Intimidade da toalete feminina é tema de mostra em Paris
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A nudez, o pudor e a intimidade através dos séculos na arte – a proposta é de uma exposição no museu Marmottan Monet, de Paris. “Nascimento da Intimidade” aborda a questão através de obras de arte a partir da Renascença até hoje, de tapeçarias do século 16 até a fotografia de Bettina Rheims, passando pelos impressionistas e Picasso.
Considerada suja e responsável por doenças e pragas que dizimaram populações na Idade Média, a água vai desaparecendo de cena a partir da Renascença. Nadeije Laneyrie-Dagen, curadora da mostra, conta que o objetivo foi falar de algo que “só interessa a si mesmo, tão íntimo que não queremos que os outros vejam; e que, consequentemente, atiça a vontade de outro em querer ver, de maneiras diferentes, a cada período”.
A partir do século 17, a mulher é pudica e se cobre. Na arte, ela é mostrada tomando banho vestida, ou ajustando uma gola, ou penteando os cabelos. Quem mostra o corpo são mulheres de camadas sociais mais populares. Uma pintura de Georges de la Tour, por exemplo, traz uma doméstica nua, à luz de vela, catando pulgas pelo corpo.
Voyeurismo pré-Playboy
A intimidade no século 18 ganha outras facetas com a chegada da água encanada. A libertinagem e o erotismo estão de volta à arte. Já o século 19 é mais explícito. Dois quadros de François Boucher dão uma idéia do voyeurismo pré-revista playboy: eles mostram a mesma mulher, com a mesma roupa, em posições semelhantes mas fazendo coisas distintas – em um ela brinca com um cachorrinho e no outro está fazendo xixi num penico. São amostras de pinturas reservadas a espaços estritamente masculinos.
“No final do século 19, com Manet e Degas, e início do século 20, com Bonnard, a toalete é mais comum, faz parte do dia-a-dia”, acrescenta a curadora. As banheiras e a água integram a intimidade feminina e são refletidas também nas obras de Degas, Picasso, Léger e outros.
Corpo contextualizado
A exposição do museu Marmottan Monet, longe do burburinho turístico de Paris, tem atraído muitos visitantes. A historiadora de arte Anne-Marie conta que gostou muito da exposição justamente por ela fugir do voyeurismo puro: “a relação com o corpo é contextualizada, tem a ver com a higiene, com a maneira de se lavar e isso confere uma outra dimensão à mostra”.
“Nascimento da Intimidade”, fica em cartaz no museu Marmottan Monet até 5 de julho.
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