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Fato em Foco

Alunos franceses se manifestam contra Charlie Hebdo e preocupam governo

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Uma semana após o atentado contra a redação da revista Charlie Hebdo, é a educação francesa que é vítima de ataques. E de seus próprios estudantes. Já na semana passada, alunos do ensino fundamental e médio de toda a França, mas principalmente na periferia de Paris, se recusaram fazer um minuto de silêncio por Charlie Hebdo. Incidentes violentos, como um estudante que foi espancado por colegas ao se solidarizar ao movimento Je Suis Charlie, também foram registrados em escolas no interior do país nesta semana.

Reprodução France 3
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Em outros estabelecimentos, professores relatam que os alunos se manifestam a favor dos autores dos atentados da semana passada. Em Paris, estudantes de um liceu exibiam um bottom escrito "Je suis Said", em apoio Said Kouachi, um dos irmãos responsável pelo massacre de Charlie hebdo.

No total, 200 incidentes foram contabilizados nas escolas francesas, 40 deles foram registrados na polícia. A situação alarmou o governo, que convocou uma reunião de emergência com representantes do setor da educação.

Educação nacional falhou

Para o sociólogo do Centro de Pesquisa Sobre os Laços Sociais e professor emérito da universidade Paris Descartes, Eric Plaisance, especialista em educação, as instituições de ensino falharam ao esquecer de inserir os valores republicanos franceses na educação dos alunos. “É preciso que, a partir de agora, sejam colocadas em prática novas políticas de educação para que os jovens sejam instruídos de acordo com os valores franceses de laicidade, de cidadania e respeito ao próximo”, acredita.

O presidente da Federação Nacional do Ensino Muçulmano, Makhlouf Mameche, participou do encontro promovido pelo ministério da Educação nesta semana. Ele é a favor de reformas no sistema educacional, mas acredita que a escola não é a única responsabilizada pelos incidentes nos colégios e liceus franceses.

“Dizer que os manifestos nas escolas francesas contra Charlie Hebdo é culpa do ensino é um pouco exagerado. A educação nacional não pode ser responsável por tudo o que se passa na França”, diz. Segundo Mameche, tanto as instituições educacionais, como as famílias e a sociedade, como um todo, precisam dividir essa responsabilidade.

Para ele, é necessário conjugar os valores da república francesa com os valores do Islã para evitar que casos como os do irmãos Kouachi se repitam. “É preciso fazer um grande trabalho com esses jovens, em conjunto com a educação nacional, com a comunidade muçulmana e com as famílias para formarmos nossos futuros cidadãos”, defende.

Complexidade dos fatos

A brasileira Silvia Capanema é vereadora da cidade de Saint-Denis, no subúrbio de Paris, onde a população muçulmana é numerosa e onde vários alunos se posicionaram contra o movimento Je Suis Charlie. Ela acredita que, devido à complexidade dos fatos, o comportamento destes jovens é justificável. “Se nós mesmos, adultos, formados, intelectuais, jornalistas, professores, políticos, temos dificuldade de compreender o que acontece, imaginem os alunos”, observa.

Segundo ela, tentar interpretar as reações dos jovens nas escolas francesas como uma propensão ao extremismo é muito precipitado. “A verdade é que a comunidade muçulmana tem muita coisa a dizer e nunca os ouvimos. Então é hora de ser solidária a ela e não deixar que ela se isole”, defende.

Plaisance defende a liberdade dos estudantes de se posicionar contra Charlie Hebdo, mas ressalta que o problema começa quando essas manifestações vão em direção ao extremismo. “Há uma diferença muito grande entre não concordar com o jornal e apoiar o terrorismo. Se essa distinção não é feita, a situação é muito grave”, finaliza.

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