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Saúde em dia

Trabalho remoto pode contribuir para aumento de sobrecarga mental das mulheres

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O trabalho remoto tornou-se comum após a epidemia de Covid-19, levando muitas empresas a se adaptarem à demanda dos assalariados.

Ganho de tempo ou menos tempo de trajeto: as vantagens do trabalho remoto são inúmeras, mas como tudo, ele também gera inconvenientes e, um deles, é o aumento da sobrecarga mental das mulheres na gestão das tarefas domésticas.
Ganho de tempo ou menos tempo de trajeto: as vantagens do trabalho remoto são inúmeras, mas como tudo, ele também gera inconvenientes e, um deles, é o aumento da sobrecarga mental das mulheres na gestão das tarefas domésticas. © pexels-ketut-subiyanto
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Obrigatório durante os períodos de lockdown total, em 2020, ele agora faz parte do cotidiano de boa parte da população mundial, que deixou de ir diariamente aos escritórios.

Na França, por exemplo, a crise sanitária levou à assinatura de nada menos do que 4 mil acordos coletivos nas empresas em 2022, segundo a Direção de Estudos e Estatísticas ligada ao Ministério do Trabalho. Esse número representa quase o dobro de documentos sobre a questão assinados em 2019, ano que antecedeu a pandemia.

A maior parte desses acordos prevê dois dias de trabalho por semana em casa. Ganho de tempo, menos tempo de trajeto ou conforto: as vantagens do trabalho remoto são inúmeras, mas também gera inconvenientes.

Um deles, por exemplo, é o aumento da sobrecarga mental das mulheres na gestão das tarefas domésticas. Em casa, acaba se tornando mais “natural” que louça, roupa suja e compras recaiam sobre elas – principalmente quando o marido trabalha fora.

O tão sonhado tempo extra para atividades de lazer pode ser preenchido pela gestão da casa e da família, alerta a psicóloga francesa Aline Nativel Id Hammou, autora do livro “Burn Out Parental”, que chega às livrarias francesas no próximo dia 24 de janeiro.

De acordo com ela, é importante se policiar para não cair nesta armadilha. “Em casa, todas as tarefas da vida cotidiana ficam “gravitando” em torno do computador, enquanto trabalhamos. Podemos, às vezes, nos sobrecarregar. Na hora do almoço, por exemplo, como não estamos na empresa, há a tentação de se ‘obrigar’ a fazer as tarefas domésticas, ou do cotidiano, pelo fato de estar em casa”, diz.

De acordo com a psicóloga francesa, é preciso criar uma “bolha” de trabalho. A aplicação dessa regra, entretanto, depende de muitos fatores, reconhece Aline. Entre eles, o tamanho da moradia e da família que mora ali. “Tem que criar um condicionamento: entre 9h e 17h, é como se eu estivesse no escritório. A ideia é recriar este espaço dentro de casa”, explica.

É também essencial esclarecer à família que o trabalho remoto não é sinônimo de maior disponibilidade dentro de casa. “Se você está trabalhando e seus filhos ou parceiro chegam e querem dizer alguma coisa, você deve responder: ‘finjam que eu não estou aqui’. Isso pode ser complicado, mas é importante estabelecer esse limite. A família deve entender que você está em casa fisicamente, mas não está disponível em termos psíquicos, emocionais e cognitivos para responder a solicitações das mais variadas”, detalha.

O trabalho remoto, lembra, também não convém a todo mundo. É preciso colocar na balança os benefícios, como o tempo de transporte, e as desvantagens, como as interrupções em casa. A psicóloga francesa conta que muitas de suas pacientes preferiram voltar para o escritório.

“Elas dizem: é verdade, estou em casa, mas me sinto ainda mais cansada, porque me imponho certas coisas. Mas elas devem se conscientizar que, não é porque elas estão em casa que devem se obrigar a arrumar o quarto do caçula, lavar a louça ou colocar a roupa na máquina”, diz.

E as crianças?

Trabalhar com os filhos em volta pode complicar ainda mais o home office. Por isso, ressalta a autora, é importante conversar com eles, independentemente da idade, para evitar conflitos.

Ela sugere, por exemplo, o uso de linguagem não verbal na comunicação. Um exemplo é pregar símbolos na porta do escritório, que vão determinar se a entrada está autorizada ou não. A adoção das estratégias, frisa, deve ser condizente com a idade dos filhos, a dinâmica familiar, os horários e o espaço físico reservado ao trabalho. “Isso eu aconselho para todas as famílias: a criança deve se envolver na organização. Desta forma, aplicará ainda mais aquilo que foi proposto”, sublinha.

De um modo geral, diz a especialista, é importante aprender a delegar e não cair na armadilha do excesso de perfeccionismo. “Há muitas mães que se queixam da carga mental, mas têm uma certa responsabilidade nisso. Elas não delegam, não deixam os parceiros tomarem a dianteira ou não querem pedir para os filhos."

A especialista francesa lembra que muitos homens que praticam o trabalho remoto também se questionam sobre a divisão de tarefas domésticas no cotidiano. “É importante ressaltar que há conscientização por parte dos pais”, lembra a autora.

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