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Apesar de otimistas, investidores britânicos esperam reformas no Brasil

A rápida recuperação do Brasil durante a recente crise financeira global contribuiu para reforçar a imagem do país como destino seguro de investimentos estrangeiros, mas as autoridades devem estar vigilantes para evitar um superaquecimento da economia e também promover reformas para atrair capital e dinamizar o crescimento. Essa é a opinião de investidores e analistas britânicos ouvidos pela Radio França Internacional sobre a percepção do potencial econômico do Brasil.

A City de Londres
A City de Londres E. Ramalho
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Um conjunção de fatores que vão do fim do temor dos riscos políticos à uma redução da pobreza amparado no crescimento conquistado com a abertura da economia e a expansão dos mercados emergentes, fez o Brasil tornar-se um país no alvo prioritário dos grandes investidores mundiais.
« O que temos visto nos últimos 8 anos é uma maturidade crescente econômica e também como país », resume John Bowler, diretor da Economist Intelligence Unit, responsável pelo Departamento que analisa os riscos de investimentos em cerca de 200 países.

Segundo ele, a transformação do país tem origem nos anos 90, uma época marcada por muita turbulência no mercado financeiro do Brasil.

« Um conjunto de reformas adotadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para a abertura da economia e também de reformas no setores das finanças públicas que foram mantidas pelo presidente Lula em seus dois mandatos, combinado com um cenário econômico global mais favorável, permitiu que o país desenvolvesse seu potencial” diz Bowler.
“O Brasil se beneficiou da globalização, especialmente com o crescimento da China, um consumidor voraz de commodities, das quais o Brasil é um país potencialmente rico, sem dúvida. Esse é um fator importante por ter feito do Brasil mais resistente”, explica

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David Thomas, consultor de bancos de investimentos

Não há dúvidas de que o impulso dado pelo apetite do gigante chinês é um dos principais responsáveis pela expansão da economia brasileira que já estava preparada para um crescimento sustentável, segundo o analista David Thomas, consultor de bancos de investimentos privados baseados na City de Londres.

“Com o crescimento da China e da Ásia em geral, grandes exportadores de commodities como o Brasil tem se beneficiado. Mas não é uma situação pontual. O país está em uma boa situação econômica porque é resultado de 20 anos de trabalho de abertura do comércio, boas políticas monetária e fiscal e uma regulamentação inteligente do setor financeiro. Tudo isso junto faz com que o país esteja forte agora”, afirma.

Confiança

A certeza de que o Brasil é um país com bases financeiras mais sólidas do que no passado veio com a tempestade financeira global que afetou as economias mais desenvolvidas.
Enquanto muitos países ainda sofrem para reencontrar o rumo da retomada do crescimento econômico, o Brasil tem a perspectiva de crescer 7% em 2010.

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John Bowler, diretor Economist Intelligence Unit

“O Brasil acumulou grandes reservas acima de 200 bilhões de dólares, o que serve para evitar turbulências no mercado financeiro. É correto dizer que 10 anos atrás, durante uma grave turbulência global, o Brasil foi um dos país mais afetados. Mas não é mais o caso como ficou demonstrado com a apreensão do mercado financeiro após a falência do Lehman Brothers em 2008”, lembra John Bowler.

“ O Brasil passou por esse período (de crise) sem maiores problemas. Isso se deve em boa parte a uma maior resistência de suas finanças e também de gestão de políticas que melhoraram na última década. Certamente a base foi adotada no mandato de Fernando Henrique Cardoso e o governo Lula manteve com prudência o alicerce macroeconômico”, afirma.

“O estado estabilizou a dinâmica da dívida pública que era uma das preocupações quando Lula assumiu em 2002”, diz o diretor do Economist Intelligence Unit, uma das agências líderes do mercado mundial de análises de gestão para governos e empresas.

Além de manter a orientação macroeconômica, os dois mandatos do presidente Lula contribuíram para afastar os riscos políticos que caracterizaram as últimas transições de governo.

