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Agualusa lança na França “Os Vivos e os Outros”, romance sobre o poder de contar histórias

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“Os Vivos e os Outros” é o nono romance de José Eduardo Agualusa publicado na França. O livro, lançado em português em 2020 pela Planeta, chegas às livrarias da França nesta sexta-feira (10) pela editora Métailié, com tradução de Danielle Schramm.

A tradução de "Os Vivos e os Outros" (Les vivants et les autres), do escritor angolano José Eduardo Agualusa, chega às livrarias francesas nesta sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023.
A tradução de "Os Vivos e os Outros" (Les vivants et les autres), do escritor angolano José Eduardo Agualusa, chega às livrarias francesas nesta sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023. © Divulgação/ Métailié
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Agualusa tem mais de 15 livros publicados em português, a maioria traduzidos em diversas línguas. Internacionalmente, o Brasil é um dos melhores mercados para seus livros e onde ele tem o maior número de leitores. “Felizmente, nos últimos anos, o Brasil se voltou para a África, descobriu a literatura africana”.

O escritor angolano também faz muito sucesso em países de língua inglesa, onde já ganhou muitos prêmios. Mas, na França, ainda é pouco conhecido, e espera “seguir os passos de Mia Couto”, escritor moçambicano que tem conquistado críticos e leitores na França. “Mia está abrindo caminho para outros escritores de língua portuguesa”, acredita.

“Os Vivos e os Outros”, que em francês recebeu o título de “Les vivants et les autres”, é o primeiro romance do escritor angolano que se passa inteiramente em Moçambique, mais precisamente na Ilha de Moçambique, onde Agualusa mora atualmente.

A história recupera dois personagens do romance anterior, a artista plástica Moira e o jornalista Daniel Benchimol, apontado como o alter ego do escritor e que também aparece em outros de seus livros. Em “Os Vivos e os Outros”, escritores africanos reunidos para um festival literário ficam presos na ilha, isolada do mundo por uma tempestade.

Escrita visionária

O livro foi imaginado antes da pandemia de Covid-19 e muitos críticos viram ali uma escrita visionária do lockdown imposto pelo coronavírus ao mundo em 2020. Mas a ameaça dos ciclones que varreram Moçambique em 2019 também está muito presente. “Não é tanto a questão do isolamento, mas principalmente a situação mental que vivem os personagens. É essa sensação de estarem aprisionados num tempo sem tempo, que foi um pouco aquilo que vivemos durante dois anos, confinados, nós todos, em todo o mundo, nas nossas casas”, ele detalha.

Realidade e ficção se misturam o tempo todo. Como na criação do mundo, a história se passa em sete dias. “Para mim, é um livro sobre o poder da palavra, sobre o poder de contar histórias, levando a sério a primeira frase da Bíblia que diz que no princípio era o Verbo, no princípio era a Palavra, ou seja, é a Palavra que funda a realidade. (...) A partir do momento que começam a recontar a história, eles refazem o mundo”, revela o escritor.

Literaturas e identidades africanas

“Os Vivos e os Outros” levanta questões como a escrita literária, identidade e raízes africanas, que, de acordo com Agualusa, ainda são pertinentes. Ele acredita que a literatura do continente, que deve ser conjugada no plural, começa a “escapar de armadilhas que foram largamente construídas fora de África, e que tentavam prender os escritores africanos a modelos e a temas que esses críticos fora da África achavam que deviam ser a literatura africana. Isso está, felizmente, desaparecendo. Mas ainda é um assunto”.

O Brasil, onde Agualusa morou e onde publica semanalmente uma crônica no jornal O Globo, está super presente na narrativa. O escritor nasceu em Huambo, em Angola, morou também em Lisboa, e agora, em Moçambique. Ao contrário de outros autores lusófonos, ele afirma que escrever em português não é um problema para a divulgação internacional de sua obra. “Para isso existem os tradutores!”

Ele diz que o melhor do mundo lusófono é não ter um centro cultural forte, uma ex-potência que domine as ex-colônias. “Portugal é muito fraco, não tem essa força. Então, talvez o melhor deste nosso mundo [lusófono] seja o fato de não ter um centro. Quer dizer, é um mundo onde a informação circula de forma mais democrática.”

Populismo

Em seus livros e crônicas, a realidade, a questão política e a história desses países são levantadas, questionadas. Para Agualusa, “a questão do populismo é transversal a todo o mundo”, mas ele quer acreditar que isso está sendo ultrapassado, no Brasil, com a vitória de Lula, e, em Angola, apesar de muitas dificuldades. O país que mais preocupa o escritor é Moçambique.

“É um país que tem grandes linhas de fratura que estão sendo exploradas, creio, até a nível internacional e que põem em causa inclusive a unidade do país. Portanto, o país que mais me preocupa hoje é Moçambique, ao contrário de Angola, que tem uma oposição muito forte. A existência de uma oposição forte é fundamental em uma democracia”, ressalta.

Clique na foto principal para assistir a entrevista na íntegra

 

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