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Saúde em dia

Lockdown contra Covid-19 reforçou sedentarismo e má alimentação na França

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Como o lockdown afetou os hábitos dos franceses? De um modo geral, as pessoas passaram mais tempo na frente das telas, fizeram pouco exercício físico e comeram menos frutas e legumes. É o que mostrou uma pesquisa realizada com 4.005 entrevistados pelo pesquisador Aymery Constant, da Escola de Altos Estudos de Saúde Pública da Universidade de Rennes, no norte da França, e que acaba de ser publicada no país. 

Clientes passeiam de máscara na loja de departamentos Printemps, que reabriu após semanas de lockdown.
Clientes passeiam de máscara na loja de departamentos Printemps, que reabriu após semanas de lockdown. REUTERS - CHRISTIAN HARTMANN
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Os participantes responderam a um questionário enviado entre os dias 8 e 20 de abril, durante a primeira onda da Covid-19. Oito de cada dez entrevistados citaram mudanças negativas em relação ao seu cotidiano antes da epidemia, sendo o aumento do sedentarismo um dos mais relevantes. Em compensação, não houve um grande aumento do consumo de álcool e do cigarro, explicou o pesquisador francês à RFI Brasil.

Os comportamentos negativos puderam ser observados principalmente em franceses com medo da Covid-19. O temor de pegar a doença foi proporcional à diminuição da atividade física e à adoção de uma alimentação inadequada, além de outros maus hábitos.

De maneira geral, destaca Constant, a pesquisa mostrou que a maior parte dos participantes considerava a Covid-19 uma doença grave, mas confiava nas medidas de proteção, como o uso da máscara e distanciamento físico.

“Aqueles que tinham uma grande confiança nas medidas de proteção e pensavam que elas eram de fato eficazes, foram menos impactados pelos comportamentos negativos e podiam até mesmo adotar comportamentos positivos”, diz. Este foi o caso de cerca de 40% dos pacientes. O resultado, diz Constant, foi surpreendente.

Segundo ele, a confiança desses pacientes nas mensagens de prevenção – difundidas pelo governo para evitar as contaminações – fez com que respeitassem também os conselhos para manter uma alimentação saudável e a prática de uma atividade física.

Além disso, lembra o pesquisador francês, desde o início da epidemia o público compreendeu que, além da idade avançada, certas patologias, como a obesidade, podiam contribuir para desenvolver formas mais graves da doença. Para Constant, isso fez com que alguns pacientes acima do peso, por exemplo, passassem a prestar mais atenção na dieta para resistir melhor à Covid-19 em caso de contaminação.

As famílias com filhos, durante o lockdown, também prestaram mais atenção para evitar um contágio. “Existe a ideia de proteger a família: com crianças em volta, precisamos prestar mais atenção do que quando estamos sozinhos”, diz. Segundo ele, manter uma atividade física e comer direito, respeitando os gestos de proteção, é também uma maneira de proteger seus familiares.

O fato de estar em família, e viver com várias pessoas, frisa Constant, explica também porque solteiros ou estudantes tiveram tendência a adotar comportamentos mais negativos.

Novo estudo

O pesquisador realiza atualmente um novo estudo para entender como o novo lockdown do outono e inverno, menos restritivo afeta as pessoas. É inegável que a população se habituou a conviver com a epidemia, afirma.

Na primavera, a Covid-19 ainda era uma doença nova e as mudanças sociais foram drásticas. "Quando enfrentamos uma nova ameaça, desconhecida, pouco familiar, tendemos a reagir de maneira forte e importante. Quanto mais o tempo passa, mais nos habituamos à ameaça e a tendência é relaxar o comportamento que nos protege. Isso é clássico”, sublinha.

Os resultados do novo estudo ainda não são definitivos, mas, segundo ele, há uma queda da percepção da gravidade da doença na França, o que explica o relaxamento ocorrido no verão europeu, depois do lockdown.

O pesquisador não critica esse comportamento e defende que os jovens foram a população mais sacrificada pela Covid-19. "É normal que, após dois meses e meio trancados, eles quisessem retomar a vida social, ainda que parcialmente. Principalmente porque a faixa etária abaixo de 30 anos, em geral, é menos vulnerável à Covid-19", avalia. “As pessoas são humanas e em um determinado momento sentiram necessidade de sair”, declara.

Ele lembra que muitos jovens desenvolveram tristeza e depressão durante a crise. “É preciso permitir às pessoas que conservem uma atividade social, profissional e de atividade física, mantendo as medidas de proteção. Senão, temos efeitos negativos importantes”, diz.

De acordo com ele, as pessoas naturalmente ansiosas, sensíveis às mensagens sobre o risco veiculadas pela mídia, vão se isolar mais do que os outros e desenvolver depressões clínicas em alguns casos.

Chegada da vacina

Na opinião do pesquisador francês, os governos apostaram errado ao decidir vacinar, primeiro, os idosos nas casas de repouso. Para ele, os jovens, que fazem circular a doença, é que deveriam ser imunizados prioritariamente.

Aymery Constant acredita que, com a obtenção de uma taxa de vacinação considerável na população, aos poucos a vida voltará ao normal – mas velhos hábitos, como o beijo-aperto de mão – podem desaparecer por um tempo.

“Acho que vamos conservar, ainda por um certo tempo, as medidas de proteção. A máscara, quando puder ser retirada, cairá rapidamente em desuso. Usar máscara é bastante restritivo. Acho que as populações mais vulneráveis vão usar durante muito tempo”, avalia. Para ele, se a vacina funcionar e os casos diminuírem muito, os hábitos antigos serão retomados, mesmo que isso ainda leve algum tempo.

Aymery Constant lembra que, mesmo que os efeitos da vacina na epidemia ainda demorem anos para serem avaliados, é necessário se imunizar para combater a Covid-19. “A vacina não é uma solução mágica. Não existe varinha mágica. É provável que tenhamos casos da Covid-19 nos próximos anos, mesmo com a vacina e medidas de proteção, mas a ideia é frear a epidemia o máximo possível.”

Se tudo der certo, a Covid-19 se transformará em síndrome que vai entrar no calendário das doenças já conhecidas, já que não será erradicada.

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