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Radar econômico

Para analistas, governo brasileiro usa crise internacional como “bode expiatório”

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A crise internacional é um dos argumentos preferidos do governo brasileiro para explicar os números negativos da economia desde o ano passado. Mas, na opinião de analistas na Europa, as turbulências no exterior não justificam a queda do crescimento econômico e a perspectiva de recessão no país.

País falhou em promover melhoria da competitividade na época do crescimento alto, segundo especialistas.
País falhou em promover melhoria da competitividade na época do crescimento alto, segundo especialistas. GERJ
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Os últimos dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que o PIB do Brasil cresceu 0,1% em 2014. Na opinião do economista Stéphane Straub, professor da Universidade de Toulouse 1 e especialista em desenvolvimento na América Latina, a crise no exterior tem pouco impacto nesse desempenho.

“Me parece que uma grande parte dos problemas enfrentados pelo Brasil não são unicamente ligados à conjuntura internacional. É verdade que uma parte importante do mundo enfrentou uma fase de recessão, e isso não podemos negar. Mas há outros fatores, de perda de competitividade e de produtividade do Brasil em relação a outros países, como a China, inclusive no mercado latino-americano”, explica. “Fingir que isso não existe e afirmar simplesmente que o Brasil é vítima da crise internacional não me parece uma boa solução.”

A influência externa que poderia afetar o Brasil vem de quatro eixos principais: a instabilidade na Grécia, o conflito na Ucrânia, a desaceleração do crescimento da China e a redução das medidas de estímulo à economia americana, com o aumento dos juros nos Estados Unidos. Nenhuma dessas situações, entretanto, causa um forte impacto na economia dos principais países em desenvolvimento, destaca Wilber Colmeraüer, presidente da Emerging Markets Funding, consultoria britânica especializada em investimentos em países emergentes.

“O argumento da crise está sendo utilizado como bode expiatório e utilizado de uma forma muito política. Não posso dizer que o ambiente internacional é fantástico ou perfeito. Existem problemas, mas são isolados”, afirma. “Se olhamos ao redor, vemos países que estão se desenvolvendo bem. Não podemos esquecer que o setor exportador brasileiro corresponde a 12 a 15% do PIB. O Brasil ainda é um país insular, portanto esse efeito externo tem uma certa limitação.”

Pilares estremecidos

Colmeraüer avalia que o pecado do Brasil foi negligenciar dois dos três pilares da economia, ao deixar as contas públicas se deteriorarem rapidamente e perder o controle da inflação. “Quase ninguém tem problema de inflação no mundo - Brasil e Ucrânia, que está em guerra, são um dos poucos países do mundo a estarem com inflação alta. Aqui na Europa, o problema é justamente o contrário, a deflação”, observa. “No Brasil, houve um problema de confiança. A partir do momento em que as suas contas ficam deterioradas, você acaba tendo problema de confiança na moeda do país.”

Os especialistas destacam que o país também falhou na realização de reformas durante os anos de crescimento acelerado. Stéphane Straub usa a metáfora da cigarra e da formiguinha para explicar que outros países latino-americanos, como o Chile, foram mais eficientes na consolidação da economia a longo prazo.

“A lógica seria aproveitar as fases de expansão para preparar os tempos difíceis. Uma questão muito importante, de redistribuição de renda, foi realizada com sucesso e é muito positiva. Mas as reformas para melhorar a eficiência da aparelhagem produtiva foram muito negligenciadas, especialmente as infraestruturas”, ressalta. “Isso está custando caro hoje, devido a uma conjuntura negativa, a queda dos preços das matérias-primas, etc.”

Investimentos em baixa

Segundo Wilber Colmeraüer, que orienta investidores europeus em busca de negócios nos países emergentes, as incertezas no Brasil levaram as empresas a preferirem outros portos mais seguros, como a Índia. Mas a valorização do dólar em relação ao real tem voltado a tornar o país atrativo, além de aumentar a competitividade dos exportadores brasileiros.

Para o analista, as perspectivas são positivas para o Brasil a médio prazo, à condição de o governo conseguir ajustar as contas públicas e transmitir mais confiança sobre os rumos da economia.
 

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