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França/Filosofia

Crítico de regimes autoritários, filósofo André Glucksmann morre na França

O filósofo André Glucksmann, grande crítico dos regimes totalitários e dos crimes dos regimes comunistas, morreu na França na noite desta segunda-feira (9), aos 78 anos. O intelectual passou os últimos anos muito doente, combatendo vários tipos de câncer. No Brasil teve vários livros traduzidos, entre eles, "O discurso do Ódio", da editora Difel.  

O filósofo francês, André Glucksmann.
O filósofo francês, André Glucksmann. © AFP
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Em seu perfil no Facebook, seu filho Raphaël, cineasta, rendeu uma homenagem ao pai: "Meu primeiro e melhor amigo se foi. Tive a sorte incrível de conhecê-lo, rir, debater, viajar, jogar fazer tudo e fazer nada com esse homem tão bom quanto genial. Meu pai morreu ontem à noite".

Comunista na juventude, Gluscksmann rompeu com o marxismo nos anos 70 e fez parte, junto com outros filósofos franceses famosos, Bernard-Henri Lévy e Pascal Bruckner, de um grupo que ficou conhecido como os "Novos Filósofos". Ele sempre se reivindicou de esquerda, mas defendeu posições polêmicas como a ocupação do Iraque, a política israelense para a questão palestina e a intervenção ocidental na Sérvia, em 1999, para defender a minoria kosovar.

Em um de seus livros mais conhecidos, "A Cozinheira e o Canibal", editado no Brasil pela Paz e Terra, Glicksmann escreveu: "o marxismo não produz apenas paradoxos científicos, mas também campos de concentração". Esta análise teve o efeito de uma bomba na elite intelectual francesa que esteve bastante identificada com o marxismo.

Afastamento de Nicolas Sarkozy

Do anticomunismo, Gluscksmann continuou seu combate contra o antitotalitarismo e pela defesa dos Direitos Humanos. Em 1977, ele conseguiu reunir o grande intelectual de esquerda Jean-Paul Sartre e o filósofo liberal Raymond Aron. Juntos, eles foram levados por Gluscksmann ao Palácio do Eliseu para convencer o presidente Valéry Giscard d'Estaing a intervir para ajudar os refugiados do Vietnã.

Depois da queda do comunismo e o fim da União Soviética, o filósofo continuou a denunciar o autoritarismo do presidente Vladimir Putin. Sua crítica ao líder russo o afastou de Sarkozy, por não suportar a proximidade do ex-presidente francês com o dirigente do Kremlin. Glucksmann havia apoiado a candidatura de Sarkozy à presidência em 2007.

Em 2013, Glucksmann publicou um artigo na imprensa francesa denunciando que o tratamento aos ciganos  da etnia Roma não era "republicano". Ele insistia que a França deveria continuar sendo uma "terra de acolhida" a imigrantes.

Reações

Assim que confirmada a morte de Glucksmann, a classe política francesa rendeu homenagens ao trabalho do filósofo. "A indignação, o destino dos povos, o rigor do intelectual: André Glucksmann guiava as consciências. Sua voz fará falta", declarou o primeiro-ministro Manuel Valls.

O ministro da Economia, Emmanuel Macron, lembrou a contribuição de seu pensamento para o universo acadêmico: "Esquecemos atualmente, mas houve um verdadeiro combate intelectual no mundo crítico, no ambiente político e universitário francês quando se tratava de falar de regimes totalitários, em particular do comunismo, e ele fez parte dos filósofos corajosos que se engajaram no debate público, neste combate, e que esclareceu bem cedo. É um verdadeiro espírito crítico e ao mesmo tempo uma consciência que desaparece".

O ex-ministro francês da Cultura, Jack Lang, que teve diversos desentendimentos com o intelectual, saudou "o rigor interno, a necessidade que tinha André Glucksmann de expressar solidariedade" com as populações mais vulneráveis.

 

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