Apesar de otimismo, acordo sobre programa nuclear iraniano ainda é incerto

Encerra nesta terça-feira (31), à meia noite, o prazo para que Irã feche um acordo político em torno de seu controverso programa nuclear com seis potências – Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China, Rússia e Alemanha . O acordo de hoje – se sair – abrirá as portas para um acordo ainda maior e técnico, até o dia 30 de junho. O Irã, com sua economia enfraquecida, quer o fim das sanções comerciais. Já potências ocidentais querem se assegurar de que o país não vai desenvolver uma bomba nuclear.  

A representante para a Política Externa da União Europeia (UE), Federica Mogherini, se reune com o ministro das Relações Exteriores iraniano Mohammad Javad Zarif, em Lausanne, na Suiça. REUTERS/Brendan Smialowski/Pool

Deborah Berlinck, correspondente da RFI em Genebra

Há 12 anos, assiste-se a uma verdadeira batalha internacional em torno do polêmico programa nuclear iraniano. Mas, desta vez, há uma certa empolgação entre iranianos nas redes sociais. Muitos acreditam que um acordo pode finalmente ser fechado. Três questões estão em suspense. Primeiro: por quanto tempo as atividades nucleares do Irã vão ser limitadas no acordo? Fala-se em 10 anos. Segundo: quando as sanções contra o Irã deve acabar, de uma vez só ou progressivamente ? Terceiro: o que acontece se Irã não cumprir o acordo?

Em primeiro lugar, uma constatação: a atmosfera extremamente hostil que marcou as relações entre Irã e potências ocidentais na última década mudou. Em 2013, diplomatas americanos não se sentavam com iranianos na mesma mesa de negociações. Hoje, o secretário de Estado americano, John Kerry, discute e tem canal direto com o ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif. Teerã, além disso, quer muito o fim das sanções comerciais contra o Irã, especialmente agora, que a economia do país não está bem.

Obstáculos para a conclusão do acordo

Para potências ocidentais, o programa nuclear iraniano, descrito como pacífico, escondeu ou ainda esconde uma ambição: a fabricação de uma bomba nuclear. Estas negociações são muito difíceis porque estão marcadas por uma desconfiança mútua profunda.

Em 2013, Irã e Ocidente conseguiram fechar um acordo provisório. Em troca de um alívio nas sanções, o Irã aceitou reduzir o enriquecimento de urânio. Mas hoje, ultraconservadores no Irã dizem que isso é uma humilhação para o país. E, do lado dos americanos, membros do Congresso também ameaçam derrubar o acordo.

Clima de desconfiança ainda permanece

O Irã sempre insistiu que não quer a bomba nuclear. Mas muitas pessoas perguntam: por que, então, iranianos esconderam um programa de enriquecimento de urânio durante 18 anos ? Esta pergunta ficou sem resposta. Enriquecimento de urânio num nível elevado é um dos passos para fabricação da bomba.

Os Estados Unidos e a Europa garantem que o Irã tinha um programa de arma nuclear, que foi interrompido em 2003. E agora querem garantias totais de que esta ambição militar do Irã não vai ser possível. O Irã é uma potência regional – política e militar. Ninguém está mais desesperado com este possível acordo do que seu maior inimigo na região: Israel