Acessar o conteúdo principal
RFI Convida

Projeto circense criado por brasileira em região carente perto de Paris é tema de documentário

Publicado em:

Neusa Thomasi é uma artista gaúcha radicada na França e diretora engajada do projeto 'Compagnie des Contraires', em Yvelines, no subúrbio parisiense, há mais de 30 anos. Ela é a personagem principal do documentário “Le Repaire des Contraires” que conta o cotidiano da escola de circo e artes dirigida por ela própria nos arredores de Paris.

Neusa Thomasi foi condecorada cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras pela prefeitura Yvelines, região parisiense, por seu trabalho cultural circense em Chanteloup-les Vignes, como diretora da Compagnie des Contraires.
Neusa Thomasi foi condecorada cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras pela prefeitura Yvelines, região parisiense, por seu trabalho cultural circense em Chanteloup-les Vignes, como diretora da Compagnie des Contraires. © Luiza Ramos/RFI
Publicidade

O filme entrou em cartaz dia 1.º de novembro em salas alternativas da capital francesa como o Espace Saint-Michel, mas já concorreu e recebeu uma menção na categoria prêmio especial de política no Festival Internacional de Filmes sobre Direitos Humanos, em Guadalupe, em 2021. Além disso, Neusa e a diretora do documentário, a francesa Léa Rinaldi, chegaram a apresentar o filme no Festival de Cannes.

Em 1991, Neusa Thomasi começou seu projeto cultural na comuna de Chanteloup-les-Vignes, onde a maioria dos moradores é de origem imigrante, considerada uma das localidades mais pobres de região de Île-de-France, periferia de Paris. A intenção dela era levar cultura para as crianças e jovens numa região onde a violência e o tráfico de drogas eram, e ainda são, parte do cotidiano.

"Eu vi que nessa época existia um vazio cultural enorme (...) vazio humano, vazio criativo, miséria do imaginário, eu disse, bom, eu vou ficar aqui e construir uma política cultural para os jovens dessa cidade", conta ela, que sofreu agressões no início da implementação do projeto cultural.

No começo houve resistência da população, mas ela descreve que o impacto de ter "educado duas gerações e meia" de pessoas dentro das artes e do circo é bastante concreto. "Hoje há crianças que trabalharam conosco que estão na escola de circo de Montreal, na Escola Nacional de circo da Itália, conservatórios de teatro, fazendo BPJeps circo [tipo de formação profissionalizante francesa], danças urbanas, estão todos encaminhados", enumera orgulhosa.

O documentário 

O documentário, filmado ao longo de três anos pela produtora de Léa Rinaldi, - que abraçou a ideia de produzir e registrar a história do projeto - testemunha a luta social de Neusa Thomasi e as realidades de uma região socialmente complexa e pouco conhecida pelo público em geral, apesar da proximidade com Paris. 

“Le Repaire des Contraires” - que dá título ao filme, - foi uma grande tenda de circo, uma espécie de picadeiro, montado no conjunto habitacional de Chanteloup-les-Vignes, que se tornou um “abrigo” para Neusa, seus alunos e familiares, que tiveram suas vidas modificadas pelo projeto.

Nos 80 minutos do filme fica evidente a forma sincera como ela trata os alunos em assuntos como perda e morte ao que Neusa atribui à forma como ela encara a vida: "Tento mostrar para as crianças que a vida é uma passagem. Hoje nós estamos aqui e amanhã não estamos mais, é preciso ser feliz no momento presente", descreve ela ao apontar suas referências trabalhadas durante as aulas que contêm textos do inglês William Shakespeare e dos franceses Charles Baudelaire e Molière. Do Brasil, ela traz inspirações indígenas - o que é possível ver no cartaz do documentário -, além de textos de Jorge Amado e Villa-Lobos, cuja música compõe a trilha sonora do filme.

Cartaz do documentário "Le Repaire des Contraires" da diretora Léa Rinaldi.
Cartaz do documentário "Le Repaire des Contraires" da diretora Léa Rinaldi. © Divulgação Aléa Films

 

Reconhecimento da vida real

O picadeiro onde as atividades aconteciam foi devastado por um incêndio criminoso em novembro de 2019. Mas Neusa conseguiu dar continuidade ao seu trabalho, que acabou por ser reconhecido pelo conselho municipal em 2021, ano em que a agitadora cultural foi condecorada cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras pela prefeitura Yvelines por seu trabalho como diretora da 'Compagnie des Contraires'. 

Neusa Thomasi atualmente dirige outro projeto na prefeitura de Yvelines, no departamento de Limay, um projeto social de escola de circo e criação teatral que também possui iniciativas como prevenção de saúde e de socialização. Ela também atua em projetos culturais no Brasil. O site para mais informações é http://www.compagniedescontraires.com/

E quem tiver interesse em assistir o documentário, o filme está em cartaz durante todo o mês de novembro no Espace Saint-Michel, em Paris.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.