O canal franco-alemão ARTE apresentou nesta quinta-feira (12) à imprensa o documentário "Na Estrada com Sócrates", do ex-deputado europeu Daniel Cohn-Bendit. O filme de 1h30 narra os encontros de Cohn Bendit com personagens conhecidos e desconhecidos do país durante uma viagem de 7 mil quilômetros em uma kombi, que o levou de norte a sul do Brasil. As gravações aconteceram durante a Copa do Mundo, entre junho e julho de 2014.
Daniel Cohn-Bendit dispensa apresentações. Líder do movimento de maio de 68 na França, ele se aposentou no ano passado, deixando o Parlamento Europeu depois de 20 anos de participação ativa. Mas abandonar a cadeira em Estrasburgo não significou um afastamento total da vida política. Pelo contrário: com um pouco mais de tempo, Cohn-Bendit decidiu unir três de suas paixões: o militantismo, o futebol e o Brasil.
O fio condutor do documentário é sua amizade com Sócrates, que nasceu no início dos anos 80, quando o político alemão, mas nascido e criado na França, viajou pela primeira vez ao país. Encantado com a "democracia corintiana" instaurada pelo time do doutor, que apoiava diretamente o movimento "Diretas Já" em campo, ele faz um paralelo entre o futebol brasileiro da época e os dias de hoje –o esporte, diz, tornou-se um mercado de jogadores que fazem carreira no exterior e estão desconectados da vida e dos problemas do país.
Uma constatação que Cohn-Bendit fez durante a Copa do Mundo, marcada pelas manifestações contra os gastos do governo para o evento e a desilusão da derrota avassaladora por 7 a 1 contra a Alemanha, campeã do mundo. "Meu objetivo com esse filme era dar voz para aqueles que nunca podem se expressar", explicou Cohn-Bendit.
Ao longo dos 90 minutos de filme, como numa partida de futebol, desfilam alguns personagens inesperados: um pai de santo, um líder da periferia paulistana e até mesmo Uera, o índio-guarani que fez um protesto durante a cerimônia de abertura pedindo demarcação das terras indígenas.O encontro com Uera é é um dos momentos mais marcantes do documentário. Conh-Bendit entrou em contato com ele pelo Facebook e marcou uma reunião em sua tribo -um vilarejo remoto no estado de São Paulo. "A gente se perdeu um pouco saindo de São Paulo, ficamos entre a cruz e a espada, chegamos à noite, e no dia seguinte pudemos falar com ele", explica.
O documentário também traz entrevistados célébres e conhecidos dos franceses, como Raí, Gilberto Gil e o deputado Alfredo Sirkis, guerrilheiro na época da ditadura. O político alemão lamenta a ausência de Romário, que segundo ele, não estava disponível quando a equipe desembarcou em Brasília. "Ele é o símbolo de um jogador que se engaja em política: senador, parlamentar, é ele que faz as críticas mais duras contra a corrupção no futebol. E essa seria a contribuição dele para o documentário".
Por enquanto, ele descarta a possibilidade de produzir uma continuação do filme, mesmo que não falte assunto para isso. “Poderíamos imaginar muito bem fazer outro documentário, que não fosse ligado ao futebol, mas à situação social política do Brasil de hoje, que é contraditória. A vitória de Dilma, o desgaste dos partidos políticos e a sociedade que está em compasso de espera".
“Torci pelo Brasil”
Apesar de ser alemão, Cohn-Bendit torceu pelo Brasil e disse ter ficado "arrasado" com o placar da semifinal. "Sou alemão por acaso. Eu sonhava com uma final Brasil-Argentina. Para o clima e a emoção, teria sido o auge. Fiquei muito, muito triste durante esse jogo. É horrível, fio horrível". O documentário "Na Estrada com Sócrates" estreia no dia 10 março na França. Nos dias 13 e 14 de abril, Daniel Cohn-Bendit estará no Brasil participando do Festival "É Tudo Verdade", que acontece no Rio e em São Paulo.
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