100 anos de Saramago: "Ele era um arquipélago de ideias", diz biógrafo do escritor
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Miguel Real e Filomena Oliveira foram entrevistados pela RFI Brasil na sede da Fundação Saramago, em Lisboa, no contexto das comemorações do centenário do escritor. A dupla lembrou da diversidade de sua obra, que inclui mais de 40 títulos, entre romances, ensaios, crônicas, contos, peças de teatro e até um blog, onde chegou a se aventurar. Autoexilado com sua esposa, Pilar del Río, na ilha espanhola de Lanzarote, José Saramago foi o único escritor de língua portuguesa a receber o Nobel, em 1998.
“Os problemas que Saramago levanta e explora em seus romances são contemporâneos, talvez ele escrevesse hoje sobre as mudanças climáticas”, ponderam Miguel Real e Filomena Oliveira, biógrafos de Saramago, ciceroneados por Pilar del Río, presidenta da Fundação Saramago e viúva do escritor morto em 2010, na sede da instituição, depois de conversarem com a reportagem e gravarem uma edição especial para a televisão portuguesa. “A definição de ‘arquipélago-escritor’ cabe neste autor, porque Saramago escreveu romances, poesia, teatro, crônicas, era um grande cronista e um blogger”, lembra Miguel Real, biógrafo de Saramago, que junto a Filomena Oliveira assina o livro “As 7 Vidas de José Saramago” (Cia das Letras, 2022). “Essas são as ilhas do arquipélago Saramago”, diz.
“Por outro lado, é também um arquipélago no nível das ideias”, argumenta Real. “Ele escreve sobre a morte, a injustiça social, a música, em “As Intermitências da Morte”, as utopias, as distopias, a igualdade, a desigualdade, a pobreza”, recorda. “E também sobre a democracia, sobre o risco de não votarmos, a caverna do consumismo desenfreado, na verdade todos os problemas dos cidadãos contemporâneos que somos, no tempo que vivemos”, completa a biógrafa Filomena Oliveira. “Seu último romance inacabado sobre a guerra, “Alabardas, Alabardas” (2014), coloca essa questão essencial de saber por que nunca houve uma única greve nas fábricas de armamentos”, lembra.
"Ele se declarava no final da vida como ‘comunista libertário’. Seu estilo era esse arejamento de ideais. Mas ele disse, várias vezes, ‘não confundo política com literatura’”, disse. “O Saramago nunca aceitou essa ideia Leninista de ‘literatura de partido’. Meu partido não esta autorizado a me dizer como devo escrever, ele dizia”, sublinha Real. “O Saramago sempre teve uma grande simpatia pelo Brasil. Todos os portugueses têm... Não no sentido patriarcal, de considerar que o Brasil é filho de Portugal, isso já está ultrapassado, mas no sentido de considerar que o Brasil é o futuro de Portugal, ou, melhor dito, o futuro da língua portuguesa”, acrescenta o biógrafo.
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