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“A função do artista é mostrar: olha, isso existe, isso está aqui”, diz vencedor do prêmio Breeze

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O artista visual carioca Osvaldo Carvalho embarca em breve para o Reino Unido. O passaporte? Ser o vencedor do Breeze Award 2023, prêmio de arte contemporânea concedido pela Embaixada do Brasil em Londres. Na mala, os tensionamentos sociais do Brasil como recorte das disputas de classe em todo o mundo, tema traduzido na série “Falsa Simetria”, que será exposta na capital britânica durante a Frieze Art Fair, no próximo mês de outubro.

O artista visual brasileiro Osvaldo Carvalho, vencedor do Breeze Award 2023, diante de sua obra Os Negacionistas.
O artista visual brasileiro Osvaldo Carvalho, vencedor do Breeze Award 2023, diante de sua obra Os Negacionistas. © Corina Ishikura
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Andréia Gomes Durão, da RFI

Assunto recorrente na produção de Osvaldo Carvalho, a questão social, mas também a ambiental, foi ampliada recentemente sob a lente da pandemia de Covid-19, que jogou ainda mais luz sobre o abismo de desigualdades do país. O artista se utiliza, por exemplo, da condição da população de rua para abordar o tema.

Clique na foto para ver o vídeo com a entrevista completa.

“Durante a pandemia isso foi mais forte, muito mais evidente. Todo mundo deveria estar em casa, e na rua tinha gente. Mas que gente era essa? Era a população que estava desamparada, que não tinha outra alternativa senão continuar na rua. Houve uma ampliação de território de busca para os catadores, porque diminuiu o movimento na rua e, com isso, a quantidade de latinhas, garrafas, papelão. Eles passam a ter que procurar em outras áreas, e há um conflito sobre isso”, observa Carvalho, em entrevista à RFI.

"Os Negacionistas", de Osvaldo Carvalho.
"Os Negacionistas", de Osvaldo Carvalho. © Alex Carvalho

Cadu Gonçalves, que assina a curadoria da exposição “Falsa Simetria”, que pode ser visitada atualmente em São Paulo, afirma que o que habita a pintura de Osvaldo Carvalho está desprovido de meias verdades ou meias palavras, que o assunto é sempre direto e a operação do artista é literal, “a ponto de podermos ouvir a imagem dizer: ‘É isso mesmo o que você está vendo’, tamanha a objetividade da situação retratada”.

“O termo Falsa Simetria se refere à ideia falaciosa de que diferentes ações realizadas por diferentes extratos sociais, como classe, gênero, raça e orientação política, geram os mesmos resultados. No campo plástico, a Falsa Simetria acontece no emprego calculado de telas que aludem a falsos quadrados, em suportes que não possuem medidas exatas, em paletas, relações cromáticas e proporções errôneas entre figura e fundo em comparação aos objetos retratados em cada cena”, explica o curador.

A afirmação encontra ressonância no discurso de Osvaldo Carvalho: “A função do artista é mostrar ‘olha, isso existe, isso está aqui’ e eu creio que, do meu particular, eu também esteja falando do mundo. Eu creio que em outros lugares [a crise sanitária] também tenha se dado dessa maneira. Eu não acho que [o Brasil] seja um caso isolado”, avalia o artista, que agora acrescenta o Breeze Award 2023 a uma extensa lista que inclui prêmios concedidos pela Funarte (2020), Itaú Cultural (2020), além de ter sido finalista do 7° Prêmio Marcantonio Vilaça (2019).

 

"Cárites", de Osvaldo Carvalho.
"Cárites", de Osvaldo Carvalho. © Maurício Seidl

 

“A arte é inevitável”

Mais do que direta, a arte, para Osvaldo Carvalho, “é inevitável”. A afirmação é constante em seus depoimentos e aparece com frequência em suas redes sociais. Ele remonta a um episódio dos tempos do colégio para justificá-la, quando a ousadia do seu discurso artístico, ainda na infância, não correspondeu às expectativas estéticas – e castradoras? – de sua então professora de artes plásticas.

“Eu fiz um trabalho que eu achei que era excelente, e eu ganhei uma nota muito baixa. Aquilo me traumatizou a ponto de eu abandonar a arte. E eu gostava de estar inventando aquelas coisas, de estar propondo. Mas nada daquilo satisfazia o ideário da professora. Tempos depois, quando eu vou a uma Bienal de São Paulo, aquilo parece que acende uma luz de novo. A arte é inevitável, é uma afirmativa muito pessoal, mas, quando você coloca para o mundo, as pessoas vão começar a ter suas próprias interpretações”, acredita Carvalho.

 

"Um Defeito de Cor", de Osvaldo Carvalho.
"Um Defeito de Cor", de Osvaldo Carvalho. © Maurício Seidl

 

Além da experiência vivida na escola, o artista também retoma o contexto da crise sanitária para justificar sua afirmativa. “Se não fossem os artistas na época da pandemia, o que que as pessoas teriam? Não haveria artes visuais, não haveria cinema. O teatro se reinventou. Foi muito interessante você se programar para sentar um dia de frente para a televisão para ver uma peça teatral. E se não são os artistas para criar esse alívio em um mundo tão duro, tão cruel que a gente vive?”, questiona o artista, que é mestre em Poéticas Visuais pela USP, além de ter desenvolvido parte de seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro.

A série “Falsa Simetria” poderá ser visitada na embaixada do Brasil em Londres, em outubro, no mesmo período da edição britânica da Frieze Art Fair, uma das maiores feiras internacionais de arte contemporânea. As obras podem ser vistas atualmente na Janaína Torres Galeria, em São Paulo, onde ficarão expostas até 1° de julho.

Osvaldo Carvalho expõe em todo o Brasil e em países da América Latina, como artista, mas também como curador. Na Europa, participou da 4ª Bienal Internacional de Arte Gaia, em Portugal (2021), da 6ª International Art Workshop Exhibition, na Dinamarca (2016), onde também desenvolveu uma residência artística, e da Nanoexposição, na Suécia (2009).

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