Rússia anuncia criação de sua própria agência de classificação de risco
O banco central da Rússia oficializou nesta sexta-feira (24) seu projeto de criar sua própria agência de classificação de riscos, depois de as agências internacionais rebaixarem a nota de sua dívida pública. Vários países emergentes já tentaram reduzir o domínio de Standard & Poor's, Moody's e Fitch, sem conseguir impor uma nova instituição.
Publicado em: Modificado em:
A nova agência terá um capital de 3 bilhões de rublos - R$ 168 milhões -, que serão repartidos em partes iguais e inferiores a 5% entre tipos variados de investimentos (bancos, seguros etc.). A responsável pelo projeto é Ekaterina Trofimova, vice-presidente do banco público Gazprombank, e ex-funcionária da Standard & Poor's.
Em comunicado, o banco central russo informou que o mercado do país precisa de uma agência de notação "forte, com direção de alto nível, capacidade de satisfazer os interesses da economia e autoridade frente aos investidores russos e estrangeiros".
Se conseguir se estabelecer, a instituição russa poderá significar mais um passo rumo à descentralização econômica do mundo. Na última cúpula dos BRICS, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul deram o pontapé inicial com a formalização do Novo Banco de Desenvolvimento.
Rebaixamento político
A Standard & Poor's e a Moody's reduziram a nota da dívida russa à categoria "especulativa", depois da queda do rublo no ano passado, em função da desvalorização dos preços do petróleo e das sanções internacionais relacionadas com a crise na Ucrânia.
Essa decisão, que não foi aplicada pela Fitch, pode levar alguns investidores a tirar a dívida pública russa de suas carteiras. Com isso, o governo e, consequentemente, as empresas do país, podem ter dificuldades de se endividar a juros baixos. Moscou acusou Washington de estar por trás desse rebaixamento por razões "políticas".
Sob críticas
Antes mesmo de entrar em vigor, o projeto russo já foi alvo de críticas: teme-se que a futura instituição careça de independência - fator determinante para que os mercados possam confiar nas notas atribuídas a títulos de Estados, empresas e administrações regionais.
Não que as agências tradicionais primem pela independência: em 2007, elas ignoraram seguidos avisos de especialistas e mantiveram a nota máxima dos subprimes, os títulos hipotecários norte-americanos de alto de alto risco, para satisfazer Wall Street. O aval das agências a esses chamados "papéis podres" foi fundamental para a formação da bolha que originou a crise hipotecária e a consequente crise da dívida, vigente até hoje.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro