Acessar o conteúdo principal
RFI Convida

Fábula distópica “O Último Gozo do Mundo”, de Bernardo Carvalho, é lançada na França

Publicado em:

Bernardo Carvalho é um dos escritores brasileiros contemporâneos mais traduzidos na França. Desde o premiado “Nove Noites”, de 2002, todos os romances do autor foram publicados em francês pela editora Métailié. “O Último Gozo do Mundo”, seu 13° livro lançado em 2021 no Brasil, é o mais novo da lista.

O escritor, Bernardo Carvalho e a capa do seu novo livro "La dernière joie du monde"- A última alegria do mundo
O escritor, Bernardo Carvalho e a capa do seu novo livro "La dernière joie du monde"- A última alegria do mundo © Fotomontagem fotos editions-metailie
Publicidade

Essa constância de publicações e visibilidade da obra de Bernardo Carvalho na França “é sensacional. É uma coisa que não tenho em nenhum outro lugar”, afirma o escritor, ressaltando que isso é resultado do trabalho da editora Anne-Marie Métailié, que fala português, e aposta em uma literatura de “periferia”.  

O “Último Gozo do Mundo”, traduzido por Danielle Scramm, acaba de chegar às livrarias francesas, com o título “La Dernière Joie du monde”.

“Uma fábula”

O livro é apresentado como “uma fábula”, no caso, uma fábula distópica. “O Último Gozo do Mundo” é um romance breve, construído em torno da crise provocada pela pandemia. O texto, encomendado por um produtor de cinema, foi escrito durante a quarentena com “liberdade absoluta”, garante o escritor.

“Eu falei: ‘eu vou me dar liberdade absoluta. Eu vou escrever um livro que não tem compromisso com nada, nem com ninguém. Vou escrever o livro que eu quero nessa situação, que é um pouco uma situação de pesadelo acordado”, lembra. Um “um livro esquisito”, com uma narrativa fragmentada, que “desconcertou” a editora Anne Marie Métailié.

A história é a de uma professora de sociologia que vê o casamento desmoronar pouco antes do início da pandemia global, fica grávida de um estudante depois de uma única noite de amor e faz uma viagem pelo interior do país, com o filho pequeno, em busca de pistas sobre o paradeiro do pai dele. “É uma narrativa na desarticulação. Era interessante para mim o que seria uma narrativa antes da fabulação, entendeu? Antes da fala”, explica.

A mãe conversa o tempo inteiro com o filho que ainda não sabe falar, “como se ela desse a história para ele, por osmose”. O livro fala da “falta de memória, do desaparecimento da memória, de um jeito meio contraintuitivo, mas como possibilidade de narração de um futuro. Também tem uma distopia. O livro trata dessa impossibilidade de imaginar. Não é nem futuro nem passado, é um presente nebuloso”, conta o escritor.

Conspirando contra si mesmo

O Brasil nunca é nomeado, mas o livro espelha esse momento vivido pelo país, de polarização, em meio a ascensão de ideias conservadoras e negação da realidade, e de um embate entre passado e futuro. Uma frase do livro resume bem essa ideia: “o país conspirava contra si mesmo. É possível que tivesse conspirado contra si mesmo desde sempre e que a doença fosse seu coração”.

A ascensão da extrema direita em vários países como a França é, na opinião do escritor, “muito similar ao que aconteceu aqui. Eu não sei o que vai acontecer na França, mas espero que não aconteça a mesma coisa. A única diferença que eu acho é que um país, ‘em princípio’, trabalha a seu favor”.  

Ao comparar o Brasil de durante à pandemia, governado por Bolsonaro, ao país de hoje, Bernardo Carvalho, vê mudanças positivas, mas o problema estrutural persiste. “Oficialmente, tem alguém no poder que está tentando frear esse movimento (de autodestruição). Porém, dentro do próprio governo, ele está lidando com forças que são forças inerciais, que permanecem como as Forças Armadas, trabalhando contra o país”, pontua.

“O Último Gozo do Mundo” é o último livro traduzido e publicado na França, mas não é o último livro de Bernardo Carvalho lançado no Brasil. Em 2023, chegou às livrarias “Os Substitutos”, pela Companhia das Letras, no qual o escritor volta à Amazônia vinte anos depois de “Nove Noites”. “Os Substitutos” já foi comprado pela editora Anne-Marie Métailié e já está sendo traduzido para o francês.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.