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“É cedo para saber se governo Lula conseguirá defender o meio ambiente”, diz geógrafo francês

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“Os solos diante dos desafios das mudanças climáticas: o caso do Brasil”, foi o tema de uma palestra do geógrafo francês Sylvain Souchaud na Universidade Popular de Bondy, na região parisiense. A transição ecológica no Nordeste brasileiro é o assunto de suas pesquisas mais recentes.

Comunidade ribeirinha de Careiro da Várzea, no estado do Amazonas, atingida pela seca em outubro de 2023.
Comunidade ribeirinha de Careiro da Várzea, no estado do Amazonas, atingida pela seca em outubro de 2023. AP - Edmar Barros
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O pesquisador do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento da França (IRD) é especialista em América Latina. Ele já trabalhou no Brasil e tem vários livros e artigos publicados na França sobre o país, como “Brésil”, de 2018, ou “Géographie de l’atelier: Confection, migration, urbanisation à São Paulo”, de 2019 (Geografia da Oficina: confecção, migração e urbanização em São Paulo).

O geógrafo ressalta que o aquecimento global é uma das principais causas que degradam os solos brasileiros, mas não é a única. “Os modos de ocupação dos solos e da terra, os sistemas de produção agrícola também impactam bastante. É a combinação dessas causas que aceleram uma situação crítica tanto para a vegetação, como para os solos”, explica. O uso intensivo de agrotóxicos e a monocultura, como a da soja e cana de açúcar, são exemplos de modos de produção com impactos negativos para a terra. 

Mas a agricultura não é a única afetada. A variabilidade da pluviometria impacta também os “sistemas urbanos”, com chuvas fortes e concentradas no Sul e Sudeste e secas no Norte e Nordeste, além da ocorrência de “secas-relâmpago, isto é, secas rápidas, que ocorrem de forma pontual, e que vão aumentar”, detalha.

Esse conjunto acelera a mudança do clima no Brasil, ampliando o semiárido brasileiro. Com o déficit hídrico acentuado, surgiu inclusive a primeira região de clima árido no país, descoberta recentemente no norte da Bahia, na fronteira com Pernambuco.

O geógrafo francês, Sylvain Souchaud, do Instituto de Pesquisa do Desenvolvimento (IRD).
O geógrafo francês, Sylvain Souchaud, do Instituto de Pesquisa do Desenvolvimento (IRD). © Arquivo pessoal

 

“Com a irregularidade das chuvas e o aumento das temperaturas, a pressão sobre as reservas hídricas é mais forte. Uma das consequências é a irregularidade da produção agrícola, com uma tendência de baixa dos rendimentos. Outras consequências são a proliferação de espécies mais daninhas para as culturas e a multiplicação dos incêndios, como estamos a observar agora no Chile”, salienta.

 

Agricultura X proteção do meio ambiente

O embate entre normas de proteção do meio ambiente e modos de produção agrícola intensiva foi mais uma vez evidenciado no recente protesto dos agricultores franceses que denunciaram o acordo União Europeia-Mercosul alegando uma concorrência desleal com produtos agrícolas brasileiros.

Sylvain Souchaud diz que um dos caminhos possíveis é “ajudar no desenvolvimento da agricultura orgânica, biológica”. Mas, segundo o geógrafo, esse “não foi o caminho escolhido pelo governo francês”, que cedeu à pressão e apoiou “o setor da agroindústria e do monocultivo”, em um contexto de eleições legislativas europeias e aumento dos discursos antiecológicos e antieuropeus no bloco europeu. 

No Brasil, o governo Lula tem “tentado não reverter, mas diminuir a pressão sobre os ecossistemas, mas se opõe a grupos de pressão no Congresso, que são muito fortes”, avalia o pesquisador, em referência ao lobby do agronegócio. “É muito cedo para saber se o governo Lula vai conseguir defender mais a questão ambiental, mas é uma orientação que ele quer assumir”, conclui.

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