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Na Suíça, cacique Mobu Odó faz apelo pelos povos indígenas: “Estamos sós, não temos segurança”

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O cacique Mobu Odó Arara, líder do povo Arara, da Terra Indígena Cachoeira Seca, no estado do Pará, está em Genebra, na Suíça, com uma comitiva em defesa dos direitos humanos. Ele participa de reuniões na ONU na quinta-feira (28).

O cacique Mobu Odó Arara está em Genebra, na Suíça, para participar de encontros na ONU e para defender os direitos dos povos indígenas.
O cacique Mobu Odó Arara está em Genebra, na Suíça, para participar de encontros na ONU e para defender os direitos dos povos indígenas. © Valéria Maniero
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Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

Em entrevista exclusiva à RFI, o cacique Mobu Odó Arara falou sobre a ida a Genebra com uma comitiva em defesa deos direitos humanos composta pela Conectas e o Instituto Maíra. Eles participam de encontros na ONU, fazendo um apelo pela preservação dos direitos dos povos indígenas.

O cacique é originário de Cachoeira Seca, território indígena mais desmatado do Brasil e que enfrentava, em 2020, segundo dados do Inpe, o sexto ano consecutivo de aumento do desmatamento. A área já foi impactada pela Transamazônica, na época da ditadura militar, e pela construção da usina de Belo Monte, mais recentemente.

“Nós viemos defender nossos direitos que estão garantidos na Constituição Federal e não estão sendo cumpridos pelo Estado brasileiro. A gente está preocupado com o nosso território, que faz parte da Amazônia”, explicou.

Segundo ele, “era para o mundo inteiro se preocupar com isso”.

“A gente está aqui pra passar essa mensagem do nosso povo para o pessoal de Genebra de direitos humanos. Estamos aqui para dizer que não somos só nós que respiramos desse ar, que não somos só nós que precisamos dessa parte da Amazônia. A gente está preocupado com o desmatamento acelerado”, disse.

Como o povo Arara ficou isolado até 1987, eles são considerados pela Funai como um grupo que teve contato recente com os não indígenas.  

Pressionar o governo brasileiro

O cacique explicou que o território indígena dos Arara “está sendo invadido pelos madeireiros, pela grilagem de terras”.

“A gente está preocupado. Ainda mais com a chegada de Belo Monte, que acelerou a invasão de nosso território. Então, hoje, nós estamos aqui para o pessoal da Suíça pressionar o governo brasileiro para parar com as invasões, porque estamos vendo que estamos sós, não temos segurança, nós não temos estrutura para essa defesa”, disse.

Cacique vai pedir que autoridades internacionais de direitos humanos pressionem o governo brasileiro para a proteção das terras indígenas contra os invasores.
Cacique vai pedir que autoridades internacionais de direitos humanos pressionem o governo brasileiro para a proteção das terras indígenas contra os invasores. © Valéria Maniero

"Gente grande" por trás das invasões

O cacique busca apoio “de estrutura pra poder seguir a luta”.

“Os fazendeiros, os que invadem nosso território são 'gente grande'... É senador, deputado. São pessoas poderosas. Nós somos um povo de recente contato. A gente está lutando, mas somos poucos, 100 e poucas pessoas na nossa comunidade. E os invasores estão em maior número, mais de duas mil famílias dentro do território. Então ficamos preocupados, mas a gente é resistente”.

Mesmo assim, ele conta que há insegurança quando chegar a hora de voltar pra casa.

“A gente está inseguro de voltar para a aldeia. Nós não sabemos se na volta vai ter emboscada no meio do caminho...Mas faz parte da luta, né? Se não formos nós, não tem ninguém por nós. Sabendo que essa luta não é só da gente que vive naquele território, é global. Todo mundo precisa respirar ar puro e é só lá que uma parte da floresta está intacta. É por isso que lutamos”.

Força Nacional no território indígena

Sobre o fato de a Força Nacional apoiar a Funai na terra indígena Cachoeira Seca, informação divulgada esta semana, o cacique diz que é uma boa notícia, mas faz um alerta. 

“Nossos caciques, nossos representantes, vão ficar muito mais visados do que eram antes. É muito boa essa notícia, mas precisamos de estrutura de segurança para nós e para a aldeia. Quando a gente está nessas missões de defender nosso território, o pessoal vai pressionar muito mais. É por isso que também estamos preocupados. É notícia boa, mas tem essa parte de insegurança, né?”, explicou.

"Ainda é possível salvar a Amazônia, mas é preciso o apoio de todos", destacou o cacique.
"Ainda é possível salvar a Amazônia, mas é preciso o apoio de todos", destacou o cacique. © Valéria Maniero

Salvar a floresta

Questionado se ainda havia tempo para salvar a floresta, ele respondeu que sim, mas que é preciso contar com a ajuda de todos. Disse também que o homem branco está em dúvida.

“Ninguém sabe o que o homem branco quer, ele está indeciso. Quer o desenvolvimento do país e ao mesmo tempo está destruindo a floresta que ele vai precisar para o seu neto, seu bisneto. Ele tem agora, mas não vai ter mais no futuro. É por isso que todos temos que nos aliar para lutar em defesa da Amazônia".

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