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“A Noite das Garrafadas” é tema de curta em competição no festival de Toulouse

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Ao revisitar “A Noite das Garrafadas”, um episódio assíduo na lista de decorebas de história do Brasil para o vestibular, mas pouco aprofundado, o diretor Elder Gomes Barbosa constrói uma visão atualizada das relações sociais no centro do Rio de Janeiro. O documentário de curta-metragem, em competição no festival Cinélatino de Toulouse, revela o quanto o passado colonizador ainda é palpável no presente.

Cena de "A Noite das Garrafadas", Elder Gomes Barbosa, em competicão no Cinélatino, de Toulouse.
Cena de "A Noite das Garrafadas", Elder Gomes Barbosa, em competicão no Cinélatino, de Toulouse. © Paula Monte
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Patricia Moribe, enviada especial a Toulouse

“A Noite das Garrafadas aconteceu em 1831. Do vestibular, a gente só entendia que era o conflito entre brasileiros e portugueses, que aconteceu no centro da cidade, que houve arremessos de garrafas de um lado e do outro”, relata o cineasta. “Só que pesquisando mais para o filme e encontrando documentos que estavam perdidos na Biblioteca Nacional, a gente chegou a uma outra visão também da Noite das Garrafadas, que o lado dos brasileiros era principalmente compostos de ex-escravizados e de escravizados. Então, não foi só um confronto entre nações, mas também um confronto racial, confronto de entre senhores e escravizados”.

“O filme nasceu, primeiro, de um amor meu pelo centro do Rio de Janeiro e pela história que ela carrega”, diz o diretor Elder Gomes Barbosa, um apaixonado pela cidade. “Foi um redescobrimento dessa história que foi apagada pelo tempo”.

Para pesquisar o fato histórico, o documentarista mergulhou no cotidiano do centro carioca, colhendo depoimentos dos frequentadores da região. “Enquanto a gente estava pesquisando e lendo os textos sobre o que aconteceu na N oite das Garrafadas e fazendo essas visitas de locação, a gente foi, claro, percebendo várias continuidades entre esse episódio histórico e o que acontece hoje ainda na Rua da Quitanda e dentro da sociedade brasileira".

Elder Gomes Barbosa, diretor de "A Noite das Garrafadas".
Elder Gomes Barbosa, diretor de "A Noite das Garrafadas". © Cyril Etienne

Alegoria da sociedade brasileira 

“A Rua da Quitanda funciona no filme também como uma alegoria da sociedade brasileira e da sociedade do Rio de Janeiro”. Além disso, a rua funcionou como o fio condutor do filme. "A gente quis que o fio condutor fosse um dia inteiro nessa rua onde pessoas escravizadas vendiam nas quitandas legumes e frutas. A gente quis pegar trabalhadores que também hoje em dia ainda trabalham nas ruas, ou seja, não têm estabelecimentos ou lojas, mas sim instalam barracas nas ruas. Então a gente filmou trabalhadores que vendiam suco de laranja, que vendiam balas, que vendiam roupas, enfim, pessoas que habitam essa rua. E a gente foi desenvolvendo uma paixão muito grande também por esses personagens."

O diretor destaca ainda a descoberta de que o símbolo da Policia Militar do Rio de Janeiro na época, em 1831, continua o mesmo, vinculado aos produtores de café, de cana de açúcar e à coroa imperial”, diz Barbosa. O filme também trabalha com projeções feitas nas fachadas da rua, de noite, com figuras da época, como Dom Pedro I. “Como se fossem fantasmas”, diz o cineasta.

O festival Cinélatino de Toulouse acontece até 24/03/24.

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