“Há 10 anos havia um risco político no Brasil diante da ameaça que representava o Lula. Já temos o Lula, e não há mais o que temer », afirma o analista David Thomas, que durante 9 anos foi presidente do Banco Lloyd's no Brasil.
Segundo ele, os investidores britânicos que atuam na City de Londres, uma das principais praças financeiras do planeta, estão tranquilos em relação ao país.
«Os dois (principais) candidatos são de certa forma de centro esquerda. Se houver diferença, diria que a Dilma (Roussef) talvez esteja mais à esquerda do que o (José) Serra, mas não é uma diferença fundamental. O mercado está absolutamente calmo; diferentemente de outras eleições, diria que o mercado está, de certa forma, indiferente ao resultado das eleições », afirma.
A maior preocupação, no entanto, é com a capacidade de articulação política para aprovar reformas consideradas necessárias.
«O Brasil tem uma política extremamente complexa, não sei quantos partidos tem representado no Congresso, cerca de 20, talvez. Então, ninguém teve uma maioria firme, com disciplina no Congresso. Quer dizer, a capacidade do novo presidente e de sua equipe de atuar no Congresso será fundamental”, avalia Thomas.

Reformas e riscos

Se as previsões mais otimistas dos analistas estiverem certas, o Brasil será inundado com dinheiro de investidores internacionais, que demonstram cada vez mais interesse em setores promissores como o de infraestrutura, as imensas reservas de petróleo do pré-sal a serem exploradas, além do próprio setor financeiro.
« Os setores de infraestrutura são os mais óbvios com os projetos inclusive para grandes eventos como as Olimpíadas e Copa do Mundo. As empresas britânicas de engenharia devem trabalhar nesses projetos. E na área financeira, o mercado tem muito que crescer”, estima David Thomas.

« O crédito global na economia brasileira não ultrapassa 50% do PIB. Tem muito o que crescer principalmente a partir da emergência da classe média baixa brasileira. Essas classes estão crescendo muito rapidamente e tudo está ligado com o financiamento de bens de consumo, para construção da casa própria », prevê o consultor.

Diante dos interesse crescente dos investidores do pelo mercado brasileiro, os analistas também alertam para o risco de um superaquecimento da economia que possa provocar uma valorização do real, o que pode tornar setores da economia menos competitivos.

« Acho que muitos governos gostariam de lidar com os desafios que surgem de situações como essa, de um eventual sucesso do Brasil », diz John Bowler, « Um excesso de capital que pode entrar no país pode elevar o valor da moeda e criar problemas para determinados fabricantes e até bolhas nos preços dos ativos. As autoridades brasileiras devem ficar vigilantes », afirma.

O diretor da Economist Intelligence Unit aponta ainda algumas reformas que considera indispensáveis para o país trilhar o caminho do crescimento sustentável.

« O sistema tributário brasileiro é muito alto e freia o desenvolvimento. O atual sistema está pesando sobre alguns setores e simplificar o sistema tributário especialmente o ICMS, tornando-o mais simplificado para as empresas, diminuindo os encargos, poderia facilmente melhorar os investimentos em novos negócios o Brasil”, avalia.

“Em relação à uma reforma das leis trabalhistas, claro algumas pessoas dizem que o atual sistema gerou mais de 2 milhões de novos empregos no setor formal, uma grande expansão nos anos de « boom » econômico. Isso é positivo mas também não se pode negar que ainda há muita rigidez nas leis atuais o que poderia criar grandes problemas quando houver um desaquecimento da economia. Talvez seja o momento certo para promover mudanças para tornar as leis mais flexíveis», diz. Bowler.

O consultor David Thomas acredita que a capacidade do país em atrair investimentos não será prejudicada pelas reformas desejadas. « O sistema fiscal no Brasil é complexo. As taxas de impostos são elevadas demais. O mercado de trabalho também precisa de algumas reformas. Mas mesmo com esses impedimentos, o Brasil não vai parar de crescer”, diz.

 

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