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Brasil/Dilma Rousseff

"O calvário de Dilma Rousseff", diz Le Monde sobre crise no Brasil

O jornal francês Le Monde que chegou às bancas nesta quinta-feira (10) traz uma grande matéria e seu editorial sobre a crise política, econômica e moral vivida no Brasil, encarnada pela "chefe de Estado mais impopular da história do país", para quem "o exercício do poder virou um calvário". Em vez de enfrentar a revolta da população, "a petista foge do povo", escreve o diário.

Uma boneca inflável gigante de Dilma Rousseff, durante um protesto contra a presidente e o PT, em Brasília, 7 de setembro de 2015.
Uma boneca inflável gigante de Dilma Rousseff, durante um protesto contra a presidente e o PT, em Brasília, 7 de setembro de 2015. REUTERS/Ueslei Marcelino
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O exemplo da falta de atitude de Dilma diante da crise que sacode o país, e que baixou sua popularidade para 7%, foi o Dia da Independência, relata Le Monde: a barreira de segurança foi instalada a dois quilômetros de distância do desfile militar em Brasília. O objetivo era deixar a população revoltada o mais longe possível da chefe de Estado, o que não impediu os protestos e as vaias, afirma Le Monde.

Para falar à nação nesse dia, escreve o jornal, ela preferiu publicar uma mensagem nas redes sociais e evitou um discurso na televisão. Uma maneira de escapar dos "panelaços", manifestações que se tornaram comuns quando a presidente se comunica em cadeia nacional de rádio e televisão.

"Nenhum presidente pode governar com 7% de popularidade. A única alternativa é de se isolar do povo para evitar as vaias", disse o analista político Jorge Zaverucha em entrevista ao Monde.

Manifestações se multiplicam

Nos últimos meses, em todo o país, os protestos se multiplicaram e foram respondidos com manifestações a favor do PT, menos numerosas, diz o diário. "Gradativamente, o espírito da mobilização esquentou e as mensagens se radicalizaram", escreve. Agora, circulam nas manifestações um boneco inflável para denegrir ainda mais a imagem da chefe de Estado, apelidada de "Pinóquia". Seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, também não escapou e ganhou uma versão inflável de boneco.

"A crise econômica que mergulhou o país na recessão é em grande parte responsável por essa desgraça", avalia o jornal. A queda do real, a baixa no preço do petróleo e das matérias-primas obrigaram Dilma a aplicar, desde sua reeleição, uma política de rigor de ajuste fiscal.

Se a presidente reconhece hoje ao menos um erro é de ter subestimado a crise econômica que atravessa o país, que Le Monde classifica como "uma tempestade financeira". Para superá-la, Dilma não descarta a possibilidade de submeter o país a "remédios de gosto amargo", mas "indispensáveis".

O resultado é que dentro de seu próprio eleitorado a presidente é acusada de traição, enquanto as classes mais abastadas continuam acusando Dilma de adotar uma postura populista, até mesmo "comunista", escreve Le Monde.

Crise moral

Le Monde ressalta que a crise não é apenas política e econômica, mas moral. "À recessão, ao desemprego e à inflação também se adiciona o efeito devastador dos casos de corrupção", nota o jornal. Não passa um dia sem que haja um novo episódio da operação "Lava Jato", reitera.

Atualmente, o escândalo da Petrobras chega ao Palácio do Planalto, lembra o jornal. Dois membros do governo do alto escalão agora são suspeitos de envolvimento no escândalo: o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, cita Le Monde.

Diante de tudo isso, "Dilma Rousseff ainda pode aguentar três anos?", questiona o jornal. Nenhum presidente brasileiro resistiu a uma crise econômica, avalia o diário. A classe empresarial não esconde sua revolta, a exemplo do presidente da Riachuelo, Flavio Rocha, entrevistado pelo diário. Para ele, a destituição é um "mal menor".

Mas os simpatizantes fazem um apelo por uma solução menos radical. "O vice-presidente Michel Temer também está envolvido no escândalo Lava Jato, assim como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Quanto ao grande rival de Dilma, Aécio Neves, ele é descrito como "um aristocrata político, um dandy".

Uma crise benéfica

Em editorial, o Monde se questiona se a crise no Brasil é benéfica. E lembra que, em 2010, o país ostentava um crescimento superior à 7%. Nessa época, Lula era um mito da esquerda moderna, que tinha a promessa de empreender uma política social generosa, para permitir a dezenas de milhões de brasileiros sair da pobreza.

Cinco anos depois, o país está mergulhado na recessão, a ponto de a agência de notação Standard & Poor's ter abaixado ontem a nota da dívida do país. A inflação, o desemprego e os escândalos de corrupção contribuem para a insatisfação da população.

Mas, para o editoralista, talvez essa crise política, econômica e moral seja uma etapa que o país precisa ultrapassar para chegar a uma nova fase de desenvolvimento. "Com a condição de que a paralisia política não dure, que os ânimos se acalmem, o Brasil poderá aprender com essa prova", conclui.

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