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Saúde em dia

Como as restrições afetaram a imunidade das crianças durante a epidemia de Covid-19

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As medidas mais drásticas de proteção contra o vírus da Covid-19, como o uso de máscaras, os lockdowns e o distanciamento social, tiveram um impacto na imunidade das crianças nascidas no período da pandemia em diversos paises, incluindo a França e o Brasil.  

Babás com crianças no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, Brasil, em 19 de agosto de 2020.
Babás com crianças no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, Brasil, em 19 de agosto de 2020. AFP - MAURO PIMENTEL
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Taíssa Stivanin, da RFI

A flexibilização que sucedeu o pico epidêmico entre os anos de 2020 e 2022 gerou uma antecipação de diferentes infecções virais e explosão de casos em crianças, explicou a pediatra brasileira Isabella Ballalai, membro da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização do Programa Nacional de Imunizações (CTAI-PNI).

No Brasil não há mais leitos nas alas pediátricas em boa parte dos hospitais, incluindo UTIS (Unidade de Terapia Intensiva), afirma a médica. Além do virus da Covid-19, o Sincicial (VSR), causador da bronquiolite, e as diferentes cepas do influenza, que causam a gripe, também são responsáveis por vários surtos em crianças.

“São os vírus de sempre, entre eles o da Covid-19, que continuam atingindo muitas crianças menores de cinco anos, que não estão vacinadas. Apesar do imunizante estar disponível, não há adesão, por conta do movimento estruturado de antivacinismo. A gente nunca tinha visto isso no Brasil”, lamenta a pediatra.

Como a criança constrói sua imunidade? Logo após o nascimento, e durante a amamentação, o bebê está parcialmente protegido pelos anticorpos da mãe, gerados pelas infecções naturais e vacinas, explica Isabella Ballalai. Essa proteção parcial pode durar até cerca de 15 meses. 

Mas se a mãe, durante a gravidez, não tomou nenhum dos imunizantes disponíveis contra a gripe ou a Covid-19, por exemplo, a criança nasce totalmente exposta às infecções e pode desenvolver uma forma grave de ambas as doenças, que também pode levar à morte. “Se a mãe não tomou a vacina contra o Sincicial, o influenza ou contra a Covid-19, essa criança nasce totalmente desprotegida”, reitera a pediatra.

 

Policiais patrulham a rue de Montmartre, em Paris, em 17 de março de 2020, primeiro dia do lockdown nacional. População só podia sair de casa em um raio de um quilômetro em torno da residência por um período máximo de uma hora.
Policiais patrulham a rue de Montmartre, em Paris, em 17 de março de 2020, primeiro dia do lockdown nacional. População só podia sair de casa em um raio de um quilômetro em torno da residência por um período máximo de uma hora. AFP - JOEL SAGET

 

Primeiros meses de vida são determinantes

Os primeiros meses após o nascimento são determinantes para o sistema imunológico do bebê, que se desenvolverá em função da exposição dele aos vírus, às bactérias e à vacinação. As crianças nascidas no período da pandemia - que vivenciaram os lockdowns sucessivos e o distanciamento social - não tiveram esse contato primordial com os micróbios que povoam nosso meio ambiente.

“Através desse contato, as crianças vão produzindo seus próprios anticorpos. A proteção a longo prazo, ou para o resto da vida, dependendo da doença, é gerada pelo sistema imune, que aprende a produzir anticorpos para essa doença”, explica a especialista brasileira.

No contexto atual, vacinar as crianças pequenas contra o vírus e outras doenças é a melhor maneira de protegê-las, defende a pediatra brasileira. "Tem muitos pais que têm medo de fazer várias vacinas em um mesmo dia, temendo uma sobrecarga no sistema imunológico. Essa sobrecarga é desejada para a criança, que precisa ter essa exposição, respirar e andar pelo mundo.”

 

Máscara obrigatória em Nantes, oeste da França, em 21 de agosto de 2020.
Máscara obrigatória em Nantes, oeste da França, em 21 de agosto de 2020. AFP - LOIC VENANCE

 

Na França, entre os meses de novembro de 2022 e fevereiro de 2023, os setores de pediatria dos hospitais franceses também ficaram lotados.

Segundo o infectologista francês Pierre Tattevin, chefe do setor de doenças infecciosas do hospital de Rennes, no noroeste do país, a epidemia de bronquiolite foi mais intensa na França pelo mesmo motivo do que no Brasil. “Percebemos que isso ocorreu, sem dúvida, porque usamos máscaras durante dois ou três anos e os vírus não circularam como de costume, expondo menos as crianças”, explica o infectologista.

“O VSR também circula entre os adultos, mas, como provavelmente eles já pegaram, as formas são mais leves. As crianças sempre estão na linha de frente e, quando são pequenas, fazem os primeiros 'encontros' com os vírus. Nós 'adiamos' esses encontros no período da epidemia, ao adotarmos as máscaras e outras restrições. As crianças então sofreram um 'choque' nesse inverno, cruzando com vírus que circularam menos nos últimos dois ou três anos.”

Vírus imprevisível

Por essa razão, no estágio atual da epidemia de Covid-19, a máscara deve ser deixada de lado,diz o infectologista francês. “Viver de máscara não é a melhor solução a longo prazo. Foi uma boa ideia quando um vírus perigoso ainda estava em circulação. Os brasileiros e as populações de outros países têm razão em retomar uma vida normal agora”, afirma Tattevin, lembrando que a evolução do SARS-Cov-2, entretanto continua "imprevisível".

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