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Reportagem

Estudo mostra que protestos evidenciam fragilidade do governo do PT

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Passados mais de 10 anos de governo petista, os protestos que movimentaram o Brasil em meados de 2013 despertaram o Partido dos Trabalhadores (PT) para a desconexão da sigla com os movimentos sociais e a classe média brasileira. As manifestações ainda evidenciaram a fragilidade do poder do partido que, dependente das alianças no Legislativo para conseguir governar, acabou por abandonar ou adiar as principais promessas feitas no auge da mobilização, em junho.

Segundo as pesquisas, a presidente Dilma Rousseff deve se reeleger para um segundo mandato nas eleições de outubro.
Segundo as pesquisas, a presidente Dilma Rousseff deve se reeleger para um segundo mandato nas eleições de outubro. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Essas são algumas das conclusões do relatório 2013 do Observatório Político da América Latina e do Caribe da Sciences Po, divulgado nesta sexta (10), em Paris. O estudo, revisado anualmente, apresenta um panorama dos países latinos e dá destaque ao Brasil.

No capítulo “O Partido dos Trabalhadores: uma década no poder (2003-2013)”, o pesquisador Frédéric Louault observa que, apesar do crescimento acelerado nos anos do governo Lula, o PT subestimou os primeiros sinais de descontentamento da classe média brasileira, que culminaram nas manifestações de junho de 2013. Nesta ocasião, ao tentar apresentar uma resposta à população, os petistas se viram bloqueados pelos partidos que sustentam a base aliada.

“As negociações políticas que se sucederam às manifestações mostram a que ponto a dominação do PT na vida política se tornou frágil e dependente dos jogos de alianças”, escreve o pesquisador, em relatório apresentado no Ministério das Relações Exteriores da França. “A um ano das eleições presidenciais de 2014, Dilma Rousseff saiu fragilizada deste braço de ferro com o poder Legislativo.”

As manifestações de junho – que pegaram os petistas “de surpresa”, lembra Louault – também deixaram claro que o voto das classes populares, beneficiadas pelo Bolsa Família, não era suficiente para sustentar o governo. “Eleitoralmente, essa é uma realidade: os pobres votam no PT em reconhecimento aos programas sociais. Mas na política do dia a dia, isso não é suficiente”, destaca.

“Obcecado por indicadores econômicos” e com uma situação confortável nas urnas, o governo petista não tinha percebido o distanciamento dos movimentos sociais, tradicionais aliados da sigla. “O PT, ao negociar muito com as forças políticas tradicionais, deixou de lado os aliados que tinha na sociedade civil, como as forças sindicais e os grandes movimentos sociais, como a CUT e o MST”, explica. “Concentrados nos indicadores macroeconômicos, eles pensavam que o apoio dos setores sociais estava garantido. Este foi um erro importante do governo de Dilma Rousseff.”

Para completar, o partido não contava mais com o apoio da juventude, uma das bases do eleitorado de esquerda. Para Louault, esta constatação se reflete em outro problema, o da renovação das elites internas do partido. “O PT tomou consciência deste problema muito tarde. Agora, ele precisa repensar essa questão de uma maneira muito radical”, considera.

O presidente do Observatório Político da América Latina e do Caribe, Olivier Dabène, ressalta que os progressos econômicos verificados nos últimos anos em países como Brasil e Chile têm um “efeito perverso”: o aumento das exigências por serviços públicos de melhor qualidade. Este é um desafio para os próximos governos que serão eleitos neste ano em sete países latino-americanos, nos quais, na maioria dos casos, a esquerda deve permanecer no poder.

“A esquerda tem uma posição quase hegemônica e vai ganhar no Brasil, na Bolívia, provavelmente no Uruguai. Nestes países, a direita não consegue competir”, analisa Dabène. “A classe média frustrada pode até votar em uma esquerda mais radical, mas não na direita, que não tem um projeto definido. A América Latina não tem uma direita que tenha um projeto alternativo, portanto é bastante fácil para os partidos de esquerda fazer campanha. A oposição é muito fraca”, constata o pesquisador.

Além do Brasil, da Bolívia e do Uruguai, também haverá eleições em 2013 no Panamá, na Costa Rica, em El Salvador e na Colômbia.

 

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