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Livro de jornalista brasileiro revela atrocidades cometidas por russos na Ucrânia

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No livro “Ao Vivo da Ucrânia - Os bastidores cruéis da guerra vistos por um jornalista brasileiro”, o repórter João Alencar revela a experiência de cobrir um dos conflitos de maior impacto na geopolítica mundial no início do século 21.  

O jornalista brasileiro João Alencar lançou em outubro, pela Matrix Editora, o livro “Ao Vivo da Ucrânia”.
O jornalista brasileiro João Alencar lançou em outubro, pela Matrix Editora, o livro “Ao Vivo da Ucrânia”. © RFI
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Em 210 páginas, o jornalista traz um relato do que testemunhou durante as diversas coberturas jornalísticas na Ucrânia, algumas delas bem antes da deflagração do conflito, em fevereiro de 2022.

Segundo João Alencar, duas razões principais o levaram traduzir em palavras as cenas testemunhadas por meio de várias reportagens realizadas para canais de televisão na França: as atrocidades cometidas pelos russos na Ucrânia e os bastidores do trabalho jornalístico durante um conflito no qual diferentes versões e desinformação disputam o espaço midiático.

A ideia de escrever o livro ocorreu durante uma das mais intensas coberturas realizadas do conflito, quando visitou várias cidades nos arredores de Kiev, depois de cerca de um mês e meio de ocupação pelos russos. “Eles deixaram a região literalmente em 48 horas. Eu, e outros jornalistas internacionais presentes em Kiev, entramos nessas regiões com os ucranianos, descobrindo as atrocidades cometidas nesse período de ocupação. Inúmeros civis, famílias assassinadas, executadas de fato, com corpos no meio das ruas. Foi uma semana bem difícil”, lembra.

Naquele momento, além de contar com mais detalhes as histórias dos civis ucranianos, João Alencar também sentiu a necessidade de revelar ao público brasileiro a cobertura no terreno em meio a outra batalha, a da comunicação. “Na época tinha toda uma discussão e a versão russa de que tudo aquilo era uma encenação, aqueles mortos não existiam, tudo tinha sido organizado pelos ucranianos. “Queria mostrar que aqueles corpos nas ruas, inúmeras vítimas também enterradas nos quintais das casas, existiam de fato, eu vi com meus olhos. Eu tinha essa vontade de contar as histórias e, ao mesmo tempo, explicar como a gente trabalha para desmontar essa versão de um complô dos ocidentais”, afirma.

No seu relato, João Alencar resgata também a história para explicar a “relação sempre conturbada e de dominação” entre os dois países desde o império russo até a era soviética e a independência da Ucrânia, em 1991. No entanto, o jornalista recorre principalmente aos arquivos das suas reportagens realizadas durante as várias viagens que fez ao país, principalmente a partir do final de 2013, quando testemunhou os protestos de “Maidan”.

As manifestações contra o presidente pró-russo Viktor Yanukovitch, que se recusou a assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, ficaram conhecidas no mundo inteiro pelo nome da Praça Maidan, onde aconteciam. “Foram três meses, de novembro a fevereiro de 2014, quando a repressão policial começou a aumentar. Primeiro foram agressões físicas e depois até assassinatos. Em 20 de fevereiro a polícia teve ordens de evacuar a Praça e foram mais de 70 mortos, um número absurdo”, recorda.

Poucos meses depois, em 2014, o jornalista e repórter cinematográfico acompanhou o controverso referendo na Crimeia, que resultou na anexação do território pela Rússia.   

“Para os ucranianos, esse foi o primeiro ataque dessa guerra”, afirma João Alencar, lembrando que os militares russos, não uniformizados, controlavam o território e organizaram a votação, completamente “não democrática”. “De certa forma, essa foi a primeira agressão que a comunidade internacional acabou aceitando porque foi considerada ‘algo à parte’ e que a Rússia não passaria daquela região”, afirma.

Crimes de Guerra

No entanto, a maior parte do livro é dedicada ao que o Kremlin chama de “operação especial” na Ucrânia a partir de 24 de fevereiro de 2022 e seus desdobramentos até meados de 2023. Neste período, como enviado especial à Ucrânia, João Alencar e vários repórteres da rede de televisão BFM TV, testemunharam muita destruição, a fuga de ucranianos para outros países, a mobilização da sociedade civil para lutar contra o inimigo invasor e as consequências dramáticas para a população civil, como execuções e até crimes sexuais contra mulheres. “Foram relatos muito difíceis de escutar, de transmitir. Foi isso que me fez escrever, contar histórias dessa população civil que nunca imaginou viver isso”, insiste.

Na obra, João Alencar ainda explica por que a Guerra na Ucrânia não tem paralelo com nenhum outro conflito recente no continente europeu. “Nos acordos de guerra há uma série de normas a serem respeitadas. Os civis devem ser respeitados e não assassinados e executados. Prisioneiros de guerra devem ser prisioneiros, e não serem executados. Essas regras não são respeitadas e por isso se tornam, no caso, e são chamados de crimes de guerra. Pelas convenções, a guerra não permite tudo”, desabafa.

O livro foi lançado num contexto em que outra guerra, a de Israel contra o Hamas, domina o noticiário internacional e contribuiu para ofuscar ainda mais a cobertura do conflito na Ucrânia.  “Desde o ano passado não tem grandes novidades na guerra da Ucrânia, e agora mais ainda ofuscada por essa outra guerra terrível. Além desse impacto midiático, tem o impacto político, que é o apoio internacional à Ucrânia. Se a guerra no Oriente Médio durar, esse apoio poderá ser reduzido e é uma preocupação cada vez maior das autoridades ucranianas”, avalia.

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