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Brasil/Redes

Paris x Mariana: brasileiros criticam disparidade de reações nas redes sociais

Não demorou mais do que um dia para que, depois da comoção com os atentados da última sexta-feira (13) em Paris, muitos brasileiros se revoltassem com a cobertura da mídia e as reações de solidariedade dos internautas às vítimas na França. No Facebook e no Twitter, muitos usuários criticaram a falta de notícias sobre o rompimento das barragens de Mariana (MG) e do excesso de informações sobre os ataques na capital francesa.

Imagem aérea do distrito de Bento Rodrigues destruído pela onda de lama.
Imagem aérea do distrito de Bento Rodrigues destruído pela onda de lama. REUTERS/Ricardo Moraes
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Em uma lógica já conhecida nas redes sociais, primeiro uma onda de comoção tomou conta da internet. Em poucas horas, foram criadas as hashtags #PrayForParis (reze por Paris, em português) e #JeSuisParis ("Eu sou Paris", em referência ao movimento #JeSuisCharlie criado no começo do ano com os atentados de janeiro). Depois, foram os memes, fotos com mensagens pedindo solidariedade aos franceses. No mais célébre deles, o desenho da torre Eiffel aparece em um círculo que imita o tradicional símbolo do "paz e amor".

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Reportagem Paris 15.11

Para o brasileiro Diogo, que mora há seis anos em Barcelona e estava em Paris a passeio neste domingo (15), esse tipo de reação é uma consequência da popularização das redes sociais, que incitam os usuários a participar de movimentos online e a exprimir publicamente suas opiniões.

Além disso, para ele, a notícia de um atentado é vendida pela mídia como mais impactante por ser uma situação inédita no Brasil. "Em geral, os brasileiros ficam realmente mais impressionados com o terrorismo porque, apesar de termos violência urbana no país, nunca fomos palco de um atentado", diz.

Culpa da França

A onda de apoio aos franceses não durou muito tempo. No dia seguinte aos ataques de sexta-feira, mensagens circulavam nas redes atribuindo a culpa do atentado ao governo francês.

Muitos internautas argumentam que os países desenvolvidos financiam o grupo Estado Islâmico, autor dos atentados de Paris. De acordo com usuários do Twitter e do Facebook, os franceses estão pagando pelas más decisões de seus governantes. Outros ainda publicam que os responsáveis pelas violências são refugiados recebidos pela Europa.

"O problema é que a mídia está dando uma dimensão aos incidentes de Paris muito maior do que eles têm", avalia a brasileira Vanessa Cruz. Para ela, grande parte dos jornais brasileiros dão a impressão para o público de um drama muito maior na capital francesa. Em Paris a turismo, ela ressalta a tranquilidade nas ruas e diz não ter se sentido em perigo em nenhum momento neste fim de semana.

"Na África, morre gente todos os dias"

Diante do Bataclan, um dia depois do atentado, um cabo-verdiano que não quis se identificar estava indignado com toda a atenção da mídia de todo o mundo aos incidentes em Paris. "Na África, morre gente todos os dias. Lá a violência não dá trégua. E ninguém se importa. Todo esse drama existe porque os atentados aconteceram na França, e as vítimas são francesas", desabafou.

No mesmo dia, no Facebook, o meme "Mapamundi Trágico" começou a ser compartilhado. Nele, há cinco tipos de classificação sobre a importância de tragédias no planeta. Na Europa ocidental, Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália, um incidente grave é "uma grande tragédia", mais dramatizado do que no resto do mundo.

Na Europa do Leste, América do Sul, México, África do Sul e Índia, a gravidade ganha a legenda "nossa, que triste!". Na Rússia, China e alguns países do Oriente Médio, as tragédias são consideradas normais, com a classificação "assim é a vida".

Uma outra parte das nações asiáticas recebe a legenda "um momento, esse país existe?". Já a quase totalidade do continente africano, de acordo com o meme, não tem nenhuma relevância para a opinião pública e recebe a classificação "foda-se".

No final da tarde de ontem, os brasileiros começaram a se revoltar sobre o excesso de notícias sobre os atentados da capital francesa e a falta de informações sobre a tragédia de Bento Rodrigues, em Minas Gerais. "Chore por Paris, coloque a bandeirinha da França no seu perfil, mas não esqueça disso", diz um meme compartilhado hoje, com uma foto de um cadáver na lama de rejeitos da Samarco.

"As duas situações são preocupantes e revoltantes"

Para a brasileira Isabela, que está na capital francesa a trabalho, é impossível comparar os incidentes de Paris com os de Minas Gerais. "Não dá para dizer que um é mais importante que o outro. Os dois acontecimentos são muito tristes."

A sul-mato-grossense Ana Paula Hermann, moradora de Paris, cansada da polêmica, publicou em sua página no Facebook: "Aos meus compatriotas brasileiros: mesmo sem nenhum índice comparativo, o desastre em Minas Gerais é tão grave quanto os atos terroristas em Paris. As duas situações são preocupantes e revoltantes".

Morador do 11° distrito, onde foram registrados os atentados de sexta-feira, o brasileiro Geraldo Prado analisa a diferença entre os dois incidentes: "O que aconteceu aqui é consequência de vários fatores em todo o mundo. Em Minas Gerais, vemos as consequências de um péssimo governo e de da escolha da população que elegeu esses governantes".

Para Prado, as reações dos brasileiros nas redes sociais também fazem parte de um comportamento que classifica como "terceirização da culpa". "É mais fácil responsabilizar a mídia do que assumir seus próprios erros e reconhecer que o problema está em nossos próprios representantes", conclui.

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Reportagem Paris 15.11

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