Acessar o conteúdo principal
Reportagem

Para cientista político francês, pedir volta da ditadura é “anacrônico”

Publicado em:

As manifestações de domingo pelo Brasil tiveram grande repercussão na mídia estrangeira. Para Gaspard Estrada, cientista político da universidade Sciences-Po, de Paris, reivindicar o retorno dos militares, principalmente quando o Brasil acaba de comemorar 30 anos de volta à democracia, é “anacrônico” e “muito grave”.

Manifestação contra o governo brasileiro.
Manifestação contra o governo brasileiro. REUTERS/Paulo Whitaker
Publicidade

RFI - Podemos dizer que a massa foi às ruas?

Gaspar Estrada – Acho que a presidente está cristalizando essa raiva difusa contra os políticos e a política. É algo que já tinha acontecido nas manifestações de 2013, mas agora, principalmente em São Paulo, é uma crítica dirigida à figura presidencial. Houve também palavras de ordem pedindo a volta da ditadura militar, algo totalmente antidemocrático. Mas como o Brasil é um país democrático, todos têm direito à opinião.

RFI - Com palavras de ordem tão diferentes, de um lado de repúdio à corrupção, e de outro, pedindo a intervenção militar, você acha que esse movimento vai ter continuidade?

Gaspard Estrada - As pesquisas de opinião mostram que nas regiões onde o PT tinha força, isso desde o governo Lula, a popularidade de Dilma está despencando. Isso para mim é uma novidade. Mas não sei se esse movimento vai ter efeito multiplicador. O governo do PT está em posição mais fragilizada que em 2013 e a presidente não se pode dar ao luxo de deixar que uma nova frente de ataque seja aberta.

RFI - Você acha que uma das diferenças entre 2013 e o domingo passado foi a desmobilização no próprio campo da esquerda, em consequência dos erros cometidos pelo governo Dilma?

Gaspard Estrada - Sim. A base aliada do governo, tanto no congresso quanto no campo popular está desarticulada. As escolhas de Dilma visando ampliar sua base foram desastradas. Ela acabou alijando pessoas que poderiam ajudá-la, figuras próximas ao ex-presidente Lula. Dilma também tentou isolar o PMDB e não encontrou uma maneira de reagrupar sua própria base. Por isso há grupos próximos ao governo que não estão mobilizados, que não estão satisfeitos com a gestão política atual. Ou seja, pior que em 2013. Naquela época estavam todos pensando nas eleições de 2014. Agora há muita frustração.

RFI - Estamos vendo então surgir uma direita descomplexada, inclusive com essa chamada ao retorno dos militares?

Gaspard Estrada - Não só descomplexada, como fora da realidade. Pedir a volta dos militares é algo anacrônico. Nem a oposição, o PSDB, participou, com exceção de algumas figuras isoladas, com medo de se vincular a esse tipo de manifestante. O Brasil acaba de completar 30 anos de volta à democracia, e acho que esse tipo de reivindicação pela volta da ditadura é algo muito grave.
 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.