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“Hoje a Amazônia é a região que mais passa fome”, afirma Graziano, ex-diretor da FAO

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O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, apresentou na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), em Roma, o programa do governo brasileiro para combater a crise alimentar, de redução das desigualdades e de proteção social. Ele participou da 51ª sessão plenária do Comitê de Segurança Alimentar Mundial (CSA), que acontece até sexta-feira (27).

O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, conversa com José Graziano da Silva, que foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo Lula e ex-diretor-geral da FAO. Roma, em 24 de outubro de 2023.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, conversa com José Graziano da Silva, que foi ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo Lula e ex-diretor-geral da FAO. Roma, em 24 de outubro de 2023. © Gina Marques / RFI
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Por Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

O CSA é uma plataforma intergovernamental coordenada pela FAO e apoiada pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e pelo Programa Alimentar Mundial. A sessão plenária é realizada anualmente e propõe a troca de conhecimentos entre os países participantes com o objetivo de erradicar a fome e a má nutrição.

Após a plenária, na terça-feira (24), Wellington Dias se encontrou com José Graziano da Silva, que, entre 2003 e 2004, atuou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva como ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome, sendo o responsável pela implementação do Programa Fome Zero. Graziano também foi diretor-geral da FAO, de 2012 a 2019. A RFI entrevistou Wellington Dias e José Graziano da Silva na sede da FAO, em Roma.

De acordo com os relatórios produzidos pela FAO, o Brasil sofreu um retrocesso desde 2019. A tendência e os dados verificados mostram que o país retornou ao Mapa da Fome em 2022, oito anos depois de deixar a lista. O levantamento mais recente desta agência da ONU, realizado entre os anos de 2020 e 2022, mostra que 10,1 milhões de brasileiros estavam em situação de fome. Outros 21,1 milhões, em condições de insegurança alimentar grave.

O ministro Wellington Dias afirma ainda que o retrocesso do Brasil se deve ao desmantelamento das políticas de combate à fome promovidas pelos governos anteriores do PT. “O Brasil passou por uma situação em que se desmantelou todos os sistemas existentes. Houve um desmonte na integração com os municípios, combinado com diversas políticas de transferência de renda, moradia, energia elétrica, a qualificação, além da agregação da saúde com a educação. Agora é um desafio maior porque a fome tem uma presença ainda mais forte nas médias e grandes cidades”, adverte Dias.

Brasil no Mapa da Fome

O ministro ressalta que tirar o Brasil do Mapa da Fome e reduzir a pobreza são prioridades do governo do presidente Lula. “Temos um foco especial com a população em situação de rua, povos indígenas. Todo mundo se lembra da situação dos Yanomami. Aquilo é uma realidade em muitos lugares. Nos esforçamos para a economia do país crescer e abrir a oportunidades para este público”, ele acrescenta.

Já José Graziano da Silva avalia que hoje o desafio é maior do que no passado, quando foi implementado o Programa Fome Zero. “Além da população ter crescido, agora a fome está espalhada pelo Brasil inteiro. Há 20 anos, estava concentrada basicamente no interior do Nordeste. Hoje a região que mais passa fome é a Amazônia. São números fortes em uma região que se supõe que esteja entre as mais ricas, em termos de natureza, de rios, peixes e frutas. Mas é a região que tem mais fome”, ele insiste.

Graziano aponta também para o aumento da fome e da miséria nas metrópoles. “A população de rua não tem nenhum atendimento para suas necessidades básicas. Não é só a falta de alimentação, não tem casa, não tem educação, não tem água, não tem luz e convive com narcotraficantes, com prostituição, e uma série de situações derivadas dessa marginalidade social que se vê nas grandes metrópoles. O problema hoje é mais complicado”, ele enfatiza.

Durante seus dois mandatos consecutivos como diretor-geral da FAO, Graziano incentivou programas para combater, além da fome, a má nutrição e a obesidade. “A FAO mostra que 70 milhões de pessoas não comem, ou comem mal. Elas não se alimentam de forma adequada, comendo embutidos ou ultraprocessados. Essa má alimentação está levando uma epidemia de obesidade, principalmente entre as mulheres e os jovens. Este é um problema que nós temos que enfrentar”, explica.

José Graziano destaca também a importância da educação alimentar. “É preciso começar pela escola, pela nutrição na merenda escolar, aprender a comer frutas, verduras, legumes, e fazer exercícios [físicos]. É mais complicado que simplesmente dar um dinheiro para você comprar alimento”, frisa.

Programa articulado

Neste ano, o Governo Federal retomou a estratégia de enfrentamento da crise alimentar com o Plano Brasil Sem Fome, que articula 80 ações e programas de 24 ministérios que compõem a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), que foi recriada. São cem metas propostas, a partir de três eixos de atuação: Acesso à renda, redução da pobreza e promoção da cidadania; Segurança alimentar e nutricional: alimentação saudável, da produção ao consumo e; Mobilização para o combate à fome.

Tanto Wellington Dias como José Graziano da Silva expressam otimismo. “Eu estou muito animado, nós vamos ter resultado sim”, declarou o ministro.

“Estamos otimistas sim – prossegue Graziano. Primeiro porque sabemos o que fazer. Não é a primeira vez que fazemos isso. Segundo porque temos instrumentos muito potentes, como os programas articulados em torno da Caisan, com 24 ministros que estão cooperando. Não é mais um ministro, é um governo que está dando respaldo a essa ação”, ele sublinha.

Graziano conclui salientando a conscientização dos direitos civis. “Finalmente, eu creio que a população hoje tem consciência de que ela tem direito a comer bem. É um direito humano que está na nossa Constituição. Cada vez mais as pessoas reivindicam isso não como um favor ou como um benefício, mas como um direito. E é isso que vai fazer a grande diferença”.

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