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Linha Direta

Volta dos panelaços na Argentina ameaça governo de Cristina Kirchner

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Milhares de argentinos devem participar de novo panelaço, nesta sexta-feira, em protesto contra o governo de Cristina Kirchner. Ontem, apesar do frio próximo de zero grau, milhares marcharam até a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo. Cansados da violência, da inflação e da corrupção, muitos foram bater panelas em frente à residência presidencial de Olivos, onde a presidente descansava.

Argentinos lotam a avenida da Casa Rosada em panelaço na noite de quinta-feira, 7 de junho, em Buenos Aires.
Argentinos lotam a avenida da Casa Rosada em panelaço na noite de quinta-feira, 7 de junho, em Buenos Aires. REUTERS/Enrique Garcia Medina
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Marcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A inflação galopante, os repetidos escândalos de corrupção e um governo que parece ter perdido o rumo da economia vem formando um coquetel explosivo na Argentina. Mas nada se compara com a proibição de comprar dólares.

O dólar é o refúgio histórico dos argentinos. Sem opções em moeda local para preservar o valor do dinheiro, os argentinos poupam em dólares nos bancos ou debaixo dos colchões. Além disso, boa parte da economia usa dólares para as transações comerciais. O melhor exemplo é a compra e venda de imóveis que aqui é sempre em dólares.

Em novembro passado, o governo impôs restrições à compra de dólares e fez surgir um mercado paralelo. Essas restrições viraram proibição em maio e fizeram o dólar paralelo disparar. Começou uma desconfiança de que haverá uma forte desvalorização do peso e de que os depósitos em dólar serão transformados obrigatoriamente em pesos desvalorizados. Com essa estranha sensação de déjà vu, os argentinos começaram a retirar suas economias dos bancos. Desde de novembro, já saíram 25% dos depósitos em dólar.

Dez anos atrás a Argentina conhecia o Corralito, que foram as restrições ao saque bancário transformadas rapidamente no congelamento dos depósitos em dólar. E como diz um ditado conhecido na Argentina, quem se queimou com leite, quando vê uma vaca, chora.

Assim como há 10 anos, os panelaços marcam um limite até onde a classe média e alta estão dispostas a aguentar tanta incerteza e medidas que afetam o bolso do cidadão. Há 10 anos, esses protestos foram massivos e derrubaram dois governos. Essa é a força dessa modalidade de protesto, o mais temido por todos os líderes desde então.

Por enquanto, os panelaços de 2012 mobilizam as classes que podem poupar em dólares ou que podem adquirir bens em dólares. O risco é que esse mau humor social se generalize e chegue a toda classe média nos grandes centro urbanos ou que a classe baixa se sinta envolvida, por exemplo, com perdas salariais ou de emprego. A economia argentina se desacelera velozmente, há risco de recessão e a inflação já passa de 25% ao ano.

O país está convivendo com três grandes dificuldades: restrições à compra de dólares, fechamento das importações e uma queda vertiginosa do crescimento econômico com rumores de que já teria entrado em recessão.

Sem acesso ao crédito internacional e sem querer diminuir o gasto público, motor econômico do país e político do governo, a ordem é segurar os dólares no país. Por isso, não se vende ao público. O fechamento das importações é tão forte que a própria indústria argentina que precisa de certos insumos importados para terminar um produto nacional, começa a ter problemas para produzir. As empresas começam a suspender empregados num perigoso círculo vicioso.

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