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“O colorismo é um braço articulado do racismo”, afirma a autora Alessandra Devulsky

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A advogada mato-grossense Alessandra Devulsky é professora na Universidade do Quebec, em Montreal, no Canadá, e autora do livro “Colorismo”, lançado em 2021, que fez parte do movimento Feminismos Plurais de Djamila Ribeiro. A escritora está em turnê pela Europa para divulgação da versão em francês “Le Colorisme” pela editora de Paula Anacaona.

Alessandra Devulsky escritora
Alessandra Devulsky escritora © RFI
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O colorismo é um tema diretamente ligado ao racismo estrutural e ao fenômeno da miscigenação no Brasil. Entretanto, apesar de 56% dos brasileiros se enquadrarem na descrição de negros e pardos, segundo informações do IBGE, o debate sobre esta temática específica ainda é pouco explorado.

Para esclarecer e gerar reflexão, Alessandra Devulsky explica em seu livro os contextos históricos que proporcionaram a amplitude da miscigenação no Brasil associados às realidades sociais e culturais do país que, com isso, determinaram a identidade variada do povo brasileiro. 

A publicação, de cerca de 130 páginas, contempla exemplos reais de colorismo na sociedade para facilitar o entendimento do leitor. Para Alessandra, o colorismo e o racismo são questões análogas.

“O colorismo é um braço articulado do racismo", indicou em entrevista à RFI. "O racismo precisa do colorismo para poder se perpetuar em sociedades mestiças, sociedades nas quais, por exemplo, casamentos inter-raciais são uma realidade, é o caso do Brasil”, apontou.

Apesar de levar luz ao tema da miscigenação associada, a autora faz questão de não “romantizar" a mestiçagem. Porque "a mestiçagem começa por estupros sistemáticos de mulheres indígenas e negras”, enfatiza ela, ao explicar o legado do passado escravagista do Brasil.

Europeidade versus africanidade

“Portanto, o colorismo é uma hierarquização de homens e mulheres de acordo com os traços que essas pessoas vão portar, mais associados à africanidade ou mais associados à europeidade”, disse ao apontar detalhes como tamanhos de narizes, lábios e textura de cabelos, entre outros, que interferem, segundo ela, nas relações do mercado de trabalho e dinâmicas de poder.

“O colorismo se insere nesse processo cultural de menosprezar os traços da africanidade”, o que acaba por emergir nas questões salariais e sociais. 

Capa do livro da escritora Alessandra Devulsky
Capa do livro da escritora Alessandra Devulsky na versão recém lançada em francês pela editora Anacaona. © RFI

Combate ao racismo

Radicada no Canadá, a autora relembra o fato de ser negra mestiça no exterior e as dificuldades que o fato causa, além da língua, pois por "melhor que fale francês", nunca falará como os nativos. 

Na opinião da escritora, muitas questões referentes ao colorismo e ao racismo são, hoje em dia, combatidas através de políticas públicas e debates amplos, porém ainda não foram solucionadas. 

Mesmo concordando que as temáticas estão cada vez mais nas rodas sócio-culturais, Alessandra Devulsky acredita que ainda se fala pouco sobre o racismo, apesar do contexto antirracista estar em alta com livros premiados de autoras como Djamila Ribeiro e Carla Akotirene, entre outros.

O livro "Colorismo" originalmente publicado em português, faz parte do movimento e coleção Feminismos Plurais, realizado por Djamila Ribeiro em 2021. A versão em francês "Le colorisme" tem edição da tradutora e editora Paula Anacaona.

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