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Na França, pesquisador brasileiro propõe ‘revisionismo’ de cidades históricas mineiras

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O relato em torno do passado urbano de algumas cidades históricas mineiras, como Ouro Preto e Mariana, estaria comprometido – e deturpado – segundo as concepções acadêmicas mais recentes. É no que acredita o arquiteto Rodrigo Bastos, que realiza na França uma pesquisa que resgata os contextos dos séculos 17 e 18 para ressignificar o patrimônio arquitetônico dessas “vilas”.

O arquiteto e pesquisador brasileiro Rodrigo Bastos.
O arquiteto e pesquisador brasileiro Rodrigo Bastos. © RFI
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“Eu tenho trabalhado nos últimos anos em uma pesquisa que busca reconstituir a história de conjuntos arquitetônicos e urbanos em Minas Gerais, especialmente do século 18, como Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei e Catas Altas, vilas que possuem arquiteturas importantes, impressionantes do ponto de vista do nosso patrimônio, tentando escrever a história desses conjuntos a partir dos conceitos do seu tempo”, conta Bastos, que é pesquisador convidado no Centre Jean Pépin, na região parisiense.

Ele explica que esses conceitos foram “esquecidos, transformados, apagados pela história” dos últimos 200 anos. “Conceitos românticos, como originalidade e genialidade, evolução, substituíram os conceitos daquela época – decoro, decência, adequação, formosura, elegância, perfeição”, compara.

 

Capela de Santa Ifigênia, Ouro Preto.
Capela de Santa Ifigênia, Ouro Preto. © Rodrigo Bastos

 

“Minha pesquisa tem reconstituído esses conceitos para escrever sobre essas obras, enaltecendo e destacando os meios, os princípios e as finalidades dessa arquitetura, com seus próprios conceitos. [Para] Dar voz a essas obras, com a terminologia, as palavras que eles usavam no seu tempo”, continua Bastos, que é professor da Universidade Federal de Santa Catarina e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Retórica.

Em uma de suas pesquisas, o arquiteto contraria o pressuposto de que as povoações históricas de Minas Gerais, em Ouro Preto, Sabará e Mariana, teriam se desenvolvido espontaneamente, questionando a interpretação moderna dessas cidades.

“Estudar esses elementos, essas obras, à luz desses conceitos [da época] permitiu colocar por terra essa visão de que são cidades espontâneas, irregulares, desordenadas, que são noções que vêm sendo difundidas desde os viajantes do século 19, passam por Sérgio Buarque de Holanda e outros estudiosos importantes com quem aprendemos muito, mas que tinham essa visão formada por ideologias de nacionalismos, ufanismos, a tentativa de construir nos anos 30 e 40 uma identidade nacional”, avalia.

 

Capela da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Ouro Preto.
Capela da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Ouro Preto. © Rodrigo Bastos

 

Representação de valores

Bastos é autor de “A maravilhosa fábrica de virtudes: o decoro na arquitetura religiosa de Vila Rica (Ouro Preto) Minas Gerais”, finalista no prêmio Jabuti de 2014. O livro é resultado de sua tese de doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo.

A pesquisa evidencia tratados artísticos e arquitetônicos de época, tratados de teologia, de política, que consideram o “corpo” (conjunto) da igreja, o corpo da cidade, o corpo do Reino [português]. “Eram corpos de arquitetura que funcionavam como teatros de representação de valores importantes para a sociedade da época, valores teológicos, valores políticos, valores que são cultivados e se tornam importantes para as comunidades”, analisa.

Rodrigo Bastos também é autor de “A arte do humanismo conveniente”.

 

Vista de Ouro Preto.
Vista de Ouro Preto. © Rodrigo Bastos

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