dia 24 de abril, ou seja, nesta sexta-feira – mesmo dia do genocídio armênio.

As desavenças não param por aí. Há duas semanas, o Papa Francisco empregou a palavra genocídio em uma de suas missas, referindo-se ao massacre armênio e isso irritou muito os turcos. O Papa disse: “O caminho da Igreja é do franqueza. Não podemos silenciar o que vimos e ouvimos”.

A Turquia considerou “inaceitável” a declaração do Papa e disse que a história foi “instrumentalizada com fins políticos”. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chegou a chamar de “delírio” a frase do Papa. A Turquia não ficou nada feliz com a declaração do Papa e disse que a história deve ser deixada para os historiadores.

Os chefes de Estado da Rússia, França, Chipre e Sérvia participarão dos eventos oficiais hoje, em Yerevan, além de delegações de algumas dezenas de países. A programação dos 100 anos do genocídio armênio vai terminar hoje, às 10 da noite, com uma procissão de luzes pela cidade.

 

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