Acessar o conteúdo principal
Saúde em dia

Variante Delta compromete vacinação e meta da imunidade coletiva

Publicado em:

Novos estudos sobre a Covid-19 vêm mostrando as graves consequências da propagação da variante Delta. A eficácia das vacinas vem baixando diante desta linhagem, altamente contagiosa. Além disso, alguns estudos apontam que indivíduos imunizados podem tanto se contaminar quanto transmitir a doença. As novas descobertas levam especialistas a descartar a possibilidade de alcançar uma imunidade coletiva.

Mulher é vacinada em Le Bourget, na periferia de Paris em 13 de agosto de 2021.
Mulher é vacinada em Le Bourget, na periferia de Paris em 13 de agosto de 2021. AP - Adrienne Surprenant
Publicidade

Recentemente, os Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos elaboraram um documento em que apontam que pessoas já vacinadas podem se contaminar e transmitir o vírus. Uma outra pesquisa, no Reino Unido, mostrou que a eficácia da vacina da Pfizer contra a variante Delta pode cair a 42%. No mundo inteiro, novos estudos vêm à tona mostrando que a disseminação da variante Delta deve tornar a luta contra a pandemia ainda mais longa.

A maior preocupação dos especialistas não é com as pessoas vacinadas, que estão, na maioria dos casos, protegidas contra formas graves da doença. O grande temor atualmente se concentra em quem não foi imunizado. Aqui na França, são esses indivíduos que vêm dando entrada nos hospitais e UTIs, em uma quarta onda da Covid-19 que se intensificou nessas últimas semanas devido à rápida disseminação da linhagem indiana.

Para o clínico-geral Jérôme Marty, presidente do sindicato União Francesa por uma Medicina Livre (UFML), não é surpreendente que a fácil propagação de um vírus resulte em variantes mais fortes. Por isso, segundo ele, é essencial que todas as pessoas elegíveis se vacinem.

"O fato de estar vacinado não impede de ser 'contaminante', nem contaminado. Mas a função da vacina é evitar formas graves e, assim, as hospitalizações. Afinal, todas as consequências desta doença se deram por causa da monopolização dos serviços hospitalares. Então, se vacinarmos todas as pessoas com um imunizante que impede o desenvolvimento de formas graves, você tem menos hospitalizações, não lota as UTIs, evita lockdowns e todas as consequências econômicas e sociais. A particularidade desta doença - e nunca havíamos passado por isso na história da medicina - é o fato de ocupar todos os leitos de UTI", defende.

Quarta onda da Covid-19 na França

Pela quarta vez em um ano e meio de pandemia de Covid-19, a França volta a enfrentar aumento de óbitos, contaminações e internações, principalmente devido à variante Delta. Os números chegaram a alcançar patamares que não eram registrados há meses.

Nas ilhas da Martinica e Guadalupe, departamentos ultramarinos franceses na América Central, a situação é extremamente grave. Não por acaso, apenas 25% da população está vacinada: uma quantidade insuficiente para barrar a doença, afirma Yannick Brouste, chefe da emergência do hospital de Fort-de-France, capital da Martinica.

"Em menos de uma hora, os pacientes que estão chegando aqui à emergência podem morrer, ser entubados ou levados diretamente à UTI. Atualmente temos mais de 50 pessoas internadas em estado grave, algo que era raro de acontecer antes da Covid. Na nossa UTI o número de pacientes vacinados é zero. Nenhum dos pacientes que morreu de Covid estava vacinado", diz.

Essa situação não é exclusiva dos territórios ultramarinos, onde a população é particularmente resistente à vacinação. Vincent Bounes, chefe do Samu da região de Haute-Garonne, no sudoeste da França, descreve um comportamento similar entre os doentes que trata.

"A situação é tensa, com a quantidade de pacientes dobrando a cada semana nas UTIs. Passamos de uma situação estável a algo realmente exponencial. Entre todos os pacientes que temos hoje nas UTIs, 95% não estão vacinados. São principalmente jovens, gente que achava que não seria infectada pela Covid, e que hoje está entre a vida e a morte, entubado, em estado grave. Como médico, ver tudo isso é realmente difícil", afirma, em entrevista à Franceinfo.

Solução: vacinação

Jérôme Marty lembra que enquanto a quantidade de pessoas não vacinadas for alta, o vírus vai continuar mutando e se propagando. Essa situação implica em graves consequências para bebês e crianças abaixo de 12 anos, que ainda não podem ser imunizados contra a Covid-19.

"O vírus circula onde sabe que vai encontrar combustível para continuar circulando. E sabemos que o combustível do vírus é o nosso corpo. Ele passa de um corpo a outro, então, a partir do momento que os corpos que o vírus encontra não têm defesa, ele vai conseguir acelerar e mutar. Então, o ideal, se quisermos vencer essa pandemia, é que as populações estejam completamente vacinadas. Desta forma, não teremos formas graves e hospitalizações. Teremos uma doença circulando, claro, mas sem riscos", explica.

O clínico geral chama atenção para um fato inédito desde o início da pandemia: um aumento de contaminações e hospitalizações de bebês e crianças. Na França, entre o final de junho e o início de agosto, a quantidade de casos positivos na faixa de 0-9 anos foi multiplicado por 10. Boa parte das infecções ocorre dentro de casa, a partir de mães e pais não vacinados.

O fenômeno incita o debate sobre a necessidade da vacinação dos pequenos. Até o momento, a segurança da vacina foi validada em jovens a partir dos 12 anos. Estudos que avaliam a utilização de imunizantes em faixas etárias inferiores estão sendo realizados; os primeiros resultados devem começar a ser divulgados no segundo semestre deste ano.

"É preciso considerar duas coisas. A primeira é que sabemos que a variante Delta está circulando mais entre os jovens. A segunda é que vacinamos as gerações com idades mais avançadas e poupamos as crianças. Por isso, o vírus está circulando entre os pequenos. Agora é preciso juntar todos os estudos sobre a segurança da vacina para os menores de 12 anos. Sabemos, por exemplo, que há casos de miocardite entre os mais jovens. É preciso avançar de forma prudente, mas é provável que mais para frente tenhamos que vacinar as crianças", avalia Jérôme Marty.

Com novas pesquisas apontando também para a diminuição da eficácia dos imunizantes meses após sua aplicação, o médico lembra que muito além das terceiras doses, injeções para o reforço da proteção contra a doença talvez se tornem a regra no futuro. O médico lembra que isso já ocorre hoje, por exemplo, com a vacina contra a gripe, que pode ser administrada todos os anos.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.