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“São índices de guerra”, diz Patrícia Melo sobre feminicídio no Brasil ao lançar romance na França

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O livro “Mulheres Empilhadas”, de Patrícia Melo, acaba de ser traduzido por Elodie Dupau e publicado na França pela editora Buchet-Chastel com o título de “Celles qu’on tue”. A premiada escritora brasileira veio a Paris para o lançamento do romance em francês, que aborda o feminicídio no Brasil, e deu uma longa entrevista à RFI.

Patrícia Melo, escritora brasileira fala do lançamento em francês de seu livro " Mulheres empilhadas"
Patrícia Melo, escritora brasileira fala do lançamento em francês de seu livro " Mulheres empilhadas" © RFI
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“Mulheres Empilhadas” chega às livrarias francesas quase quatro anos depois de ter sido lançado no Brasil, pela LeYa, em 2019. É o 11° romance de Patrícia Melo e o 11° a ser traduzido para o francês, confirmando que a França é um dos países de maior visibilidade da literatura da escritora brasileira no exterior. “A França sempre foi um país que acolheu bastante a literatura brasileira e eu me sinto muito privilegiada de ter todos os meus títulos traduzidos aqui”, disse a autora. 

O romance, que narra a história de uma jovem advogada paulista que vai ao Acre acompanhar um mutirão de julgamentos de casos de mulheres assassinadas, chegou a integrar a primeira lista do prestigioso prêmio de literatura francês Femina. “A gente teve essa alegria do livro estar na primeira lista do ‘Prix Femina’. Pela segunda vez eu estou numa lista prestigiosa como essa. Isso me deixa muito honrada e eu acho que a recepção está sendo muito boa”, acredita.

Todos os romances de Patrícia Melo retratam a violência urbana brasileira. Desta vez, o tema abordado pela escritora é a questão do feminicídio que ganhou muita visibilidade nos últimos anos e só vem crescendo. De 2019 para cá, a situação “piorou bastante”, ressalta a escritora. Em 2022, o número de feminicídios no Brasil foi recorde, com uma alta de 5% em relação a 2021. Foram 1,4 mil mulheres mortas, uma a cada seis horas. “São índices de guerra”, resume Patrícia Melo

A escritora analisa que “a grande razão pela qual piorou o cenário para a mulher no Brasil foi a chegada ao poder no país da extrema direita, com um discurso bastante machista, bastante misógino”. Com a derrota de Bolsonaro e a volta de Lula ao poder, ela acredita que “a gente tem a possibilidade de mudar isso”.

Feminicídio é universal

Normalmente, a maioria dos protagonistas dos romances de Patrícia Melo são homens. Em “Mulheres Empilhadas”, a protagonista é mulher, mas a narradora não é nunca nomeada. O objetivo da escritora era facilitar a identificação dos leitores/ leitoras com a personagem e mostrar que a violência contra a mulher é universal. Como diz a personagem do romance, “o feminicídio é um crime democrático, não interessa a posição social, não interessa o lugar, a profissão, a cor da pele, basta ser mulher para ser um alvo". “Exatamente por isso, eu achei que era bastante interessante deixar a personagem sem nome para fazer com que o leitor sinta essa vulnerabilidade e como é horrível você poder estar nesse lugar”, revela.

Também pela primeira vez, um romance da autora mistura ficção e realidade. O livro é composto por três partes que se entrelaçam: a trama central, uma parte onírica sobre o ritual das mulheres indígenas, e 12 relatos reais de feminicídios.

Em “Mulheres Empilhadas”, Patrícia Melo denuncia ainda outros crimes resultantes dessa sociedade e cultura patriarcal, o ecocídio na Amazônia e a violência contra os povos indígenas brasileiros. “São coisas que se entrelaçam, se superpõem de uma certa forma. Eu acho que, historicamente, a Amazónia tem sido vista como uma coisa a ser explorada, uma coisa a ser destruída, a ser consumida, a ser jogada fora, exatamente como a mulher”, compara.

Patrícia Melo “rejeita o rótulo de escritora policial” que geralmente é utilizado para definir seu gênero literário. “Eu estou muito mais interessada na complexidade urbana, nas patologias urbanas, na violência que permeia as nossas relações”, descreve, ressaltando que acha “difícil rotular”.

Radicada na Suíça, ela lançou no ano passado no Brasil seu 12° romance, “Menos que um”, que denuncia a vulnerabilidade das pessoas que vivem em situação de rua. Patrícia Melo está atualmente escrevendo uma nova história de violência, justamente sobre a “Amazônia”.

Clique na imagem principal para assistir a entrevista completa

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