“O imbróglio paraguaio continua. Houve golpe? Houve sim senhor! Mas não foi no Paraguai, foi no Mercosul. Vejamos. Depois de uma reunião sumaríssima dos três outros presidentes mercosulinos, foi anunciado que a participação do Paraguai estava suspensa até as próximas eleições de abril 2013 e que a Venezuela tinha sido aceita como membro pleno do bloco. É bom lembrar que qualquer candidatura tem de ser aprovada pelos Parlamentos dos Estados membros do Mercosul. O Senado paraguaio vinha bloqueando a entrada da Venezuela há anos. Mas não há de ser nada: com uma manobra de bastidores digna dos tempos dos coronéis de engenho, a ausência forçada dos paraguaios foi utilizada para enfiar o tenente-coronel Hugo Chávez. Não é à toa que o chanceler do outro pequeno país do bloco, o Uruguai, esteja agora denunciando o conluio Brasil-Argentina, afirmando que o presidente Mujica foi contrário à decisão e dizendo que a coisa não é juridicamente definitiva... Aproveitando a situação para fazer entrar a Venezuela pela janela, o Brasil deu um tiro no pé. É claro que a Argentina dos Kirchner militava pela entrada da República Bolivariana no bloco para poder contar com um aliado para “equilibrar” o peso do Brasil. Não é bem uma boa notícia para a diplomacia regional brasileira. Pior ainda: com a Venezuela, cujo modelo econômico e os valores políticos autoritários têm pouco a ver com os dos outros membros, o Mercosul arrisca não só ficar paralisado mais ainda por divergências internas, mas também de não poder concluir ou até negociar qualquer acordo econômico com blocos ou países terceiros, fora Cuba, Irã e Coréia do Norte. O golpe dado no Paraguai e no Mercosul pelo Brasil e a Argentina, afunda ainda mais o bloco na irrelevância. Boa jogada!” Ouça a crônica de política internacional de Alfredo Valladão.
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