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Saúde em dia

"Vacinas no futuro serão individualizadas", diz imunologista premiada na França

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A imunologista francesa Beházine Combadière estuda há décadas a maneira como o organismo de cada indíviduo responde à uma infecção ou à vacinação. Diretora de pesquisa do Instituto Nacional francês de Saúde e Pesquisas Médicas (Inserm) e responsável pelo laboratório "Imunidade e Vacinação”, no Centro de Imunologia e Doenças Infecciosas em Paris, ela é considerada uma referência na França.

A cientista francesa Béhadine Combadière, que estuda como a vacinação é diferente em função da resposta imunológica de cada indíviduo.
A cientista francesa Béhadine Combadière, que estuda como a vacinação é diferente em função da resposta imunológica de cada indíviduo. © Foto: Arquivo pessoal
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Com a crise sanitária em 2020, pesquisadores de todo o mundo passaram a se dedicar exclusivamente à Covid-19. Em abril de 2020, a cientista começou a coordenar um projeto, chamado I-Covid, para analisar a resposta imunitária dos pacientes internados nas UTIs (unidades de terapia intensiva) do hospital parisiense Pitié La Salpetrière. Um dos objetivos era entender porque alguns pacientes respondem de maneira severa à infecção.

A pesquisadora francesa também integra um grupo de estudos de comparação entre vacinas contra a Covid-19, chamado "Covid Compare", que medirá a resposta imunológica entre as vacinas e o biomarcadores preditivos dessa resposta. Atualmente, ela também trabalha em um estudo sobre a influência da flora intestinal na resposta aos imunizantes, que ainda está em fase inicial.

“A vacinação é uma disciplina fascinante. Antes da Covid, ninguém se interessava pelo assunto. Agora todo mundo se interessa e todo mundo é especialista, mas se trata de uma disciplina complexa, que envolve múltiplas disciplinas”, diz.

A cientista francesa lembra que a eficácia da proteção das vacinas é avaliada em termos populacionais, mas individualmente existem diferenças sutis, em pessoas da mesma idade, sem fatores de risco e que vivem no mesmo ambiente. “É essa diferença intrínseca ao indivíduo que tentamos estudar”, ressalta.

Esses pequenos detalhes que constroem nosso sistema imunológico são objetos de estudos variados e aprofundados que visam explicar, por exemplo, porque muitos pacientes com fatores de risco não desenvolvem formas graves da Covid-19 ou outras doenças, enquanto há casos de mortes de pessoas jovens e saudáveis que contraíram o vírus.

"Vacinação já envolve grupos de indivíduos"

“É isso que tentamos estudar. Há vários fatores que envolvem essa reposta, dos quais já temos conhecimento, mas ainda é ficção científica prever quem vai responder perfeitamente ou mais ou menos a uma vacina ou a uma infecção”

A especialista francesa explica que a longo prazo a vacinação deverá ser personalizada, em função do perfil de cada indivíduo. Atualmente, os protocolos já diferem em função dos grupos. “As mulheres grávidas, as crianças e os obesos, por exemplo, são vacinados com diferentes protocolos de vacinação: uma, duas vezes, com intervalos e tempos diferentes”, explica.

“A lógica da vacinação já envolve grupos de indivíduos. Dentro desses grupos será possível fazer subdivisões e saber se alguém, por exemplo, terá que receber uma ou duas vezes uma vacina? Nós nos encaminhamos para isso no futuro”, declara.

Reality-show da Covid-19

Com a epidemia, as etapas para a criação das vacinas e de como elas deveriam ser administradas passaram a se tornar conhecidas do grande público. A pesquisadora francesa compara o desenvolvimento dos imunizantes contra a Covid-19 a um reality-show. “Com a Covid-19, a sociedade está vivenciando o mundo da pesquisa como se fosse um reality-show. O que vivemos a longo prazo, analisando resultados, revendo e validando, estamos fazendo agora diante do público.”

De acordo com ela, essa é grande dificuldade em tempos de crise sanitária: o público agora participa da discussão científica que existe dentro de um laboratório, principalmente nos primeiros meses após o início da pandemia, quando os pesquisadores abandonaram temporariamente seus projetos para se dedicar à Covid-19.

“As informações eram trocadas rapidamente e tudo se tornava público. Antes, o acesso aos dados era mais controlado e às vezes precisávamos ir a um congresso para ter mais novidades. Dessa vez, tudo foi feito em tempo real”, finaliza.

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