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Linha Direta

Discurso do Estado da União de Obama foi marcado pelo tom de otimismo

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Já está na hora de virar a página, reconhecer que a crise financeira e a recessão foram domadas e olhar com otimismo para o futuro dos Estados Unidos. Esta foi a linha-mestra do tradicional discurso do Estado da União, proferido pelo presidente Barack Obama, na noite de ontem (20), em Washington, na Casa dos Representantes. Com duros recados à direita, o presidente defendeu uma série de medidas que classificou de “economia voltada para a classe média”, em uma prévia da disputa ideológica entre democratas e republicanos para sua sucessão no ano que vem.

O presidente norte-americano Barack Obama durante seu discurso sobre o Estado da União em 20 de janeiro de 2015.
O presidente norte-americano Barack Obama durante seu discurso sobre o Estado da União em 20 de janeiro de 2015. REUTERS/Mandel Ngan/Pool
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Eduardo Graça, correspondente da RFI Brasil em Nova York

Se alguém ainda tinha alguma dúvida, o presidente deixou claro ontem sua decisão de vetar qualquer proposta que busque podar suas principais iniciativas pelo Legislativo, dominado pelos republicanos. Além de pedir a aprovação imediata do fim do embargo a Cuba, Obama defendeu o aumento do salário mínimo e avisou que em duas semanas envia para o Congresso um pacote reunindo sua nova agenda,

O consenso entre os analistas é o de que o presidente Obama fez um discurso forte, decisivo, desafiador. Acuado pela maioria republicana, ele partiu para o ataque, afirmando que o veredito de seu ciclo no poder está claro nos números vitoriosos da economia ianque, ou seja, deu certo. Ele começou lembrando que os EUA crescem e criam mais empregos no ritmo mais rápido e constante desde 1999, quando outro democrata ocupava a presidência, Bill Clinton. A taxa de desemprego bate recordes negativos, o país não depende mais da importação de petróleo e não há ocupação militar nem no Iraque nem no Afeganistão. Ele resumiu assim seu discurso: “A sombra da crise passou e os Estados Unidos estão fortes”. E improvisou, para alegria dos democratas, enfatizando “gente, estas são boas notícias!”.

Mas, apesar de todo o otimismo, os desafios dos dois últimos anos do ciclo Obama serão duros, especialmente os desafios políticos. A mais recente pesquisa de popularidade do presidente dava a ele apenas 46% de apoio dos eleitores. Daí os dois principais recados em tom populista do discurso. Obama avisou que irá circular pela América Profunda nas próximas semanas para defender suas novas propostas, focando na pressão popular contra o Congresso, majoritariamente de direita, para avançar suas iniciativas. Também ofereceu a seguinte questão aos republicanos: “Para vocês que se recusam a aumentar o salário mínimo, respondam: se você honestamente acredita que pode bancar sua família ganhando menos de US$ 15 mil por ano (algo em torno de R$ 3.250 por mês), tente! Ou então dê seu voto para os milhões de trabalhadores americanos receberem seu devido aumento”.

Ou seja, o presidente ofereceu uma plataforma para o virtual candidato democrata à sua sucessão, provavelmente sua ex-secretária de Estado, Hillary Clinton. Daí a repetição no discurso do termo "economia voltada para a classe média”. Foi justamente a classe média que migrou para o flanco republicano nas eleições do ano passado e são estes eleitores que vão decidir a disputa entre, quem sabe, entre Hillary Clinton e o ex-governador Jeb Bush no ano que vem. Daí Obama perguntar, ontem, se os EUA do futuro serão os que terão uma economia cujos beneficiários serão apenas os mais ricos ou se a desigualdade social será combatida por seus sucessores.

Os principais destaques do pacote de medidas que precisarão de apoio republicano no Capitólio para se tornarem lei são medidas bem distantes do direitismo republicano. A Casa Branca quer reduzir o pagamento de hipotecas para famílias de baixa renda; criar um inédito sistema de ensino gratuito nas chamadas universidades comunitárias, que hoje são responsáveis pela formação de 40% dos profissionais com nível superior nos EUA; instituir a licença-remunerada de sete dias para trabalhadores por motivo de doença; além da reforma tributária, que aumenta impostos para ricos e o setor financeiro, e oferece alívio para os mais pobres. Na política externa, além de Cuba, o presidente avisou que vai pedir ao Congresso que aprove ação militar contra o grupo Estado Islâmico e disse que os EUA irão combater terroristas onde estiverem, nas montanhas do Paquistão ou nas ruas de Paris, um dos momentos em que ele foi mais aplaudido.

Vocês podem me perguntar se há alguma chance de os republicanos trabalharem com os democratas para encontrarem algo como um meio-termo entre as propostas da Casa Branca e o ideário conservador. Esta é a pergunta de um milhão de dólares. A campanha eleitoral de 2016 começa em agosto deste ano com os primeiros debates entre os pré-candidatos republicanos. Será um ano importante para os candidatos se posicionarem sobre o que o presidente Obama sintetizou, ontem, com a frase “os EUA que queremos viver nos próximos 15 anos”. Boa parte dos pré-candidatos da oposição está no Congresso. Eles terão uma tarefa difícil: negar o discurso vitorioso de Obama e, ao mesmo tempo, aprovar medidas que deem ao eleitor a certeza de que a oposição também sabe governar. Vai ser interessante observar
 

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